Boa Esperança, 04 abr (RV) - “Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste
sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável, aleluia!”(cf. sl 138, 18.5s)
“Este
é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”(cf. Sl 117). Com
grande alegria, as alegrias eternais, celebramos neste dia santo a Ressurreição do
Divino Salvador. Hoje a terra celebra o evento mais importante de ontem, de hoje e
de sempre, a Ressurreição do Senhor. Dizia anteontem no Sermão do Descendimento
da Cruz que nós não devemos limitar a nossa fé carregando o esquife com um Jesus inerte,
que nada questiona. O que nós precisamos fazer é remover a pedra do Sepulcro e enxergar
o Cristo luminoso e ressuscitado que irrompeu o império da morte e anunciou a vida
eterna, a vida em Deus. Jesus, o autor da vida, nos dá uma nova e eterna vida;
a vida do céu. A morte verdadeira de Jesus continua para todos nós uma doce lição
de encantamento e de amor e não é difícil de entender. Sua ressurreição confirma todas
as suas palavras e ensinamentos, e será sempre um doce mistério, isto é, um fato que
ultrapassa toda a compreensão racional e é apenas apreendido pela fé. A ressurreição
deve ser entendida como ponto fundamental de nossa fé cristã. Fundamental no sentido
estrito da palavra: é fundamento sobre o qual se levantou e levanta-se o edifício
de nossa fé católica e apostólica. Tirado este fundamento, todo o edifício ruiria.
Um Cristianismo não construído sobre a ressurreição seria impossível. A ressurreição
é o único milagre que garante a divindade de Jesus de Nazaré. É a única prova indestrutível
de sua messianidade redentora. Hoje é Páscoa, que significa passagem! Para nós
passagem do pecado para a vida da graça, passagem da morte eterna para a vida em Deus,
a vida plena. O túmulo está vazio! O corpo de um homem pregado numa cruz não está
lá mais. Jesus Ressuscitou para nos salvar ao terceiro dia. Aqueles que procuravam
Jesus entre os mortos não o encontraram, porque Ele havia ressuscitado. Vamos encontrá-Lo
falando com os Apóstolos incrédulos, comendo com eles e mostrando-lhes as mãos e os
pés perfurados pelos cravos. Encontramo-Lo, consolando Maria Madalena angustiada desde
o Calvário. Encontramo-Lo ressuscitado, explicando aos discípulos entristecidos de
Emaús o significado das profecias e de suas próprias palavras. Todos nós hoje devemos
repetir a seqüência da santa Missa que encantou a minha infância e permeia toda a
minha vida: “Cantai, cristãos, afinal: Salve ó vítima pascal! Cordeiro inocente, o
Cristo, abriu-nos do Pai o aprisco!”. Sim, aleluia, hoje e sempre! Porque Jesus
é maior do que a morte e a venceu e, por sua vitória, todos nós viveremos. Aleluia,
porque a Páscoa de hoje é certeza de páscoa eterna! A Páscoa é festa de libertação,
desde os tempos de Moisés. Na páscoa moisaca se celebrava a passagem do povo da escravidão
para a liberdade e a sua caminhada para a Terra Prometida. Agora Jesus veio reescrever
a velha aliança nos dando uma nova e eterna aliança: a passagem do pecado para a graça.
A passagem da morte para a vida eterna. Jesus arrancou com a sua morte a maldade dos
homens e nos transformou em criaturas novas. Ao ressuscitar, Jesus não voltou atrás,
como aconteceu com Lázaro, mas foi além da morte, assumindo uma condição que escapa
à nossa compreensão e à nossa experiência. Esse destino nos espera depois de nossa
morte. A Eucaristia é a celebração plena da morte e ressurreição de Jesus. Doce
e grandioso mistério que nos pavimenta a vida eterna. Assim, todos nós somos convidados
a fazermos a passagem, relembrando Santo Agostinho: “Passar é preciso!” Passar de
onde e para onde? De onde estamos, envoltos em trevas, para a luz da ressurreição;
de onde estamos, amarrados pelo egoísmo, para o amor partilhado; de onde estamos,
cercados de erros que dividem, para o campo da verdade, que acolhe e unifica. Passar
de onde estamos, gananciosos e armados de medo, para a pureza do desapego e da fraternidade;
de onde estamos, abrindo fossos de autoproteção, para as pontes de paz, que facilitam
o encontro; de onde estamos, marcados pelo pecado, para a graça, que é a marca dos
filhos de Deus. A memória de Jesus, na Palavra e na Eucaristia, ensina-nos que
ele vive conosco. Ele é o centro de nossa vida. Temos que relacionar tudo com ele,
enxergar tudo à sua luz, que venceu as trevas, a vida que venceu a morte. Isso é vivenciar
a ressurreição de Cristo em nossa própria vida, procurar as coisas do alto, onde Cristo
está sentado à direita do Pai, conforme nos ensina a segunda leitura de hoje. A nossa
vida velha e abatida morreu, temos uma vida nova escondida lá com ele. Isso transforma
nosso modo de viver. Mesmo se exteriormente andamos envolvidos com as lidas e as lutas
desta sociedade injusta, interiormente já não nos deixamos vencer por ela. Após uns
pequenos três dias, experimentamos a presença daquele que venceu a morte. Por isso,
vamos viver de cabeça erguida, os olhos fixos em nossa verdadeira vida, que está nele.
Se o pecado nos abate, vamos abrir-nos na comunidade, no sacramento. Se a injustiça
nos faz morrer, vamos unir-nos em comunidade em torno a Cristo. Isto é Páscoa, nossa
ressurreição em Cristo. O Senhor Jesus, cujo túmulo hoje foi encontrado vazio,
vida que venceu a morte e os infernos, está vivo aqui conosco. Ele está presente de
modo invisível, na Palavra que ouvimos e meditamos, na pessoa de cada um de nós, na
nossa comunidade orante reunida e no pão consagrado. Refletimos, pois, sobre o
sepulcro vazio, os gestos de amor de Cristo e o testemunho do Cristo ressuscitado.
Portanto, Jesus se fez Páscoa, surge a vida, onde as pedras são retiradas dos sepulcros,
onde se vive a caridade no serviço ao próximo. Estes são os sinais de que Jesus cristo
continua ressuscitando hoje. Eles anunciam a sua ressurreição e suscitam nova vida,
pois retiram todas as barreiras que atentam contra vida. Jesus ressuscitou verdadeiramente,
Aleluia! Aleluia! Aleluia