BENTO XVI AOS ENFERMOS: "CRISTO ASSUME A PAIXÃO DO HOMEM"
Turim, 02 mai (RV) – Segue o discurso do Papa Bento XVI aos enfermos na Pequena
Casa da Divina Providência, Cotolengo de Turim, com a tradução livre de Rafael D'Aqui.
(RD)
Senhor Cardeal, Caros irmãos e irmãs!
Desejo expressar a
vocês todos a minha alegria e o meu reconhecimento ao Senhor que me trouxe até vocês,
neste lugar, onde em tantos modos e segundo um carisma particular se manifestam a
caridade e a Providência do Pai Celeste. É um encontro, o nosso, que se afina muito
bem com minha peregrinação ao Santo Sudário, no qual podemos ler todo o drama do sofrimento,
mas também, à luz da Ressurreição de Cristo, o pleno significado que esse assume para
a redenção do mundo. Agradeço ao Padre Aldo Sarotto pelas significativas palavras
que me dirigiu: através dele o meu agradecimento se estende a todos que trabalham
neste lugar, a Pequena Casa da Divina Providência, como a quis chamar são José Benedito
Cotolengo. Saúdo com reconhecimento as três famílias religiosas nascidas do coração
do Cotolengo e da “criatividade” do Espírito Santo. Agradeço a todos vocês, queridos
enfermos, que são o tesouro precioso desta casa e desta Obra.
Como creio vocês
sabem, durante a Audiência Geral de quarta-feira passada, junto à figura de São Leonardo
Murialdo, apresentei também o carisma e a obra do Fundador de vocês. Sim, ele foi
um verdadeiro campeão da caridade, de quem as iniciativas, como árvores exuberantes,
estão diante de nossos olhos e sob o olhar do mundo. Relendo os testemunhos da época,
vemos que não foi fácil para o Cotolengo começar seu trabalho. As muitas atividades
de assistência presentes no território a favor dos mais necessitados não eram suficientes
para sanar a chaga da pobreza, que afligia a cidade de Turim. O Cotolengo procurou
dar uma resposta a essa situação, acolhendo as pessoas em dificuldade e privilegiando
aquelas que não eram recebidas e cuidadas por outros. O primeiro núcleo da Casa da
Divina Providência não teve vida fácil e não durou muito. Em 1832, no bairro de Valdocco,
veio à luz uma nova estrutura, ajudada também por algumas famílias religiosas.
O
Cotolengo, ainda que atravessando em sua vida momentos dramáticos, manteve sempre
uma serena confiança diante dos eventos; atento para colher os sinais da paternidade
de Deus, reconheceu, em todas as situação, a sua presença e a sua misericórdia , nos
pobres, a imagem mais amável de sua grandeza. Guiava-lhe uma convicção profunda: “Os
pobres são Jesus – dizia – não são uma sua imagem. São Jesus em pessoa e assim há
que servir-lhes. Todos os pobres são os nossos patrões, mas aqueles que ao olhar humano
são rejeitáveis são mais do que nossos patrões, são nossas pedras preciosas. Se não
os tratamos bem, nos mandam embora da Pequena Casa. Eles são Jesus”. São José Benedito
Cotolengo sentiu que devia comprometer-se com Deus e com o homem, movido no fundo
do coração pela palavra do apóstolo Paulo: A caridade de Cristo nos impulsiona (cfr
2Cor 5,14). Ele quis traduzi-la em total dedicação ao serviço dos menores e esquecidos.
Princípio fundamental de sua obra foi, desde o início, o exercício para com todos
da caridade cristã, que lhe permitia reconhecer em cada homem, mesmo se à margem da
sociedade, uma grande dignidade. Ele havia compreendido que quem é tocado pelo sofrimento
e pela rejeição tende a se fechar e se isolar e a manifestar desconfiança com relação
à própria vida. Por isso, ocupar-se de tantos sofrimentos humanos significava, para
o nosso Santo, criar relações de proximidade afetiva, familiar e espontânea, dando
vida a estruturas que pudessem favorecer esta aproximação, com um estilo de família
que continua ainda hoje.
Resgate da dignidade pessoal para São José Benedito
Cotolengo queria dizer restabelecimento e valorização de todo o humano: das necessidades
fundamentais psicossociais até aquelas morais e espirituais, da reabilitação das funções
físicas até a busca de um sentido para a vida, levando a pessoa a se sentir ainda
parte viva da comunidade eclesial e do tecido social. Somos gratos a este grande apóstolo
da caridade, porque visitando estes lugares, encontrando o sofrimento quotidiano nos
rostos e nos membros de tantos nossos irmãos acolhidos aqui como em suas casas, fazemos
experiência do valor e do significado mais profundo do sofrimento e da dor.
Caros
enfermos, vocês realizam uma obra importante: vivendo os seus sofrimentos em união
com Cristo crucificado e ressuscitado, participam do mistério de seu sofrimento para
a salvação do mundo. Oferecendo a nossa dor a Deus por meio de Cristo, podemos colaborar
na vitória do bem sobre o mal, porque Deus torna fecunda a nossa oferta, o nosso ato
de amor. Caros irmãos e irmãs, todos vocês que estão aqui, cada um por conta própria:
não se sintam estranhos ao destino do mundo, mas sintam-se parte preciosa de um belíssimo
mosaico que Deus, como grande artista, vai formando dia-após-dia também através da
contribuição de vocês. Cristo, que morreu na Cruz para nos salvar, deixou-se pregar
nela, porque daquele madeiro, daquele sinal de morte, pudesse florir a vida em todo
o seu esplendor. Esta Casa é um dos frutos maduros nascidos da Cruz e da Ressurreição
de Cristo, e revela que o sofrimento, o mal, a morte não têm a última palavra, porque
da morte e do sofrimento a vida pode ressurgir. Foi o que testemunhou de modo exemplar,
um de vocês, que gostaria de recordar: o venerável irmão Luigi Bordino, estupenda
figura de religioso enfermeiro.
Neste lugar, então, compreendemos melhor que,
se a paixão do homem é assumida por Cristo em sua Paixão, nada se perde. A mensagem
dessa solene exposição do Sudário “Passio Christi – Passio hominis”, aqui se compreende
em modo particular. Oremos ao Senhor crucificado e ressuscitado para que ilumine a
nossa peregrinação quotidiana com a luz de seu Rosto; ilumine a nossa vida, o presente
e o futuro, a dor e a alegria, o cansaço e a esperança de toda a humanidade. A todos
vocês, caros irmãos e irmãs, invocando a intercessão da Virgem Maria e de S. José
Benedito Cotolengo, dou de coração a minha Benção: lhes conforte e console nas provas
e lhes dê toda graça que vem de Deus, autor e doador de todo dom perfeito.