Brasília, 05 mai (RV) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou carta
para os bispos reunidos desde ontem em Brasília para a 48ª Assembleia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na mensagem, Lula destaca a importância do apoio
da Igreja Católica para seus oito anos de mandato e encerra a mensagem pedindo que
“o povo brasileiro tenha a luz e a sabedoria para fazer sua escolha quanto à nossa
sucessão”.
Leia a íntegra da carta de Lula aos bispos:
Brasília,
30 de abril de 2010
A S. Excia. Revma. Dom Geraldo Lyrio DD. Presidente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Meu Prezado Dom Geraldo,
Neste
momento em que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil realiza em Brasília sua
Assembleia Geral, tomo a liberdade de lhe enviar minha fraterna saudação, com o pedido
de que esta mensagem seja comunicada aos Eminentes Senhores Cardeais, aos Senhores
Arcebispos, Bispos, Sacerdotes, Religiosos e Religiosas, bem como a todos que compõem
e participam desta grande Assembleia.
Antes de mais nada, quero cumprimentar
a direção da CNBB pela iniciativa de realizar em Brasília, que comemora seus cinqüenta
anos, tanto sua Assembleia Geral como o XVI Congresso Eucarístico Nacional. Esses
dois eventos, além de honrarem e dignificarem a comemoração dos cinqüenta anos da
Capital do País, certamente, por sua densidade espiritual, nos ajudarão na superação
da grave crise política e ética que se abate tristemente sobre esta Cidade.
Como
o Senhor deve se lembrar, tive a honra de visitar, em meu primeiro ano de Governo,
a Assembleia Geral da CNBB que se realizava em Itaici; agora, esta Assembleia que
se inicia coincide com meu último ano de Governo. Neste momento, Dom Geraldo, minha
primeira palavra é de agradecimento pelo diálogo e pela convivência franca e fraterna
que tivemos ao longo desses quase 8 anos. O apoio da Igreja Católica em suas instâncias
nacional, regionais e locais foi fundamental para que pudéssemos realizar e implementar
as políticas sociais nestes dois mandatos. Tenho consciência de quanto são importantes
os convênios com as entidades religiosas para que as políticas sociais aconteçam de
fato em todo o País e em toda sua capilaridade junto ao povo mais pobre e excluído.
Ao mesmo tempo, as críticas e os embates, em temas específicos, que vivenciamos com
maturidade nos ajudaram a corrigir erros e limitações. As divergências e posições
diferenciadas que tomamos não afastaram em nenhum momento nossa vontade de diálogo
e mútua contribuição.
Nosso Governo, Dom Geraldo, procurou nestes anos pautar-se
pelo necessário equilíbrio entre sua definição como Governo de um Estado laico, e,
ao mesmo tempo, desenvolver uma política de intenso diálogo com as diferentes Igrejas
e Religiões. Tenho consciência dos desafios que esta posição implica, por se tratar
muitas vezes de um debate entre diferentes culturas, sensibilidades e concepções éticas.
No entanto, não abrimos mão deste relacionamento franco e foi nesta perspectiva que
debatemos e levamos a bom termo nosso Acordo firmado e ratificado com a Santa Sé.
Entendemos que este Acordo se constitui num avanço da institucionalização de nossas
relações, dando maior segurança para a atuação da Igreja Católica em nosso País.
Mas
sem dúvida, a questão que mais nos aproxima e identifica é o cuidado para com este
grande contingente de brasileiros que ao longo da história foi mantido à margem da
cidadania em seus mínimos direitos. Para mim, dom Geraldo, esta é a questão central
da grande discussão, tão atual, em torno dos Direitos Humanos. Tenho consciência,
Dom Geraldo que o Estado e o Governo estão em dívida com amplos setores da sociedade
brasileira. E neste aspecto, sei muito bem que muito ainda resta a fazer, e um longo
caminho a percorrer até que este País se constitua de fato numa verdadeira Nação e
seus filhos tenham sua dignidade respeitada, e assegurado seu direito à participação
verdadeiramente democrática em todos os sentidos.
Por outro lado, Dom Geraldo,
confesso para o Senhor que o que mais me orgulha quando revejo estes longos anos de
trabalho, é a constatação de que efetiva e concretamente conseguimos reduzir a fome,
a miséria e a exclusão de nosso Povo ... e aí os números não mentem. Minha maior alegria
nestes tempos consiste em observar os dados que efetivamente demonstram a redução
das taxas da exclusão. Porque sabemos todos que atrás de cada número se escondem milhares
de seres humanos que começam a realimentar sua esperança de vida digna. Da mesma forma
bem sei que esses resultados foram fruto de escolhas claras e definidas que desagradaram
a alguns, mas que acenderam uma nova luz no coração de nossa gente. Não me iludo nem
me envaideço com os índices de popularidade. Mas eles servem para demonstrar simplesmente
que nosso povo está se sentindo cada vez mais participante deste banquete antes restrito
a minorias. E quero lhe reafirmar que a Igreja Católica, assim como outras entidades
religiosas, tem uma importante participação neste processo. Seja por sua participação
direta nas ações sociais, seja por seu posicionamento cobrando e exigindo políticas
de atenção aos excluídos, assim como pela formação de muitas lideranças sociais que
hoje são responsáveis por importantes processos de mobilização da sociedade brasileira.
Neste
momento, Dom Geraldo, quero agradecer muito a Deus por tudo o que aconteceu nestes
anos. Tenho para comigo mesmo que as bênçãos de Deus e de Nossa Senhora Aparecida,
cujo Santuário pretendo visitar em ato de gratidão antes do fim deste mandato, foram
essenciais para que chegássemos até aqui. E peço suas orações e de todos os Senhores
Bispos para que sigamos nesta missão até o último dia deste mandato e que o Povo brasileiro
tenha a luz e a sabedoria para fazer sua escolha quanto à nossa sucessão.
Desejo
muitas luzes para esta Assembleia que se inicia e cujos resultados sem dúvida tem
enorme importância para nosso povo. Um forte e fraterno abraço.
Luiz Inácio
Lula da Silva Presidente da República Federativa do Brasil (CM)