PAPA DURANTE VOO A PORTUGAL: MAIOR PERSEGUIÇÃO CONTRA IGREJA VEM DE SEUS PRÓPRIOS
PECADOS
Cidade do Vaticano, 11 mai (RV) - A relação entre secularização e fé, a crise
econômica e as suas influências na Europa, o sentido da peregrinação em Fátima, com
uma reflexão sobre as feridas mais recentes sofridas pela Igreja, como a ferida dos
abusos sexuais – que encontram ressonância na própria mensagem de Fátima. Foram os
temas abordados esta manhã por Bento XVI no encontro com os 65 jornalistas a bordo
do avião que levou o Papa e comitiva a Portugal.
Referindo-se, em particular,
à questão dos abusos cometidos pelo clero, o Santo Padre afirmou que "as maiores perseguições"
contra a Igreja hoje vêm não de fora, mas "dos pecados" dentro dela.
As palavras
do Pontífice ecoaram de modo claro e incisivo a bordo do Airbus A320 Alitalia,
lotado de jornalistas como sempre ansiosos para ouvir as primeiras considerações do
Papa no início de uma viagem apostólica.
A terceira pergunta dos jornalistas
foi concernente a um dos pontos nevrálgicos: é possível colher na Mensagem de Fátima,
além daquilo que disse respeito a João Paulo II e ao atentado sofrido, também o sentido
dos sofrimentos vividos hoje pela Igreja, fortemente atingida pelos episódios dos
abusos sexuais contra menores?
A resposta de Bento XVI foi contundente: aquilo
que se pode descobrir de novo na Mensagem de Fátima é que nela se vê – disse – a "paixão"
que a Igreja vive que "se reflete na pessoa do Papa":
"Os ataques ao Papa e
à Igreja vêm não somente de fora, os sofrimentos da Igreja vêm justamente de dentro
dela, do pecado que existe nela. Embora isso tenha sido sempre sabido, hoje o sabemos
de modo realmente terrificante: que a maior perseguição contra a Igreja não vem de
fora, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, precisa profundamente
reaprender a penitência, aceitar a purificação, aprender novamente, de um lado o perdão,
mas também a necessidade da justiça. O perdão não substitui a justiça."
Dito
isso – reiterou o Pontífice – devemos recordar que "o Senhor é mais forte do que o
mal, e que Nossa Senhora é para nós garantia visível, materna, da bondade de Deus,
que sempre é a última palavra na história".
Precedentemente, Bento XVI respondera
a uma pergunta sobre a realidade de secularização de Portugal, país no passado profundamente
católico.
Em primeiro lugar, o Santo Padre reconheceu a presença, ao longo
dos séculos, de uma "fé corajosa, inteligente e criativa", testemunhada pela nação
lusitana também em muitas partes do mundo, como no Brasil. Embora notando que "a dialética
entre fé e secularismo em Portugal" tem "uma longa história", todavia – observou –
não faltaram pessoas intencionadas a "criar pontes", a "criar um diálogo" entre as
duas posições. Uma missão que jamais conheceu o seu ocaso e é ainda hoje atual:
"Penso
que justamente a tarefa, a missão da Europa nesta situação, é encontrar este diálogo,
integrar fé e racionalidade moderna numa única visão antropológica que completa o
ser humano e se torna assim também comunicável às culturas humanas. A presença do
secularismo é uma coisa normal, mas a separação, a contraposição entre secularismo
e cultura da fé, é anômala e deve ser superada. O grande desafio deste momento é que
os dois se encontrem, de modo que encontrem a sua verdadeira identidade. É uma missão
da Europa e uma necessidade humana nesta nossa história."
O Santo Padre respondeu
também a uma pergunta sobre a crise econômica que colocaria em risco, segundo alguns,
a própria estabilidade da Europa comunitária. Partindo da Doutrina Social da Igreja,
que convida o positivismo econômico a entrar em diálogo com uma visão ética da economia,
o Papa recordou que a fé católica muitas vezes, no passado, deixou as questões econômicas
para o mundo, pensando somente "na salvação individual". E concluiu:
"Toda
a tradição da Doutrina Social da Igreja se coloca no sentido de estender o aspecto
ético e da fé, para além do indivíduo, à responsabilidade do mundo, a uma racionalidade
moldada pela ética. E, por outro lado, os últimos eventos no mercado nestes últimos
dois-três anos demonstraram que a dimensão ética é interna e deve entrar no agir econômico
(...) somente assim, a Europa realiza a sua missão." (RL)