2010-04-01 20:20:42

BENTO XVI: NÃO OBSCUREÇAMOS COM DIVISÕES A MISSÃO DE JESUS NO MUNDO


Cidade do Vaticano, 1º abr (RV) - Bento XVI presidiu na tarde desta Quinta-feira Santa, na Basílica de São João de Latrão – sede da Diocese de Roma – a Missa da Ceia do Senhor – na qual se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Essa Missa, na qual se celebra também o tradicional rito do lava-pés, abre o Tríduo Pascal.

Na homilia, o Santo Padre destacou a liturgia desta celebração, partindo da consideração de que no seu Evangelho, São João nos refere – mais amplamente do que os outros três evangelistas e com o seu estilo peculiar – os discursos de despedida de Jesus, que se apresentam quase como o seu testamento e a síntese do núcleo essencial da sua mensagem.

"No início destes discursos aparece o lava-pés – observou – no qual o serviço redentor de Jesus em favor da humanidade necessitada de purificação é resumido num gesto de humildade."

O Santo Padre prosseguiu enfatizando que as palavras de Jesus transformam-se em oração, a sua Oração Sacerdotal: um rezar que antecipa a Paixão e, ao mesmo tempo, a transforma em oração.

Bento XVI destacou algumas afirmações de Jesus contidas nesta página do Evangelho, afirmações que – disse – podem nos introduzir mais profundamente no mistério da Quinta-feira Santa.

A primeira delas é a frase: «É esta a vida eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e Àquele que enviaste, Jesus Cristo» (Jo 17, 3).

"O que vem a ser esta vida verdadeiramente eterna, que a morte não pode lesar?", perguntou-se o Pontífice, acrescentando: "a resposta de Jesus, a acabamos de ouvir: A vida verdadeira é que Te conheçam a Ti – Deus – e o teu Enviado, Jesus Cristo".

"Com surpresa nossa, nos é dito que vida é conhecimento. Isto significa antes de mais nada: vida é relação. Ninguém recebe a vida de si mesmo e só para si mesmo. Recebemo-la do outro, na relação com o outro" – observou.

O Santo Padre prosseguiu chamando a atenção para o fato que "conhecer, no sentido da Sagrada Escritura, é tornar-se interiormente um só com o outro. Conhecer Deus, conhecer Cristo significa sempre também amá-Lo, tornar-se em certa medida um só com Ele em virtude do conhecer e do amar. Por conseguinte, a nossa vida torna-se autêntica, verdadeira e também eterna, se conhecermos Aquele que é a fonte de todo o ser e de toda a vida".

"Assim a palavra de Jesus torna-se para nós convite: tornemo-nos amigos de Jesus, procuremos conhecê-Lo cada vez mais!" – exortou.

Em seguida, aludindo ao fato que ao longo da Oração Sacerdotal Jesus fala duas vezes da revelação do nome de Deus, o Papa observou que "o Senhor faz aí alusão ao episódio da sarça ardente; lá Deus, respondendo à pergunta de Moisés, revelara o seu nome. Portanto, Jesus quer dizer que leva a termo o que se iniciara junto da sarça ardente: Deus, que Se dera a conhecer a Moisés, agora se revela plenamente n’Ele. E, com isto, Ele realiza a reconciliação".

Bento XVI observou ainda que "comunicar o nome significa entrar em relação com o outro. Por isso, a revelação do nome divino significa que Deus, infinito e subsistente em Si mesmo, entra no entrelaçamento de relações dos homens: Ele, por assim dizer, sai de Si mesmo e torna-Se um de nós, um que está presente no meio de nós e ao nosso dispor".

Este estar de Deus com o seu povo realiza-se na encarnação do Filho. "Deus enquanto Homem pode ser chamado por nós e está perto de nós. Ele é um de nós, sem deixar de ser o Deus eterno e infinito. O seu amor sai, por assim dizer, d’Ele mesmo e entra em nós. O mistério eucarístico, a presença do Senhor sob as espécies do pão e do vinho é a máxima e mais alta condensação deste novo estar-conosco de Deus."

O Santo Padre ressaltou que o pedido mais conhecido da Oração Sacerdotal é o da unidade para os discípulos, para aqueles de então e os que haveriam de vir: «Não peço somente por eles – a comunidade dos discípulos reunida no Cenáculo – mas também por aqueles que vão acreditar em Mim por meio da sua palavra, para que eles sejam todos um, como Tu, Pai, o és em Mim e Eu em Ti, para que também eles sejam um em Nós e o mundo acredite que Tu Me enviaste» (v. 20s; cf. vv. 11 e 13).

Assim – observou ainda – esta oração revela-se, propriamente, um ato fundador da Igreja. A oração de Jesus dá-nos a garantia de que o anúncio dos Apóstolos jamais poderá cessar na história.

Por fim, o Santo Padre afirmou que esta oração também é sempre um exame de consciência para nós:

"Nesta hora, o Senhor interpela-nos: vives tu, através da fé, em comunhão comigo e, deste modo, em comunhão com Deus? Ou não estarás porventura a viver mais para ti mesmo, afastando-te assim da fé? E, por isto, não serás talvez culpado da divisão que obscurece a minha missão no mundo, que fecha aos homens o acesso ao amor de Deus?"

O Papa concluiu a homilia da celebração em forma de oração:

Oxalá entremos nós mesmos na sua oração, suplicando-Lhe: "Sim, Senhor... concede-nos viver no teu amor para assim nos tornarmos um só como Tu és um só com o Pai, a fim de que o mundo acredite".

Concluída a homilia, teve lugar o tradicional rito do lava-pés.

Ressaltamos que amanhã, Sexta-feira Santa, o Santo Padre presidirà, às 17h locais, na Basílica de São Pedro, à celebração da Paixão, com o tradicional ato piedoso de "Adoração da Cruz".

E às 21h15, sempre hora local, terá lugar a tradicional Via-Sacra, no Coliseu de Roma, presidida por Bento XVI. Recordamos que ambos os atos religiosos serão transmitidos ao vivo, via satélite, para todo o Brasil e demais países de língua portuguesa cujas emissoras nos retransmitem. (RL)







All the contents on this site are copyrighted ©.