Cidade do Vaticano, 1° abr (RV) - “Você é Sacerdote para sempre, segundo a
ordem do sacerdócio de Melquisedec”. (Hb 5,6, numa citação ao Antigo Testamento).
“Somente Cristo é o Verdadeiro Sacerdote, os outros são seus ministros”. (Santo Tomás
de Aquino)
O padre recebe o sacramento da ordem mediante a imposição das mãos
sobre a sua cabeça por parte do bispo, que pronuncia a solene oração consecratória.
Com ela, o bispo invoca a Deus para o ordenando a especial efusão do Espírito Santo
e dos seus dons, em vista do ministério.
A unção do Espírito marca o presbítero
com um caráter espiritual indelével, configura-o a Cristo sacerdote e o torna capaz
de agir no Nome de Cristo Cabeça. Sendo cooperador da ordem episcopal, ele é consagrado
para pregar o Evangelho, para celebrar o culto divino, sobretudo a Eucaristia de que
tira força o seu ministério, e para ser o bom pastor dos fiéis.
Mesmo sendo
ordenado para uma missão universal, ele a exerce numa Igreja particular, em fraternidade
sacramental com os outros presbíteros, que formam o “presbitério” e que, em comunhão
com o bispo e em dependência dele, tem a responsabilidade da Igreja particular.
Os
sacerdotes ordenados, no exercício do ministério sagrado, falam e agem, não por autoridade
própria, nem por mandato ou por delegação da comunidade, mas na Pessoa de Cristo Cabeça
e em nome da Igreja. Portanto, o sacerdócio ministerial se diferencia essencialmente
e não apenas por grau, do sacerdócio comum dos fiéis, a serviço do qual Cristo o instituiu.
Estas
afirmações se encontram no Catecismo da Igreja Católica e as colhemos lá para que
fosse uma informação verdadeira e digna de crença e a fim de que, por elas possamos
ver como é difícil e sagrada à missão do padre, principalmente nos dias de hoje.
Antes
do Concílio Vaticano II, mesmo aqueles fiéis mais próximos do sacerdote mantinham
uma certa distância do seu pastor. A missa era celebrada em Latim e o celebrante ficava
de costas para os assistentes. Os fiéis assistiam à missa. Hoje, os fiéis são celebrantes
junto com o padre, que preside a celebração com a participação de todos e que permanece
voltado para o povo durante a celebração.
Tudo bem melhor. Só que o mundo se
modifica a passos muito largos e nem sempre é fácil para o padre acompanhar essas
modificações. Ele está mais perto do povo, trabalha junto com ele, convive com os
seus acertos, mas também convive com os seus erros. E como há erros!
A família
tem sido desvalorizada, há separações nem sempre baseadas no bom senso, há abortos,
há gravidez precoce, há jovens (e velhos!) drogados, há violência e abuso de crianças.
E há toda uma gama de tentações no mundo, que hoje andam soltas. Se para um pai de
família é difícil vencer as tentações, mais difícil ainda é para o padre, que, praticamente,
enfrenta sozinho as situações mais complicadas.
Entretanto, tudo isto é uma
prova de fogo que o padre deve vencer. Ele poderá contar com a ajuda de fiéis engajados,
que exercem também seu sacerdócio comum a todos que desejam trilhar os caminhos traçados
por Cristo, em busca do bem, da paz, do amor e da construção de um mundo novo que
se capacite a participar do Reino do Pai.
E – mais importante ainda – o que
lhe dá força e vigor na sua missão é a efusão do Espírito Santo, que certamente ele
pode invocar sempre. O sacerdote secular, chamado São João Maria Vianney, o santo
Cura d’Ars, é uma prova da ação de Deus na vida de quem o procura, principalmente
na vida dos seus ungidos. Quando seminarista, ele foi até despedido de um seminário
por falta de talento. A duras penas, conseguiu ser ordenado, mas seus superiores não
levavam fé nele. Deram-lhe uma paróquia de 250 habitantes, calculando que menos fiéis
sob seu pastoreio talvez pudesse dar certo. Viveu nesta paróquia por 40 anos, numa
grande humildade. Por três vezes tentou afastar-se de lá, mas os paroquianos não o
permitiram. Tornou-se um grande confessor. Pessoas acorriam de longe para ter o privilégio
de se confessar com ele.
Que Maria Santíssima interceda pelos padres para que,
como o santo Cura d'Ars, eles cumpram com alegria a vontade do Pai, sobretudo nesses
tempos modernos. E que Cristo, que lhes conferiu, através do bispo, a sua árdua tarefa,
os faça imitar os Seus gestos e as Suas atitudes, tão cheios de amor para esse mundo
que festeja triunfalmente a Sua entrada em Jerusalém e, dias depois, O crucifica ao
lado de dois bandidos. E Ele ainda pede ao Pai: "Pai, perdoa-lhes, não sabem o que
fazem."
Nesse sentido quero cumprimentar a todos os presbíteros e bispos, homens
dedicados que gastam a sua vida pelo Reino de Deus, e desejar que a graça do Espírito
Santo ilumine sempre o seu agir sacerdotal na pessoa de Cristo para a santificação
do povo Santo de Deus!
+ Eurico dos Santos Veloso Arcebispo Emérito de
Juiz de Fora (MG)