Igreja precisa de exemplaridade:dignidade da pessoa humana, subsidiariedade
e complementaridade entre fé e razão são os fundamentos da Europa para Bento XVI
(4/5/2010) “Não basta pregar os princípios, não basta saber os valores. O Papa vem
exigir exemplaridade”, declarou Adriano Moreira no colóquio «O Pensamento de Bento
XVI», que decorre esta Segunda-feira em Lisboa. No segundo painel do encontro,
denominado “A Europa. Os seus fundamentos hoje e amanhã”, que retomou o título de
uma das obras do então Cardeal Joseph Ratzinger, o presidente da Academia das Ciências
de Lisboa sublinhou que o Papa exige um comportamento modelar da parte da economia,
do Estado e da Igreja. “A exemplaridade é a única coisa que rompe a sociedade do
espectáculo”, sublinhou José Pacheco Pereira, que classificou Bento XVI como “um dos
grandes intelectuais europeus”, cujo pensamento passou praticamente desapercebido
até à sua eleição para Papa. Depois de qualificar o preâmbulo da Constituição da
União Europeia de “má história, má filosofia e má política”, o antigo deputado do
Parlamento Europeu frisou que a obra do Papa “tenta dialogar com os problemas dos
outros”. O deputado referiu que o Papa manifesta “empatia pelas razões que fazem
o outro pensar de determinada razão” e “é dos autores que menos anátemas tem no seu
pensamento”. A dignidade da pessoa humana, a subsidiariedade e a complementaridade
entre fé e razão são, no entender de Guilherme d’Oliveira Martins, os fundamentos
da Europa para Bento XVI. O presidente do Centro Nacional de Cultura considera
que o “princípio da subsidiariedade” é “absolutamente essencial” para o Papa por garantir
a autonomia pessoal, a liberdade e a entreajuda, ao mesmo tempo que assegura a resolução
em instâncias nacionais e mundiais de problemas que só podem ser solucionados numa
perspectiva global. De acordo com Guilherme d’Oliveira Martins, o Bento XVI insiste
na separação entre Igreja e Estado, originalidade que provém da recusa de Jesus em
assumir qualquer projecto de liderança política, e valoriza a noção de laicidade:
“não se trata de um projecto de poder”, mas uma abordagem “aberta e dialógica” que
envolve “a fé e a razão”. Segundo o presidente do Tribunal de Contas, “as razões
fundamentais da esperança devem ocorrer a partir da ideia de que a Europa pode e deve
funcionar como semente” e prefiguração da família humana Para Carlos Gaspar, o
livro de Bento XVI é um apelo aos cristãos para que sejam uma minoria criativa pronta
a mudar o curso da História. (Em Ecclesia)