Uberaba, 18 mai (RV) - O pensador espanhol Unamuno - que nem sempre sabia
se ele próprio era socialista, católico, protestante ou agnóstico – teve uma afirmação
genial. Ao ler os conteúdos teológicos da Eucaristia, concluiu que se ela não existisse,
deveríamos inventá-la. Tal é sua sublimidade e genialidade. De fato, ela é o “pão
da unidade”, como nos demonstra o Congresso Eucarístico de Brasília. Distingue-se
admiravelmente de todos os outros alimentos. Se alguém se alimenta de arroz, seus
nutrientes são assimilados pelo organismo de quem se alimenta. É como dizia o excelente
teólogo alemão, Wilfried Hagemann, essa comida se transforma em Hagemann. Os biólogos
gostam de chamar a esse processo de intussuscepção (incorporação). Mas já Santo Agostinho
nos advertia que, ao comermos o pão eucarístico, nós nos transformamos em Cristo.
Isso é, acontece o contrário. O comungante é incorporado na pessoa divina de Jesus.
O Mestre, sem rodeios, dizia: “Quem comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51).
Somos assimilados na herança do Salvador.
O grandioso da Eucaristia não termina
aqui. A partir do momento em que somos sempre mais identificados com Cristo, começa
outro capítulo. Agora é que se entra nas finalidades derradeiras do sacramento. Eu
posso me alimentar do “verdadeiro pão do céu” (Jo 6, 32), para ter um momento íntimo
com meu Mestre. É tão bonito esse momento, que ninguém deveria tirar fotografia nossa,
enquanto estamos adorando o Senhor. Seria devassar a intimidade, enquanto fazemos
nossos pedidos, adorando-o, e lhe agradecendo. Também esse é o momento para nos sentirmos
Igreja, relacionados com nossos irmãos, nossa comunidade. Isso fez Santo Tomás dizer
que esta é uma das grandes finalidades do “sublime sacramento”. Mas existe um outro
grande tesouro, muito escondido. O comungante, a partir deste momento, pode se tornar
“pão da vida” (Jo 6, 35) para os outros. Pela prática da caridade, ele alimenta a
unidade entre as demais pessoas do mundo. Mesmo que os outros não recebam o corpo
do Senhor, recebem esse alimento pela nossa bondade. Esta é a segunda distribuição
do Corpo de Cristo. Realiza-se o que o Senhor previu: “Hoje a salvação entrou nesta
casa” (Lc 19, 9).
Dom Aloísio Roque Oppermann scj Arcebispo de Uberaba,
MG.