Navegar sem medo no mar aberto da comunicação digital, exercendo a caridade na verdade,
com atenção à pessoa: Bento XVI ao Congresso "Testemunhas digitais". Recordado o início,
há cinco anos, do seu ministério petrino
“O amor pela verdade constitui um grande desafio para a Igreja num mundo em progressiva
e difusa globalização” – lembrou Bento XVI dirigindo-se neste sábado aos participantes
num Congresso nacional sobre “Testemunhas digitais”, promovido pela Conferência Episcopal
Italiana. Em tempos de comunicação inter-activa mas em que podem ser cancelados os
rostos, o Papa advertiu para a necessidade de não perder a percepção da profundidade
da pessoa, de cada pessoa.
Bento XVI começou por observar que o tempo em que
vivemos conhece um enorme alargar-se das fronteiras da comunicação, fazendo convergir
os diversos media e tornando possível a inter-actividade. “A rede manifesta, portanto,
uma vocação aberta, tendencialmente igualitária e pluralista, mas ao mesmo tempo assinala
um novo fosso” entre os que nela estão incluídos e os que dela estão fora.
“Aumentam
também os perigos da homologação e de controle, de relativismo intelectual e moral,
já bem identificáveis na flexão do espírito crítico, na verdade reduzida ao jogo das
opiniões, nas múltiplas formas de degrado e de humilhação íntima da pessoa”.
Perante
uma “poluição do espírito” que leva as pessoas a deixarem de se encarar olhos nos
olhos, este congresso – reconheceu o Papa – “visa precisamente reconhecer os rostos,
superar aquelas dinâmicas colectivas que levam a perder a percepção da profundidade
das pessoas, ficando na mera superfície”.
“Como poderemos voltar hoje aos
rostos?” – interrogou-se Bento XVI, que recordou as pistas apontadas na sua terceira
encíclica: um caminho que “passa por aquela caridade na verdade que brilha no rosto
de Cristo”.
“O amor na verdade constitui para a Igreja um grande desafio,
num mundo em progressiva e difusa globalização. Os mass-media podem tornar-se em factores
de humanização, não só quando, graças ao desenvolvimento tecnológico, oferecem maiores
possibilidades de comunicação e informação, mas sobretudo quando estão organizados
e orientados à luz de uma imagem da pessoa e do bem comum que respeitam as suas valências
universais”.
Para tal, hão-de promover a dignidade das pessoas e dos povos,
serem expressamente animados pela caridade e colocados ao serviço da verdade, do bem
e da fraternidade natural e sobrenatural”. Dito isto, há que avançar sem receio neste
novo “mar digital” – encorajou o Papa:
“Queremos avançar sem receios ao largo
do mar digital, enfrentando a navegação que ali se abre com a mesma paixão que desde
há dois mil governa a barca da Igreja”.
“Mais do que pelos recursos técnicos
– aliás necessários – queremos distinguir-nos habitando este universo com um coração
crente, que contribua para dar uma alma ao ininterrupto fluxo comunicativo da rede”
– insistiu o Papa.
“É esta a nossa missão, a missão irrenunciável da Igreja:
a tarefa de cada crente no meios de comunicação é a de “abrir o caminho a novos encontros,
assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas
verdadeiras necessidades espirituais”
Trata-se – concluiu o Papa – de oferecer
aos homens que vivem este tempo digital os sinais necessários para reconhecerem
o Senhor”.