Cidade do México, 06 abr (RV) - Em sua mensagem de Páscoa, o Cardeal Norberto
Rivera Carrera, Arcebispo Primaz do México, ressaltou que os traficantes “não terão
a última palavra na luta empreendida pelo governo federal para conter os flagelos
sociais”.
Ele enfatizou ainda que o país “está se destroçando em uma brutal
e irracional violência, fruto da cobiça, da ânsia de poder, da corrupção sem escrúpulos
e da política carente de sua vocação, que é o serviço à pátria”.
As palavras
de Dom Norberto Carrera têm a ver com a Semana Santa de violência no México: segundo
dados oficiais e informações divulgadas na imprensa local, pelo menos 126 homicídios
ligados ao narcotráfico foram registrados em 12 dos 31 estados do país nos últimos
dias.
110 assassinatos ocorreram nos estados de Tamaulipas e Chihuahua (próximos
à fronteira com os Estados Unidos), México e Morelos (vizinhos ao Distrito Federal).
Na
Semana Santa, coquetéis molotov foram lançados contra uma igreja nas proximidades
de Ciudad Juárez, em Chihuahua. Em Tamaulipas, 13 detentos escaparam da penitenciária
de Reynosa. No mesmo estado, houve lutas entre cartéis e organizações criminosas.
A
propósito da violência decorrente do embate entre os traficantes, o cotidiano ‘Milênio’
opina que estes episódios têm mudado os hábitos de vida dos habitantes locais: “A
população está assustada e as pessoas evitam falar do assunto, com medo de serem ouvidas
por ‘falcões’, como são chamados os informantes dos cartéis, ou por policiais envolvidos
com o crime organizado”.
O jornal ‘La Jornada’ alertou para o fortalecimento
do cartel ‘La Familia’, que atua no estado de Michoacán. A publicação, citada pela
Agência ANSA, denuncia que os membros do grupo criminoso mantêm um sistema de arrecadação
baseado na extorsão de empresários e comerciantes.
Os cartéis disponibilizam
escoltas a prefeitos e funcionários públicos municipais, enquanto policiais informam
os grupos criminosos sobre o andamento de investigações contra eles.
A ANSA
informa que desde dezembro de 2006, quando o Presidente Felipe Calderón mandou às
ruas cerca de 100 mil policiais e militares do Exército e da Marinha para combater
o crime organizado, o número de assassinatos ligados ao tráfico soma quase 20 mil.
Outra agência, a EFE, anuncia hoje que o aumento da violência nos últimos
anos em Ciudad Juárez e em povoados do Vale de Juárez levou centenas de pessoas fugirem
para o Texas (Estados Unidos), e outras regiões do México.
Os povoados de Guadalupe
e Praxedis G. Guerrero, no Vale de Juarez, e vizinhos dos condados texanos de Hudsped
e El Paso, são duas das localidades mexicanas que se viram afetadas pela escalada
de violência atribuída ao crime organizado.
Nesta área, 80 pessoas foram assassinadas
apenas em 2010.
Em Guadalupe, 60 quilômetros ao nordeste de Ciudad Juárez,
com uma população de 4,7 mil habitantes, bandidos do serviço do crime organizado incendiaram
30 casas em menos de um mês.
Nos arredores dos dois povoados, sobre a estrada
Juárez-Porvir, esse fim de semana foi possível observar várias pessoas esperando o
ônibus para fugir da violência do local.
Eles não fogem apenas dos criminosos,
mas também da ação das forças federais, que desde 2008 chegam aos milhares para combater
os cartéis de drogas.
Nas aldeias de Guadalupe e Praxedis um grande número
de policiais municipais renunciou, ficando apenas um militar e quatro na segunda localidade.
O
pároco da Igreja Católica em Guadalupe, Eliseo Ramírez, assinalou que há tensão e
confusão entre as pessoas, assim como um sentimento de desencanto porque as autoridades
praticamente os abandonaram. Por isso muitos se foram – publica o site G1.
O
sacerdote recebeu ontem em seu templo pouco mais de 200 fiéis do povoado que tem quase
cinco mil habitantes, “porque poucos se arriscam a andar na rua” mesmo durante o dia.
“Nem todos vão para o outro lado (EUA), muitos estão retornando a seus lugares de
origem, como os "juarochos", gente que nasceu no estado de Veracruz (Golfo do México)
e que se transferiu há décadas para Ciudad Juárez atraída pelo "boom" da indústria
montadora.
Ciudad Juárez, com 1,5 milhão de habitantes, é a cidade mais violenta
do México, e desde fevereiro, o Governo federal aplica um plano de segurança e de
recomposição do tecido social para salvar o lugar. (CM)