Cidade do Vaticano, 25 abr (RV) - A descrição que nos oferece o Evangelho de
João sobre Jesus como o Bom Pastor pretende afirmar que a promessa de Deus, anunciada
pelo profeta Ezequiel se cumpre em Jesus. Em Ez 34,1-10, o profeta anuncia a palavra
de Deus contra os pastores mercenários. Na comparação do profeta, pastores são também
as autoridades políticas, o rebanho é o povo, que pertence exclusivamente a Deus.
A função do pastor é cuidar do rebanho em todos os sentidos, principalmente defendê-lo
diante dos lobos. O que acontece, porém? Muitas autoridades políticas, em vez de cuidarem
do povo, preocupam-se unicamente com seus próprios interesses; em vez de servirem
ao povo, elas o usam em proveito próprio; em vez de defenderem o rebanho, elas o entregam
aos inimigos. Na visão do profeta, a ruína da nação é culpa das autoridades que a
governam. Será que não podemos atualizar com a recente tragédia do Rio de Janeiro
e de Niterói? Jesus declara: “Eu sou o bom pastor”, isto é, aquele que liberta
o povo para uma vida em abundância. A expressão “eu sou” remonta ao texto do livro
do Êxodo, no qual Deus se deu a conhecer a Moisés na época da libertação da escravidão
no Egito. A relação de Jesus com as ovelhas é uma relação de reciprocidade: as
ovelhas escutam a voz do pastor. “Eu mesmo irei buscar as minhas ovelhas e as reunirei”.
É Ele quem dá a sua vida pelas ovelhas, uma por uma, Ele as chama pelo nome. A comunhão
se concretiza pelo seguimento. Somos o seu rebanho. A nossa resposta é que faz a diferença
para o pastor. Àqueles que seguem o pastor, lhes será dada a vida eterna. Ele não
é como os pastores mercenários, é o pastor que conhece suas ovelhas e que dá a vida. Jesus
é a porta para a vida. Ele chama. Ele espera, mas cada um de nós é que deve caminhar
e transpor essa porta. Jesus é o pastor, as ovelhas são os discípulos e o povo,
que o ouvem e o seguem. Os homens reconhecem a Jesus como o enviado de Deus porque
Ele salva e conduz à vida. Ele veio para dar vida aos homens. Ele dá a vida eterna
que já se concretiza na fé o único salvador e mediador para a vida. E sua missão
é universal: “Tenho outras ovelhas que não são deste redil, também a estas devo conduzir
e elas escutarão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.” Este projeto
de libertação continua hoje no mundo, através de pessoas engajadas que estendem ao
infinito as fronteiras da fé e adesão a esse pastor. Quem se compromete sofre tribulações,
como Ele sofreu, mas a certeza de que ninguém poderá tirar nada de sua mão fortalece,
dando esperança e coragem. No mundo caótico em que vivemos, cheio de muitos pastores
mercenários, que só querem levar vantagem, cheio de lobos ávidos de poder, força e
“status”, cabe ao cristão, seguidor de Cristo, ser a verdadeira ovelha do Bom Pastor
e participar com Ele da busca, da orientação, do cuidado para que se realize o que
Ele preconizou: “haverá um só rebanho e um só pastor”. Na família, no bairro, na
comunidade, nos acontecimentos da nação e do mundo, podemos agir de acordo com os
ditames do nosso Bom Pastor, trazendo para o nosso “redil” aqueles que, por qualquer
motivo estejam afastados. Ele virá recolher o seu imenso rebanho e o levará para a
plenitude da vida eterna. E que, neste domingo do Bom Pastor, vamos pedir santas vocações
para a vida ministerial, religiosa e consagrada e, mais do que isso, rezar pelo Papa
Bento XVI, a quem reafirmamos ser o “Pedro de hoje” no mundo em que vivemos, amém!