Bispos portugueses saem em defesa dos seus padres: D. António Marto condena «crimes
hediondos», mas pede confiança, D. Manuel Clemente condena «generalizações» indevidas,
D. José Policarpo apela a um “ministério da alegria” na sociedade contemporânea
(1/4/2010) Vários Bispos portugueses saíram hoje em defesa dos seus padres, condenando
o clima de desconfiança que se vive por causa dos recentes escândalos de pedofilia
envolvendo membros do clero católico em diversos países. A ocasião escolhida foi
a homilia da Missa Crismal, que anualmente reúne o clero de cada Diocese, na manhã
de Quinta-feira Santa. D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima e vice-presidente
da Conferência Episcopal, falou num “momento doloroso” marcado pelo “sofrimento e
a vergonha por crimes hediondos de alguns sacerdotes e a suspeição generalizada resultante
da exploração mediática de tais casos”. “O pecado de alguns não ofusca a abnegação
e a fidelidade de que a imensa maioria dos sacerdotes e religiosos dá prova quotidiana
e que as nossas comunidades testemunham e reconhecem”, atirou. No Porto, D. Manuel
Clemente defendeu a “condição celibatária”, admitindo que “a mentalidade geral parece
contrariá-la, encontrando em graves contrafacções de alguns clérigos o reforço da
sua crítica, como se o celibato sacerdotal fosse inadequado ao ministério e até um
óbice à maturidade pessoal”. O Bispo do Porto mostrou-se seguro de que, com o tempo,
“virá ao de cima a verdade dos factos, decerto mais «verdadeira» do que as generalizações
absolutamente indevidas, que entretanto se propalam, com gritante injustiça”. “A
grande maioria do clero vive de modo sereno e feliz o seu celibato «pelo reino dos
céus», assim participando na própria condição existencial e pastoral de Jesus Cristo,
como Ele a quis viver também”, prosseguiu. O Bispo de Viseu, por seu lado, sublinhou
que “nada justifica a condenação precipitada, superficial e unilateral, a generalização
fácil e injusta ou a marginalização tendenciosa e abusiva”. Numa carta escrita
aos padres da Diocese, D. Ilídio Leandro admite que “a Igreja, enquanto Instituição
temporal e enquanto formada por homens e mulheres, frágeis e sujeitos a quedas e a
pecados, tem muitos limites e imperfeições”. Já na homilia da Missa Crismal, falou
em dias nos quais “a Igreja é vista com tamanha desconfiança e em que todo o mal é
aumentado, generalizado e provocador de escândalos, com um juízo desproporcionadamente
injusto – ainda que o mal seja sempre mal e seja sempre de lamentar e de reparar”. Em
apoio dos seus padres saiu também D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, segundo o qual,
“devido a alguns escândalos lamentáveis cria-se um ambiente de suspeita e de acusação
que pesa sobre todos”. “Embora os acusados sejam raras excepções que não desfazem
a dignidade do sacerdócio, todos carregamos com o pecado da Igreja e da sociedade,
como Cristo carrega com os pecados do mundo”, afirmou. Nestes “momentos conturbados
e agressivos em relação ao clero”, D. Manuel Pelino assegura que “a Igreja aposta
na verdade, pois só a verdade nos torna livres e nos ajuda a praticar a justiça”. Na
Sé de Lisboa, D. José Policarpo apelou a um “ministério da alegria” na sociedade contemporânea. Para
o Cardeal-Patriarca, essa alegria “brota da experiência da reconciliação e do perdão”. “Numa
sociedade de violência e de dificuldade em perdoar, este serviço da Igreja é bálsamo
para tanta dor, semente de transformação progressiva da sociedade, redescoberta da
alegria de viver”, declarou.