PAPA NAS EXÉQUIAS DO CARDEAL ŠPIDLÍK: UM HOMEM LIVRE QUE VIVEU COM TODO CORAÇÃO AMIZADE
COM CRISTO
Cidade do Vaticano, 20 abr (RV) - Uma vida inteira vivida segundo o mandamento
do amor: Bento XVI traçou com essas palavras o caminho terreno do Cardeal Tomáš Špidlík,
cujas exéquias foram celebradas na manhã desta terça-feira na Basílica Vaticana.
Ao
término da missa celebrada pelo Decano do Colégio cardinalício, Cardeal Angelo Sodano,
o Papa pronunciou a homilia e presidiu os ritos exequiais da Última Encomendação e
despedida. O Santo Padre ressaltou a semelhança entre o purpurado tcheco falecido
sexta-feira passada, dia 16, e João Paulo II.
"Durante toda a vida busquei
a face de Jesus, e agora me encontro feliz e sereno porque estou para encontrá-lo":
essas palavras foram uma das últimas pronunciadas pelo Cardeal Špidlík, recordou Bento
XVI, acrescentando que esse é um pensamento "simples" e "maravilhoso".
O Papa
ressaltou a correspondência entre o desejo do homem de ver a face do Senhor, e de
Jesus que pede ao Pai que faça de modo que os homens estejam com ele.
Trata-se
de "uma espécie de abraço seguro, forte e doce" rumo à vida eterna – frisou o Pontífice:
"Penso
que os grandes homens de fé vivem imersos nesta graça, têm o dom de perceber esta
verdade com particular intensidade, e assim podem atravessar também duras provações,
como as atravessou Pe. Tomás Špidlík, sem perder a confiança e, aliás, conservando
um forte sentido do humorismo, que é certamente um sinal de inteligência, mas também
de liberdade interior."
Nesse aspecto, "era evidente a semelhança" entre o
Cardeal Tomáš Špidlík e Karol Wojtyla:
"Ambos tinham um forte sentido do humorismo,
mesmo tendo tido na juventude episódios pessoais difíceis e em alguns aspectos semelhantes.
A Providência os fez encontrar-se e colaborar para o bem da Igreja, especialmente
para que ela aprenda a respirar plenamente "com os seus dois pulmões", como amava
dizer o Papa eslavo."
"Essa liberdade de espírito tem o seu fundamento objetivo
na Ressurreição de Cristo", observou o Santo Padre. E reiterou que "a esperança e
a alegria de Jesus Ressuscitado são também a esperança e a alegria de seus amigos,
graças à ação do Espírito Santo":
"É o que demonstrava habitualmente Padre
Špidlík com o seu modo de viver, e esse seu testemunho se tornava sempre mais eloquente
com o passar dos anos, porque, apesar da idade avançada e dos inevitáveis achaques,
o seu espírito permanecia viçoso e juvenil. O que é isso a não ser amizade com o Senhor
Ressuscitado?"
"Ex toto corde", "Com todo o coração". Em seguida, o Papa dirigiu
seu pensamento ao lema presente no brasão do Cardeal Špidlík:
"Escolhendo esse
lema, o nosso venerado Irmão, por assim dizer, colocava a sua vida no mandamento do
amor, a inscrevia totalmente no primado de Deus e da caridade."
"O homem que
acolhe plenamente, ex toto corde, o amor de Deus, acolhe a luz e a vida, e
torna-se, por sua vez, luz e vida na humanidade e no universo" – disse ainda. "Mas
quem é esse homem? Quem é esse coração do mundo a não ser Jesus Cristo?" "Ele é a
Luz e a Vida" – ressaltou Bento XVI.
O Santo Padre recordou que o Cardeal Špidlík
era membro da Companhia de Jesus, "isto é, um filho espiritual de Santo Ignácio, o
Santo que coloca no centro da fé e da espiritualidade a contemplação de Deus no mistério
de Cristo". Nesse símbolo do coração, "Oriente e Ocidente se encontram" – acrescentou.
O
Pontífice concluiu a homilia com uma invocação à Virgem Maria, a fim de que o purpurado
possa, finalmente, ver a Face do Senhor:
"A Virgem Mãe de Deus acompanhe a
alma do nosso venerado Irmão no abraço da Santíssima Trindade, onde "com todo o coração"
louvará eternamente o seu infinito Amor." (RL)