O grande abraço da cidade de Lisboa ao Papa (terça-feira, 11)
O grande abraço da cidade de Lisboa ao Papa foi dado esta tarde , com a celebração
da Santa Missa no Terreiro do Paço. No Cais das Colunas foi instalado o altar, uma
estrutura oval, cuja forma se baseou nos seixos rolados do Tejo, em tons de branco
e azul e que após a visita papal será completamente reutilizado.
No trajecto
da Nunciatura apostólica para o Terreiro do Paço, Bento XVI passou pela Praça do
Município onde saudou as pessoas doentes e com dificuldades de locomoção que aí estavam
concentradas ( cerca de 1.500). Ainda no exterior, recebeu os cumprimentos do presidente
da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, que lhe entregou as chaves da cidade,
distinção aprovada por unanimidade pela edilidade. Até agora apenas atribuída ao presidente
da Comissão Europeia, Durão Barroso, ao atleta Carlos Lopes e ao escritor José Saramago,
a Chave de Honra da Cidade é um galardão municipal destinado a distinguir personalidades,
instituições ou organizações portuguesas ou estrangeiras.
Uma onda de aplauso
assinalou o momento em que a delegação do Benfica entregou ao Papa a sua oferta (uma
águia de ouro e uma camisola Bento 16 assinada pelos jogadores). Domingo passado o
Benfica sagrou-se campeão nacional desta temporada.
A Missa presidida
por Bento XVI contou com a presença de cerca de 150 mil pessoas. A acompanhar as
duzentas vozes de vários coros de Lisboa e também de vários convidados de grupos da
Gulbenkian e da Orquestra Metropolitana de Lisboa esteve um grupo de cordas e metais
que deram vida à Palavra cantada.
Os paramentos de cor branca – em tom de
pérola foram confeccionados pelo Centro Social Paroquial de Sacavém. As vestes usadas
na missa desta tarde no Terreiro do Paço vão ficar no Patriarcado de Lisboa, à excepção
das mitras e das casulas, que serão oferecidas respectivamente aos bispos e padres.
Da
Madeira vieram as dez mil flores que compunham o tapete que cobria o chão que Bento
XVI atravessou no Terreiro do Paço . "Neste momento tão difícil para a Madeira depois
da terrível inundação do Inverno passado, esta foi uma forma de os madeirenses agradecerem
ao Continente, ao mundo e à Igreja, o apoio à reconstrução da ilha".
Na
saudação de boas-vindas que dirigiu a Bento XVI, no início da missa o Cardeal Patriarca
de Lisboa afirmou que “a maioria católica não tira o lugar a ninguém”, sublinhando
que a cidade se distingue pela hospitalidade aos imigrantes não cristãos. Interrompido
por aplausos nesta passagem, D. José Policarpo acrescentou: “Também os acolhemos com
amor, aprendemos a respeitar a sua fé, a conviver no diálogo e a descobrir valores
que temos em comum”.
“Estamos reunidos num dos locais mais belos da nossa
cidade, em que esta se debruça sobre o rio que a atrai para o oceano infinito. Os
habitantes de Lisboa nascem e morrem envolvidos por esta beleza e atraídos pelo infinito”,
referiu o Cardeal Patriarca. Depois de recordar que o povo português “sempre teve
um grande amor ao Papa, manifestado mesmo nas épocas mais conturbadas da nossa História”,
D. José Policarpo sublinhou que a presença de Bento XVI “é um convite a aprofundar
e a tornar mais radical” a fidelidade da Igreja.
Após a saudação, o Papa
recebeu das mãos de D. José Policarpo uma relíquia de São Vicente, padroeiro principal
de Lisboa, oferta que nas palavras do prelado significa o desejo da diocese de “servir”
e a sua “determinação” de ser fiel, “custe o que custar”, à imagem da vida do patrono
que morreu a testemunhar a fé cristã.
D. José Policarpo afirmou que a presença
de Bento XVI é uma “graça muito especial” e agradeceu-lhe a possibilidade de proferir
palavras que ajudam “a abrir a inteligência e o coração à profundidade e à beleza
do mistério”. Nesta ocasião o Papa ofereceu um cálice, como recordação desta sua
Viagem Apostólica.
Na homilia Bento XVI admitiu que a Igreja tem “filhos
insubmissos e até rebeldes”, mas assegurou que “nenhuma força adversa poderá jamais
destruir a Igreja”. “A nossa fé tem fundamento, mas é preciso que esta fé se torne
vida em cada um de nós”, disse o Papa. O Papa admitiu que se colocou “uma confiança
talvez excessiva nas estruturas e programas eclesiais, na distribuição de poderes
e funções”. “É preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte
e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa
fé, alavanca poderosa das nossas certezas”, disse aos fiéis presentes.
E
para concluir uma referencia á visita do Papa ao Presidente da Republica no Palácio
Presidência de Belém, efectuada esta tarde pouco depois da chegada a Lisboa. Bento
XVI deixou uma mensagem no Livro de Honra felicitando o país no centenário da República
e deixando a sua bênção ao país inteiro, “rico em humanidade e cristianismo”. O Papa
escreveu a mensagem na Sala das Bicas.
Antes, Bento XVI tinha estado com o
Presidente da República e mulher, tendo sido feita a fotografia oficial. Uma outra
fotografia foi tirada com a família de Cavaco Silva, com o Presidente da República
a apresentar ao Papa os seus filhos, genro, nora e netos. Na Sala Dourada Cavaco Silva
apresentou os membros da Casa Civil e Militar, tendo o Papa sublinhado a importância
do seu trabalho como contributo para “uma sociedade mais justa e um futuro melhor
para todos”. Na Sala Verde, Bento XVI apresentou o séquito papal, tendo o Papa e Cavaco
Silva passado depois à Sala dos Embaixadores, onde decorreu a troca de presentes.
O Papa ofereceu a Cavaco Silva um mosaico com uma imagem da Praça de São Pedro, inspirada
num quadro do século XIX. Por sua vez, o Presidente da República ofereceu uma imagem
de Santo António em porcelana e uma edição em português e em latim dos sermões do
padroeiro de Lisboa.
De Portugal, para a Rádio Vaticano, António
Pinheiro (11.5.10)