Turim, 02 mai (RV) – Bento XVI presidiu, esta manhã, a celebração eucarística
na Praça São Carlos, em Turim, norte da Itália, por ocasião de sua visita ao Santo
Sudário.
Segue a homilia do Santo Padre com a tradução livre de Raimundo Lima.
Caros
irmãos e irmãs!
Tenho a alegria de encontrar-me com vocês neste dia de festa
e de celebrar para vocês esta solene Eucaristia. Saúdo cada um dos presentes, em particular,
o Pastor da Arquidiocese de vocês, o Cardeal Severino Poletto, a quem agradeço pelas
calorosas expressões a mim dirigidas em nome de todos. Saúdo também os Arcebispos
e os Bispos presentes, os Sacerdotes, os Religiosos e as Religiosas, os representantes
das Associações e dos Movimentos eclesiais. Dirijo um deferente pensamento ao Prefeito,
Dr. Sergio Chiamparino, grato pela cortês saudação que me fez, ao representante do
Governo e às Autoridades civis e militares, com um particular agradecimento àqueles
que generosamente ofereceram a sua colaboração para a realização desta minha Visita
pastoral. Estendo o meu pensamento àqueles que não puderam estar presentes, de modo
especial aos doentes, às pessoas sozinhas e àqueles que se encontram em dificuldade.
Confio ao Senhor a cidade de Turim e todos os seus habitantes nesta celebração eucarística,
que, como todos os domingos, nos convidam a participarmos de modo comunitário da dúplice
refeição da Palavra de verdade e do Pão de vida eterna.
Encontramo-nos no tempo
pascal, que é o tempo da glorificação de Jesus. O Evangelho que ouvimos há pouco nos
recorda que essa glorificação se realizou mediante a paixão. No mistério pascal paixão
e glorificação estão estreitamente ligadas entre si, formam uma unidade indivisível.
Jesus afirma: <>
(Jo 13, 31) e o faz quando Judas sai do Cenáculo para colocar em prática o plano de
sua traição, que levará à morte do Mestre: justamente naquele momento tem início a
glorificação de Jesus. O evangelista João o faz compreender claramente: de fato, não
diz que Jesus foi glorificado somente após a sua paixão, por meio da ressurreição,
mas mostra que a sua glorificação teve início justamente com a paixão. Nela Jesus
manifesta a sua glória, que é a glória do amor, que se doa totalmente. Ele amou o
Pai, fazendo a sua vontade até o fim, com uma doação perfeita; amou a humanidade dando
a sua vida por nós. Desse modo já em sua paixão é glorificado, e Deus é glorificado
nela. Mas a paixão é somente um início. Por isso Jesus afirma que a sua glorificação
será também futura (cfr v. 32). Depois, o Senhor, no momento em que anuncia a sua
partida deste mundo (cfr v. 33), quase como testamento a seus discípulos para continuar
de modo novo a sua presença em nosso meio, dá-lhes um mandamento: <>
(v. 34). Se nos amamos uns aos outros, Jesus continua presente em nosso meio.
Jesus
fala de um "mandamento novo". Mas qual é a sua novidade? Já no Antigo Testamento Deus
havia dado o mandamento do amor; agora, porém, este mandamento tornou-se novo, enquanto
Jesus lhe traz um acréscimo muito importante: <>. O que é novo é justamente este "amar como Jesus amou". O Antigo
Testamento não apresentava nenhum modelo de amor, mas formulava somente o preceito
de amar. Jesus, ao invés, deu-nos a si mesmo como modelo e fonte de amor. Trata-se
de um amor sem limites, universal, capaz de transformar também todas as circunstâncias
negativas e todos os obstáculos em ocasiões para progredir no amor.
Nos séculos
passados a Igreja que está em Turim conheceu uma rica tradição de santidade e de generoso
serviço aos irmãos – como recordou o Cardeal Arcebispo e o Senhor Prefeito – graças
à obra de zelosos sacerdotes, religiosos e religiosas de vida ativa e contemplativa
e de fiéis leigos. As palavras de Jesus adquirem, então, uma ressonância particular
para esta Igreja, uma Igreja generosa e ativa, a começar por seus padres. Dando-nos
o mandamento novo, Jesus nos pede que vivamos o seu amor, que é o sinal verdadeiro
crível, eloquente e eficaz para anunciar ao mundo a vinda do Reino de Deus. Obviamente
somente com as nossas forças somos fracos e limitados. Há sempre em nós uma resistência
ao amor e em nossa existência há tantas dificuldades que provocam divisões, ressentimentos
e rancores. Mas o Senhor prometeu-nos estar presente em nossa vida, tornando-nos capazes
deste amor generoso e total, que sabe vencer todos os obstáculos. Se estivermos unidos
a Cristo, poderemos amar verdadeiramente deste modo. Amar os outros como Jesus nos
amou é possível somente com aquela força que nos é comunicada na relação com Ele,
especialmente na Eucaristia, em que o seu Sacrifício de amor que gera amor se torna
presente de modo real.
Gostaria de dizer, então, uma palavra de encorajamento
em particular aos Sacerdotes e aos Diáconos desta Igreja, bem como aos Religiosos
e às religiosas, que se dedicam com generosidade ao trabalho pastoral. Por vezes,
ser operário na vinha do Senhor pode ser cansativo, os compromissos se multiplicam,
as exigências são muitas, os problemas não faltam: saibam obter diariamente da relação
de amor com Deus na oração, a força para portar o anúncio profético de salvação; centralizem
a existência de vocês no essencial do Evangelho; cultivem uma real dimensão de comunhão
e de fraternidade dentro do presbitério, de suas comunidades, nas relações com o Povo
de Deus; testemunhem no ministério o poder do amor que vem do Alto.
A primeira
leitura que escutamos apresenta-nos, justamente, um modo particular de glorificação
de Jesus: o apóstolo e os seus frutos. Paulo e Barnabé, ao término de sua primeira
viagem apostólica, retornam às cidades já visitadas e reanimam os discípulos, exortando-os
a permanecerem firmes na fé, porque, como dizem eles, <> (At 14, 22). A vida cristã, caros irmãos e irmãs,
não é fácil; sei que também em Turim não faltam dificuldades, problemas, preocupações:
penso, em particular, naqueles que vivem concretamente a sua existência em condições
de precariedade, por causa da falta de trabalho, da incerteza pelo futuro, pelo sofrimento
físico e moral; penso nas famílias, nos jovens, nas pessoas anciãs que muitas vezes
vivem a solidão, nos marginalizados, nos imigrantes. Sim, a vida leva a enfrentar
muitas dificuldades, muitos problemas, mas é justamente a certeza que nos vem da fé,
a certeza de que não estamos sozinhos, de que Deus ama cada um sem distinção e se
faz próximo a cada um com o seu amor, que torna possível enfrentar, viver e superar
a fadiga dos problemas cotidianos. Foi o amor universal de Cristo ressuscitado a impelir
os apóstolos a saírem de si mesmos, a difundirem a palavra de Deus, a se dedicarem
sem reservas aos outros, com coragem, alegria e serenidade. O Ressuscitado tem uma
força de amor que supera todo limite, não se detém diante de nenhum obstáculo. E a
comunidade cristã, especialmente nas realidades pastorais mais exigentes, deve ser
instrumento concreto deste amor de Deus.
Exorto as famílias a viverem a dimensão
cristã do amor nas simples ações cotidianas, nas relações familiares superando divisões
e incompreensões, ao cultivar a fé que torna a comunhão ainda mais sólida. Também
no rico e variado mundo da Universidade e da cultura não falte o testemunho do amor
de que fala o Evangelho de hoje, na capacidade da escuta atenta e do diálogo humilde
na busca da Verdade, certos de que a própria Verdade vem ao nosso encontro e nos alcança.
Desejo também encorajar o esforço, muitas vezes difícil, de quem é chamado a administrar
a coisa pública: a colaboração para buscar o bem comum e tornar a Cidade sempre mais
humana e vivível é um sinal que o pensamento cristão sobre o homem jamais é contra
a sua liberdade, mas a favor de uma maior plenitude que somente numa "civilização
do amor" encontra a sua realização. A todos, particularmente aos jovens, quero dizer
que jamais percam a esperança, aquela esperança que vem do Cristo Ressuscitado, da
vitória de Deus sobre o pecado e sobre a morte.
A segunda leitura nos mostra
justamente o êxito final da Ressurreição de Jesus: é a nova Jerusalém, a cidade santa,
que desce do céu, de Deus, pronta como uma esposa se adorna para o seu esposo (cfr
Ap 21, 2). Aquele que foi crucificado, que partilhou o nosso sofrimento, como nos
recorda também, de modo eloqüente, o Santo Sudário, é aquele que ressuscitou e nos
quer reunir todos em seu amor. Trata-se de uma esperança estupenda, "forte", sólida,
porque, como diz o Apocalipse: <<(Deus) enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois
nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas
antigas se foram>> (21, 4). O Santo Sudário não comunica, por acaso, a mesma mensagem?
Nele vemos, como refletidos, os nossos sofrimentos nos sofrimentos de Cristo: "Passio
Christi. Passio hominis". Justamente por isso é um sinal de esperança: Cristo enfrentou
a cruz para colocar um limite ao mal; para fazer-nos entrever, na sua Páscoa, a antecipação
daquele momento em que também para nós, toda lágrima será enxugada e não haverá mais
morte, nem luto, nem lamento, nem fadiga.
O trecho do Apocalipse conclui-se
com a afirmação: <> (21, 5). A primeira coisa absolutamente nova realizada por Deus
foi a ressurreição de Jesus, a sua glorificação celeste. Ela é início de toda uma
série de "coisas novas", às quais participamos também nós. "Coisas novas" são um modo
repleto de alegria, em que não há mais sofrimentos e opressões, não há mais rancor
e ódio, mas somente o amor que vem de Deus e que transforma tudo.
Cara Igreja
que está em Turim, vim até vocês para confirmá-los na fé. Desejo exortá-los, com veemência
e com afeto, a permanecerem firmes naquela fé que vocês receberam e que dá sentido
à vida; a jamais perderem a luz da esperança no Cristo Ressuscitado, que é capaz de
transformar a realidade e tornar novas todas as coisas; a viverem na cidade, nos bairros,
nas comunidades, nas famílias, de modo simples e concreto o amor de Deus: "Como eu
vos amei, amai-vos também uns aos outros". Amém.