Cidade do Vaticano, 18 abr (RV) - Nos últimos dias, os bispos brasileiros do
Regional Norte 2, ou seja, do Pará e do Amapá realizaram a sua visita “ad Limina”,
ao Santo Padre e aos organismos da Cúria Romana. Entre os vários compromissos dos
senhores bispos, uma coletiva na Sala Marconi da Rádio Vaticano para falar sobre a
Amazônia. Muitos os jornalistas de meios de comunicação italianos, franceses, ingleses
e norte-americanos. Impressionou a todos as colocações dos senhores bispos e suas
lutas pelos direitos das pessoas que vivem naquela região brasileira, especialmente
a luta pelos que não conseguem fazer com que seus gritos sejam ouvidos por toda a
nação brasileira e, mais ainda, pelo mundo. Por isso, os bispos esperam que esse grito
ressoe na imprensa internacional. Entre os bispos presentes, três ameaçados de
morte por causa das suas denúncias, sendo um deles o bispo que acolheu em sua diocese
Irmã Dorothy Stang, várias vezes ameaçada e, por fim, executada, faz cinco anos. Mas
por que ameaçar aqueles que anunciam o Evangelho de Jesus, que foram escolhidos pelo
Sucessor de Pedro para pastorear aquela parcela da Igreja? Nesse instante vêm aos
nossos ouvidos as palavras de Jesus: “Se perseguiram a mim, também perseguirão vocês!”(Jo
15,20) Mas por que perseguir o Filho de Deus e seus seguidores? Exatamente porque
eles lutam contra o mal, contra o pecado. O mal, o pecado, o não amar a Deus e a seus
irmãos se expressa quando se usa o ser humano, criado à semelhança de Deus, para se
tornar objeto de lucro e de prazer de outro homem, de interesses espúrios. Assim é
a prostituição, principalmente de menores, assim é a busca de vantagens econômicas.
A ecumênica Campanha da Fraternidade deste ano – “Não podeis servir a Deus ao Dinheiro”
- , juntamente com a encíclica de Bento XVI “Caritas in veritate”, alertam e denunciam
essa visão e uso equivocado dos bens deste mundo. Assim nossos bispos - sublinhando
que a Igreja não é contra o progresso, mas sim contra a exploração do homem - alertam
e denunciam a criação da Usina Hidroelétrica de Belo Monte, idealizada no papel para
beneficiar o povo, mas sem a real constatação do enorme malefício que causará a 30.000
pessoas, deixando-as sem casa e sem recursos para sobreviver. Além do mais causará
uma incomensurável destruição ambiental, que afetará não apenas o ecossistema brasileiro,
mas mundial. Outro tema que vem junto com a criação de usinas hidroelétricas é
a questão da pedofilia, da exploração de menores, da prostituição: para se ter idéia
nos últimos 5 anos, segundo uma CPI criada pela Assembléia Legislativa Estadual, foram
feitas 100.000 denúncias, e só no último ano foram 117. De fato, a prostituição, a
exploração sexual está ligada à extrema miséria. Por isso, a construção dessas
hidroelétricas – o projeto contempla a construção de 5 – poderá trazer o progresso
e desenvolvimento mas, paradoxalmente, também ainda mais miséria, fome, prostituição
e perda de qualidade de vida para um povo já cansado de sofrer. (CA)