Brasília, 13 mai (RV) - A Assembleia da CNBB aprovou ontem uma Mensagem sobre
as Comunidades Eclesiais de Base e outra sobre a Palavra de Deus, tema central do
encontro.
Os bispos aprovaram também na última sessão que o texto “Igreja
e Questão Agrária no início do século XXI” seja transformado num documento de estudo,
integrando a chamada “Coleção Verde”. Não se trata de um documento da CNBB, mas um
texto que será enviado para as comunidades a fim de que seja estudado, podendo voltar
a ser debatido em outra Assembleia e, eventualmente, ser transformado num documento
oficial da Conferência dos Bispos.
Hoje, último dia do encontro, a Presidência
da CNBB atende à imprensa e faz um balanço da reunião que durou dez dias. À noite,
os bispos participam da missa de abertura do XVI Congresso Eucarístico Nacional.
Leia
a íntegra da Mensagem Mensagem dos Bispos do Brasil sobre a Palavra de Deus e a
Animação Bíblica de toda a Pastoral
"Dias virão em que o povo sentirá fome
da Palavra (cf. Am 8,11)
Na 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, aprofundamos o tema da Palavra de Deus na Igreja. Enquanto aguardamos
com muito carinho a Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Bento XVI, orientados
pela mensagem do Sínodo, com as ricas contribuições de toda a Igreja sobre este tema,
convidamos todas as comunidades a acolher este grande dom e a preparar o ânimo para
uma recepção mais viva da Palavra de Deus. Assim, a Igreja no Brasil poderá ser, nesta
mudança de época, anunciadora corajosa das riquezas da Palavra em estado permanente
de missão em toda a sua ação evangelizadora.
No Prólogo do evangelho de São
João, encontramos o anúncio que ilumina a vida do mundo inteiro: “No princípio era
a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus... e a Palavra se
fez carne” (Jo 1, 1.14). A Palavra se torna um de nós e pode ser vista, tem um nome
e um rosto: é Jesus Cristo. Depois de percorrer as estradas da Palestina, encontrando
todo tipo de pessoas e fazendo o bem, a Palavra feita carne se manifesta de forma
mais eminente no Mistério Pascal. É o amor do Pai que, na glorificação do Filho, chega
até nós pela força do Espírito.
Do lado aberto de Jesus nasce a Igreja, que,
guiada pelo Espírito, começa a colocar por escrito a Palavra revelada, que não se
esgota nos textos sagrados, mas continua no rio de vida que é a Tradição. Isso aconteceu,
também, no Antigo Testamento quando a experiência da salvação deu origem, já no povo
de Israel, aos textos sagrados. A Palavra, portanto, germina na vida da Igreja e é
autenticamente interpretada por meio do Magistério do sucessor de Pedro e dos bispos
em comunhão com ele. Esta Palavra, que é vida, continua viva nas comunidades cristãs.
Exortamos os discípulos e as discípulas de Jesus do nosso tempo a se deixarem
alcançar pela palavra de seu Mestre. Como aos primeiros, lá na Palestina, Ele lhes
dirigiu o olhar e a palavra (cf. Mt 4,18-22). Eles, ao ouvirem sua palavra, acolheram
sua Pessoa: seguiram-no. Foi um começo. Muitas vezes, depois, tiveram que renovar
os motivos para o seguimento. Naquelas situações, a Palavra do Senhor não lhes faltava:
escutavam-no. Deixavam-se ensinar por Ele. E os discípulos amadureciam no seguimento
e nos seus vínculos pessoais com o Senhor. Esta palavra continua viva na história
e chegou até nós, na terra de Santa Cruz.
Louvemos a Deus por tudo o que se
fez e se faz em nosso Brasil por meio do trabalho evangelizador com a Bíblia, desde
o “movimento bíblico” já antes do Concílio Vaticano II, e com ele, e a partir dele,
com a rica “pastoral bíblica”. A nossa Igreja no Brasil tornou-se mais atenta em acolher
a Revelação do Senhor, mais animada em encontrar-se com a Palavra viva, que é Jesus
Cristo, e mais profética e misericordiosa em servir a todos, especialmente aos mais
fracos. Deus suscita em nosso povo uma grande fome e sede da Palavra, uma grande
procura e desejo de conhecer, viver e anunciar a mensagem da Sagrada Escritura. Este
encantamento pela Palavra é um apelo para que, em nossas dioceses, paróquias e comunidades
se ofereça e se facilite o acesso à Bíblia, ao estudo bíblico e a vivência da mensagem
revelada.
Em continuidade com tudo que já se realiza, somos convidados a dar
um novo passo. Trata-se de compreender que a Palavra de Deus é a alma de toda a ação
evangelizadora da Igreja. Propõe-se uma verdadeira “Animação Bíblica da Pastoral”.
Assim a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura suscita, forma e acompanha a
vocação e a missão de cada discípulo missionário de Jesus Cristo e orienta as ações
organizadas da Igreja. Dessa forma, além de ser “alma da teologia” (DV 24), a Palavra
de Deus torna-se também a “alma da ação evangelizadora da Igreja” (DP 372; DAp 248).
Quando
falamos da “Animação Bíblica da Pastoral”, propomos conhecer e assimilar mais a Revelação
de Deus, em ter, mediante sua Palavra, um encontro pessoal e comunitário com o Senhor
e sermos corajosos missionários do Reino de Deus. Por isso a “Animação Bíblica da
Pastoral” deve tornar-se um verdadeiro aprendizado, por meio de um caminho de conhecimento
e interpretação da Sagrada Escritura, caminho de comunhão e oração com o Senhor e
caminho de evangelização e anúncio da Palavra de Deus, esperança para o nosso mundo
(cf. DAp 248). É hora, pois, de uma formação bíblica mais intensa, profunda, sistemática
e corajosa; de um contínuo e fascinante contato com a Palavra de Deus, que é Jesus
Cristo; de uma forte e vibrante ação evangelizadora a partir da Palavra de Deus.
Com
a Bíblia na mão, a Palavra de Deus no coração e com os pés na missão, somos convocados
à prática da Leitura Orante. Feita com todo empenho em nível pessoal e comunitário,
ela vai nos educar na fé proporcionando uma catequese bíblica, que forma discípulos
apaixonados por Jesus Cristo. Ela nos leva a celebrar a esperança na liturgia, que
dispõe para plena comunhão com Deus, que se realiza na Eucaristia. Ela, enfim, fortalece-nos
na missão de anunciar a Palavra a todos os povos por meio de uma caridade criativa.
Quando pessoas e comunidades são transformadas pela Palavra, multiplicam-se na Igreja
e na sociedade frutos de amor, solidariedade, justiça e paz.
Convidamos todas
as Igrejas particulares, com suas pastorais, movimentos, organismos, associações,
novas comunidades, círculos bíblicos, grupos de família e outras expressões comunitárias,
a fazer um verdadeiro mutirão de Leitura Orante em seus diversos métodos, entre os
quais se destaca a Lectio Divina.
Deixemo-nos cativar pela Palavra. Ela faz
arder nossos corações, abrir nossas mãos e torna velozes os nossos pés na missão.
Maria, modelo perfeito de acolhida e de seguimento da Palavra nos acompanhe na escuta
orante e na dedicação generosa ao anúncio da Palavra a partir do testemunho da nossa
vida.
Brasília, 12 de maio de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha Arcebispo
de Mariana Presidente da CNBB Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de
Janeiro Secretário-Geral da CNBB