Brasília, 09 abr (RV) - O Portal do Conselho Indigenista Missionário, CIMI,
traz uma carta do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, que publicamos abaixo:
“Vivemos um momento da história da humanidade em que está em risco o futuro
das mais diversas formas de vida no planeta terra, inclusive do ser humano. A conjugação
simultânea das crises atuais e, especialmente a questão ecológica, tem desencadeado
tragédias de enormes proporções, o que impõe a urgente adoção de medidas que envolvam
a todos.
Preocupa-nos profundamente o impacto desproporcional que as mudanças
climáticas, provocadas pela ação do ser humano no planeta, têm causado nas populações
mais pobres e vulneráveis que vivem permanentemente em áreas e situações de risco.
Estas pessoas que vivem em situações de pobreza têm mostrado grande capacidade
de resistência e de sobrevivência diante do impacto das mudanças do clima sobre suas
vidas e seu sustento. No entanto, estão chegando rapidamente a um limite, a partir
do qual já não mais poderão sequer adaptar-se a novas formas de vida.
Não
bastasse o fato de que as mudanças climáticas afetam a vida do planeta como um todo,
os que menos contribuíram para que chegássemos a tal situação são os que mais sofrem
suas consequências. Os refugiados pelas alterações climáticas já somam a 45 milhões
de pessoas.
Neste sentido, por um lado é crucial que enfrentemos o debate
sobre as alterações climáticas numa perspectiva de desenvolvimento, porém, centrada
nas pessoas, em seus direitos, respeitando e promovendo a equidade e a justiça social.
Por outro lado, para se alcançar uma justiça eficaz, as indústrias poluidoras devem
pagar pelos seus atos e os principais responsáveis pelo aumento das temperaturas mundiais
devem assumir as suas responsabilidades para enfrentar essa ameaça global.
Para
o Brasil, o maior desafio é continuar o desenvolvimento sem aumentar a emissão de
gases de efeito estufa e incluir socialmente grandes segmentos da população sem aumentar
a crise do clima. Coloca-se aí o maior dos impasses: o debate sobre a construção
de outro paradigma de desenvolvimento que seja efetivamente justo, sustentável e responsável
com a natureza e com as futuras gerações.
Fazer este debate significa, de
um lado, ampliar e qualificar a discussão sobre tecnologias e matriz energética realmente
limpa; significa também buscar uma economia de baixa emissão de gases de efeito estufa,
e uma nova racionalidade para o consumo humano, bem como garantir a seguridade e soberania
alimentar e os demais direitos sociais das populações e povos.
Por outro lado,
faz-se necessário a criação de um mecanismo de governança mundial equitativo e transparente
que represente os países pobres e em desenvolvimento e que faça a gestão e o controle
dos fundos para mudanças climáticas. Faz-se necessário construir mecanismos que contribuam
para um modelo de desenvolvimento que tenha como base a agroecologia, uma matriz energética
diversificada e descentralizada e o reconhecimento e valorização das práticas tradicionais
baseadas na convivência entre produção e preservação ambiental. Faz-se necessário
promover a sustentabilidade e dignidade do desenvolvimento humano, especialmente das
populações mais vulneráveis, e a integridade dos processos ecológicos, mediante a
transformação da economia e o fortalecimento da democracia.
Diante da gravidade
das mudanças climáticas, este Fórum propõe:
a) Ampliar o conhecimento
e monitorar os impactos sociais e ambientais das mudanças climáticas e do aquecimento
global, averiguar suas causas e suas consequências, tendo prioritariamente como referência
a sabedoria dos povos tradicionais e a opinião das pessoas que já passam por situações
graves relacionadas ao assunto, bem como os estudos de cientistas do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).
b) Desenvolver ações conjuntas e abrangentes,
para enfrentar os problemas decorrentes do aquecimento e encontrar alternativas de
adaptação para as populações, especialmente as mais pobres que são as mais violentamente
atingidas.
c) Opor-se radicalmente ao projeto de construção da usina de Belo
Monte, no Estado do Pará, considerando ser este empreendimento altamente depredador
da natureza e das populações locais.
d) Reafirmar nossa corresponsabilidade
em relação ao cuidado com a integridade da criação, obra divina, como imperativo da
fé cristã.
Na solidariedade com a Terra crucificada em sua desafiante paixão,
na certeza da força da páscoa da ressurreição, reafirmamos nosso permanente compromisso
em defesa da vida no planeta e do planeta terra”. (CM)