BENTO XVI: NÃO OBSCUREÇAMOS COM DIVISÕES A MISSÃO DE JESUS NO MUNDO
Cidade do Vaticano, 1º abr (RV) - Bento XVI presidiu na tarde desta Quinta-feira
Santa, na Basílica de São João de Latrão – sede da Diocese de Roma – a Missa da Ceia
do Senhor – na qual se recorda a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Essa Missa,
na qual se celebra também o tradicional rito do lava-pés, abre o Tríduo Pascal.
Na
homilia, o Santo Padre destacou a liturgia desta celebração, partindo da consideração
de que no seu Evangelho, São João nos refere – mais amplamente do que os outros três
evangelistas e com o seu estilo peculiar – os discursos de despedida de Jesus, que
se apresentam quase como o seu testamento e a síntese do núcleo essencial da sua mensagem.
"No
início destes discursos aparece o lava-pés – observou – no qual o serviço redentor
de Jesus em favor da humanidade necessitada de purificação é resumido num gesto de
humildade."
O Santo Padre prosseguiu enfatizando que as palavras de Jesus transformam-se
em oração, a sua Oração Sacerdotal: um rezar que antecipa a Paixão e, ao mesmo tempo,
a transforma em oração.
Bento XVI destacou algumas afirmações de Jesus contidas
nesta página do Evangelho, afirmações que – disse – podem nos introduzir mais profundamente
no mistério da Quinta-feira Santa.
A primeira delas é a frase: «É esta a vida
eterna: que Te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e Àquele que enviaste, Jesus
Cristo» (Jo 17, 3).
"O que vem a ser esta vida verdadeiramente eterna,
que a morte não pode lesar?", perguntou-se o Pontífice, acrescentando: "a resposta
de Jesus, a acabamos de ouvir: A vida verdadeira é que Te conheçam a Ti – Deus – e
o teu Enviado, Jesus Cristo".
"Com surpresa nossa, nos é dito que vida é conhecimento.
Isto significa antes de mais nada: vida é relação. Ninguém recebe a vida de si mesmo
e só para si mesmo. Recebemo-la do outro, na relação com o outro" – observou.
O
Santo Padre prosseguiu chamando a atenção para o fato que "conhecer, no sentido da
Sagrada Escritura, é tornar-se interiormente um só com o outro. Conhecer Deus, conhecer
Cristo significa sempre também amá-Lo, tornar-se em certa medida um só com Ele em
virtude do conhecer e do amar. Por conseguinte, a nossa vida torna-se autêntica, verdadeira
e também eterna, se conhecermos Aquele que é a fonte de todo o ser e de toda a vida".
"Assim
a palavra de Jesus torna-se para nós convite: tornemo-nos amigos de Jesus, procuremos
conhecê-Lo cada vez mais!" – exortou.
Em seguida, aludindo ao fato que ao longo
da Oração Sacerdotal Jesus fala duas vezes da revelação do nome de Deus, o Papa observou
que "o Senhor faz aí alusão ao episódio da sarça ardente; lá Deus, respondendo à pergunta
de Moisés, revelara o seu nome. Portanto, Jesus quer dizer que leva a termo o que
se iniciara junto da sarça ardente: Deus, que Se dera a conhecer a Moisés, agora se
revela plenamente n’Ele. E, com isto, Ele realiza a reconciliação".
Bento XVI
observou ainda que "comunicar o nome significa entrar em relação com o outro. Por
isso, a revelação do nome divino significa que Deus, infinito e subsistente em Si
mesmo, entra no entrelaçamento de relações dos homens: Ele, por assim dizer, sai de
Si mesmo e torna-Se um de nós, um que está presente no meio de nós e ao nosso dispor".
Este
estar de Deus com o seu povo realiza-se na encarnação do Filho. "Deus enquanto Homem
pode ser chamado por nós e está perto de nós. Ele é um de nós, sem deixar de ser o
Deus eterno e infinito. O seu amor sai, por assim dizer, d’Ele mesmo e entra em nós.
O mistério eucarístico, a presença do Senhor sob as espécies do pão e do vinho é a
máxima e mais alta condensação deste novo estar-conosco de Deus."
O Santo Padre
ressaltou que o pedido mais conhecido da Oração Sacerdotal é o da unidade para os
discípulos, para aqueles de então e os que haveriam de vir: «Não peço somente por
eles – a comunidade dos discípulos reunida no Cenáculo – mas também por aqueles que
vão acreditar em Mim por meio da sua palavra, para que eles sejam todos um, como Tu,
Pai, o és em Mim e Eu em Ti, para que também eles sejam um em Nós e o mundo acredite
que Tu Me enviaste» (v. 20s; cf. vv. 11 e 13).
Assim – observou ainda
– esta oração revela-se, propriamente, um ato fundador da Igreja. A oração de Jesus
dá-nos a garantia de que o anúncio dos Apóstolos jamais poderá cessar na história.
Por
fim, o Santo Padre afirmou que esta oração também é sempre um exame de consciência
para nós:
"Nesta hora, o Senhor interpela-nos: vives tu, através da fé, em
comunhão comigo e, deste modo, em comunhão com Deus? Ou não estarás porventura a viver
mais para ti mesmo, afastando-te assim da fé? E, por isto, não serás talvez culpado
da divisão que obscurece a minha missão no mundo, que fecha aos homens o acesso ao
amor de Deus?"
O Papa concluiu a homilia da celebração em forma de oração:
Oxalá
entremos nós mesmos na sua oração, suplicando-Lhe: "Sim, Senhor... concede-nos viver
no teu amor para assim nos tornarmos um só como Tu és um só com o Pai, a fim de que
o mundo acredite".
Concluída a homilia, teve lugar o tradicional rito do lava-pés.
Ressaltamos
que amanhã, Sexta-feira Santa, o Santo Padre presidirà, às 17h locais, na Basílica
de São Pedro, à celebração da Paixão, com o tradicional ato piedoso de "Adoração da
Cruz".
E às 21h15, sempre hora local, terá lugar a tradicional Via-Sacra, no
Coliseu de Roma, presidida por Bento XVI. Recordamos que ambos os atos religiosos
serão transmitidos ao vivo, via satélite, para todo o Brasil e demais países de língua
portuguesa cujas emissoras nos retransmitem. (RL)