Belém, 29 abr (RV) - Integrantes do Comitê Dorothy Stang e bispo da Prelazia
do Xingu, Dom Erwin Krautler, concederam uma coletiva de imprensa, ontem, na sede
do Regional Norte 2, sobre a expectativa do julgamento do fazendeiro Regivaldo Pereira
Galvão como mandante do assassinato da freira norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro
de 2005. O julgamento está marcado para amanhã, em Belém.
"Sem dúvida, Dorothy
não foi morta por um acontecimento qualquer. Ela foi morta porque defendeu os direitos
dos menos favorecidos. Espero que se chegue à justiça porque o processo já está passando
do tempo. Foram cinco anos e ainda não chegamos à conclusão" – diz Dom Erwin Krautler.
O
bispo também relembrou a trajetória da missionária em Anapu. "Eu recebi Dorothy Stang
em 1972. Ela entrou na prelazia e eu já era bispo de lá, e eu a enterrei. Todo esse
espaço de tempo que ela levou no Xingu eu a acompanhei, inclusive quando estava em
Altamira, ela sempre morava em casa. Conheci muito bem Dorothy, ela sempre contou
com meu apoio. Eu a considero uma mártir por uma causa que ela defendeu em nome do
Evangelho" – disse Dom Erwin Krautler.
Para o irmão da missionária, David Stang,
que mais uma vez está em Belém para acompanhar o processo, a expectativa é pela condenação
do acusado. "Estamos animados e acreditamos que o assassinato de nossa irmã foi mandado
por Regivaldo, acreditamos que ele é sim o autor intelectual do crime. Confiamos que
o sistema judiciário do Pará vá condenar o acusado por esse crime. Esperamos justiça." Irmã
Jane Dwaer, da Congregação Notre Dame de Namur, aproveitou para apresentar cópias
da denúncia feita pelo Ministério Público Federal de Altamira, em março deste ano,
acusando Regivaldo Galvão de grilagem de terras e tentativa de estelionato.
O
advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Batista Afonso, destacou que a
condenação de Regivaldo representa um passo importante no combate à violência e à
impunidade no campo no Pará. De acordo com Batista, no Pará 62% dos crimes agrários
nas últimas décadas sequer foram investigados e o único mandante condenado cumprindo
pena preso é Vitalmiro Bastos de Moura, conforme dados da CPT Pará.
O mais
recente levantamento feito pela entidade aponta o Pará como o primeiro no ranking
da violência no campo. Em 2009, foram registrados 08 assassinatos, 266 conflitos e
101 ocorrências de violência envolvendo despejos, expulsões e destruição de bens das
famílias. O Pará é também o Estado com a maior quantidade de terras griladas.
O
Comitê Dorothy promete mobilizações em frente ao Tribunal de Justiça do Pará no dia
do julgamento. A partir das 7h30, integrantes do Comitê devem participar de um ato
inter-religioso antes do início do júri.
Entre as batalhas de Ir. Dorothy,
estava também a hidrelétrica de Belo Monte, como recorda Dom Erwin Krautler, entrevistado
por Cristiane Murray: (BF-Regional Norte
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