“Toda a vida do Venerável João Paulo II decorreu sob o signo da caridade, da capacidade
de doar-se com generosidade, sem reservas, sem medida, sem cálculos. Bento XVI na
Missa do Vº aniversario do seu falecimento
(29/3/2010) “A regra da comunidade de Jesus é a regra do amor que sabe servir até
ao dom da vida” – sublinhou Bento XVI, na homilia, comentando os textos da Missa desta
segunda-feira da Semana Santa e aludindo ao testemunho do Papa Wojtyla, falecido há
cinco anos.
Começando pela primeira leitura, em que o Profeta Isaías apresenta
a figura de um “Servo de Deus” que é ao mesmo tempo o seu eleito e que sabe agir com
uma firmeza inquebrantável, até que se encontre realizada a tarefa que lhe foi confiada,
observou o Papa:
“Durante o seu longo pontificado, ele prodigalizou-se em
proclamar o direito com firmeza, sem debilidades ou hesitações, sobretudo quando devia
confrontar-se com resistências, hostilidades e recusas. Sabia que o Senhor o tinha
tomado pela mão, e foi isso que lhe permitiu exercer um ministério muito fecundo pelo
qual, uma vez mais, damos fervorosas graças a Deus”.
Passando depois a comentar
o Evangelho da ceia em Betânia, com Lázaro, Marta e Maria, com o pressentimento da
morte iminente, em que Maria unge os pés de Jesus com um perfumo de grande valor,
Bento XVI fez notar que “o gesto de Maria é a expressão de uma grande fé e de um grande
amor”:
“Maria oferece a Jesus o que tem de mais precioso, com um gesto de
profunda devoção. O amor não calcula, não mede, não olha a despesas, não levanta barreiras,
mas sabe dar com alegria, procura só o bem do outro, vence a mesquinhez, os ressentimentos,
as durezas que o homem leva no seu coração”.
Maria coloca-se aos pés de Jesus
em atitude de humildade e de serviço, como fará o próprio Mestre na Última Ceia –
observou ainda o Papa.
“O significado do gesto de Maria , que é resposta ao
Amor infinito de Deus, difunde-se entre todos os convidados. Todo e qualquer gesto
de caridade e de autêntica devoção a Cristo não permanece um facto pessoal, não diz
apenas respeito à relação entre o indivíduo e o Senhor, mas abarca todo o corpo que
é a Igreja, é contagioso: infunde amor, alegria, luz”:
“Ao acto de Maria
se contrapõem a atitude e as palavras de Judas, que, a pretexto da ajuda a prestar
aos pobres, esconde o egoísmo e a falsidade do homem fechado em si mesmo, encadeado
à avidez da posse… Judas calcula naquilo em que não se pode calcular, entra com espírito
mesquinho no espaço que é do amor, do dom, da doação total. E Jesus, que até àquele
momento tinha permanecido em silêncio, intervém a favor do gesto de Maria… Jesus compreende
que Maria intuiu o amor de Deus e indica que já se aproxima a sua “hora”, a “hora”
em que o Amor encontrará a sua expressão suprema sobre o lenho da Cruz. O Filho de
Deus… desce aos abismos da morte para elevar o homem às alturas de Deus…
“Toda
a vida do Venerável João Paulo II decorreu sob o signo desta caridade, da capacidade
de doar-se com generosidade, sem reservas, sem medida, sem cálculos. O que o movia
era o amor a Cristo, ao qual tinha consagrado a vida, um amor super-abundante e incondicionado.
E foi precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus no amor que ele pôde
tornar-se companheiro de viagem para o homem de hoje, derramando no mundo o perfume
do Amor de Deus”.