2010-05-02 19:34:26

BENTO XVI AOS ENFERMOS: "CRISTO ASSUME A PAIXÃO DO HOMEM"


Turim, 02 mai (RV) – Segue o discurso do Papa Bento XVI aos enfermos na Pequena Casa da Divina Providência, Cotolengo de Turim, com a tradução livre de Rafael D'Aqui. (RD)


Senhor Cardeal,
Caros irmãos e irmãs!

Desejo expressar a vocês todos a minha alegria e o meu reconhecimento ao Senhor que me trouxe até vocês, neste lugar, onde em tantos modos e segundo um carisma particular se manifestam a caridade e a Providência do Pai Celeste. É um encontro, o nosso, que se afina muito bem com minha peregrinação ao Santo Sudário, no qual podemos ler todo o drama do sofrimento, mas também, à luz da Ressurreição de Cristo, o pleno significado que esse assume para a redenção do mundo. Agradeço ao Padre Aldo Sarotto pelas significativas palavras que me dirigiu: através dele o meu agradecimento se estende a todos que trabalham neste lugar, a Pequena Casa da Divina Providência, como a quis chamar são José Benedito Cotolengo. Saúdo com reconhecimento as três famílias religiosas nascidas do coração do Cotolengo e da “criatividade” do Espírito Santo. Agradeço a todos vocês, queridos enfermos, que são o tesouro precioso desta casa e desta Obra.

Como creio vocês sabem, durante a Audiência Geral de quarta-feira passada, junto à figura de São Leonardo Murialdo, apresentei também o carisma e a obra do Fundador de vocês. Sim, ele foi um verdadeiro campeão da caridade, de quem as iniciativas, como árvores exuberantes, estão diante de nossos olhos e sob o olhar do mundo. Relendo os testemunhos da época, vemos que não foi fácil para o Cotolengo começar seu trabalho. As muitas atividades de assistência presentes no território a favor dos mais necessitados não eram suficientes para sanar a chaga da pobreza, que afligia a cidade de Turim. O Cotolengo procurou dar uma resposta a essa situação, acolhendo as pessoas em dificuldade e privilegiando aquelas que não eram recebidas e cuidadas por outros. O primeiro núcleo da Casa da Divina Providência não teve vida fácil e não durou muito. Em 1832, no bairro de Valdocco, veio à luz uma nova estrutura, ajudada também por algumas famílias religiosas.

O Cotolengo, ainda que atravessando em sua vida momentos dramáticos, manteve sempre uma serena confiança diante dos eventos; atento para colher os sinais da paternidade de Deus, reconheceu, em todas as situação, a sua presença e a sua misericórdia , nos pobres, a imagem mais amável de sua grandeza. Guiava-lhe uma convicção profunda: “Os pobres são Jesus – dizia – não são uma sua imagem. São Jesus em pessoa e assim há que servir-lhes. Todos os pobres são os nossos patrões, mas aqueles que ao olhar humano são rejeitáveis são mais do que nossos patrões, são nossas pedras preciosas. Se não os tratamos bem, nos mandam embora da Pequena Casa. Eles são Jesus”. São José Benedito Cotolengo sentiu que devia comprometer-se com Deus e com o homem, movido no fundo do coração pela palavra do apóstolo Paulo: A caridade de Cristo nos impulsiona (cfr 2Cor 5,14). Ele quis traduzi-la em total dedicação ao serviço dos menores e esquecidos. Princípio fundamental de sua obra foi, desde o início, o exercício para com todos da caridade cristã, que lhe permitia reconhecer em cada homem, mesmo se à margem da sociedade, uma grande dignidade. Ele havia compreendido que quem é tocado pelo sofrimento e pela rejeição tende a se fechar e se isolar e a manifestar desconfiança com relação à própria vida. Por isso, ocupar-se de tantos sofrimentos humanos significava, para o nosso Santo, criar relações de proximidade afetiva, familiar e espontânea, dando vida a estruturas que pudessem favorecer esta aproximação, com um estilo de família que continua ainda hoje.

Resgate da dignidade pessoal para São José Benedito Cotolengo queria dizer restabelecimento e valorização de todo o humano: das necessidades fundamentais psicossociais até aquelas morais e espirituais, da reabilitação das funções físicas até a busca de um sentido para a vida, levando a pessoa a se sentir ainda parte viva da comunidade eclesial e do tecido social. Somos gratos a este grande apóstolo da caridade, porque visitando estes lugares, encontrando o sofrimento quotidiano nos rostos e nos membros de tantos nossos irmãos acolhidos aqui como em suas casas, fazemos experiência do valor e do significado mais profundo do sofrimento e da dor.

Caros enfermos, vocês realizam uma obra importante: vivendo os seus sofrimentos em união com Cristo crucificado e ressuscitado, participam do mistério de seu sofrimento para a salvação do mundo. Oferecendo a nossa dor a Deus por meio de Cristo, podemos colaborar na vitória do bem sobre o mal, porque Deus torna fecunda a nossa oferta, o nosso ato de amor. Caros irmãos e irmãs, todos vocês que estão aqui, cada um por conta própria: não se sintam estranhos ao destino do mundo, mas sintam-se parte preciosa de um belíssimo mosaico que Deus, como grande artista, vai formando dia-após-dia também através da contribuição de vocês. Cristo, que morreu na Cruz para nos salvar, deixou-se pregar nela, porque daquele madeiro, daquele sinal de morte, pudesse florir a vida em todo o seu esplendor. Esta Casa é um dos frutos maduros nascidos da Cruz e da Ressurreição de Cristo, e revela que o sofrimento, o mal, a morte não têm a última palavra, porque da morte e do sofrimento a vida pode ressurgir. Foi o que testemunhou de modo exemplar, um de vocês, que gostaria de recordar: o venerável irmão Luigi Bordino, estupenda figura de religioso enfermeiro.

Neste lugar, então, compreendemos melhor que, se a paixão do homem é assumida por Cristo em sua Paixão, nada se perde. A mensagem dessa solene exposição do Sudário “Passio Christi – Passio hominis”, aqui se compreende em modo particular. Oremos ao Senhor crucificado e ressuscitado para que ilumine a nossa peregrinação quotidiana com a luz de seu Rosto; ilumine a nossa vida, o presente e o futuro, a dor e a alegria, o cansaço e a esperança de toda a humanidade. A todos vocês, caros irmãos e irmãs, invocando a intercessão da Virgem Maria e de S. José Benedito Cotolengo, dou de coração a minha Benção: lhes conforte e console nas provas e lhes dê toda graça que vem de Deus, autor e doador de todo dom perfeito.







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