Fortaleza, 25 abr (RV) - Sinto-me no dever de dizer uma palavrinha bem breve
sobre um assunto muito importante. Como padre e como cristão, também eu sou envolvido
nessa enxurrada de comentários e notícias sobre casos de “pedofilia” que envolvem
sacerdotes, meus irmãos de ministério. Acho que todo mundo, de uma forma ou de
outra, tenta se defender ou defender a Igreja, ou atacar a mídia… etc. Bom, eu poderia
aqui fazer a mesma coisa, mas não me sinto motivado a isso. Queria só partilhar
que para nós padres isso é particularmente difícil, pois facilmente se toma a parte
pelo todo. Na hora de “descobrir os podres” se faz com muita facilidade generalizações
e condenações de todo tipo. Talvez seja pelo fato de que a Igreja, fiel ao Evangelho
apesar da fraqueza de seus membros, ataca aquilo que a sociedade anti-cristã defende
como valor atualmente: aborto, eutanásia, divórcio… só para citar alguns; e defende
com muito ardor outros valores que a mesma sociedade expurga: castidade, fidelidade
no matrimônio, celibato dos sacerdotes, dentre tantos outros. Portanto, quando
se pode arranjar um motivo para “se vingar” dessa Igreja que incomoda com suas denúncias
dos contra-valores e defesa da Verdade do Evangelho, se faz com todo gosto e alarde. Não
quero com isso defender ou desculpar os erros, nem o Papa o faz. Ninguém no seu juízo
perfeito o faria. Mas quero partilhar que é, no mínimo, desagradável. É a imagem sagrada
dos homens consagrados a Deus e, pelo Espírito Santo, configurados a Cristo para agir
em Seu Nome no anúncio do Evangelho e na administração dos sacramentos e das coisas
sagradas, que é manchada. Eu faço parte dessa classe (se é que posso chamar assim…),
sou sacerdote, procuro ser fiel a Deus desde a minha juventude e quero ser fiel até
o fim de minha vida. Milhares de outros sacerdotes procuram viver o que eu estou dizendo,
milhares são muito mais santos do que eu. A maioria. Se desgastam nas missões difíceis,
com recursos muitas vezes insuficientes ou não condizentes com sua formação. Tantos
que dão a vida aos pobres nos hospitais, asilos, favelas, terras de missão. Outros
vivem em perigo de morte constante em países muçulmanos ou de intolerância religiosa.
Vidas consumidas por amor ao povo, em santa castidade no celibato. Qual a mídia que
vai contabilizar esses números? Quem vai fazer reportagem sobre eles? Não vale a pena,
não dá IBOPE. É irmãos, é duro. É triste. Choramos os pecados dos nossos irmãos
e sentimo-nos também nós machucados, com o dedo da humanidade apontado para o nosso
rosto em acusação. Bendito seja Deus. Até no seu grupo houve um Judas. Mas não
vamos desanimar. Ele, nosso Senhor, não nos prometeu vida fácil, não nos garantiu
“imunidade parlamentar”, muito pelo contrário, nos ofereceu a Cruz pois o discípulo
não pode ser maior do que o seu Senhor. Que o Senhor nos ajude, a todos nós, a
sermos cada dia mais transparente imagem do Cristo Senhor para o mundo.