Cidade do Vaticano, 28 mar (RV) - A Ceia, a última Ceia de Jesus é a prefiguração
de sua entrega a Deus por nós e a conclusão de sua missão. Nela ele promete a restauração
da humanidade e nos associa ao seu destino. “Fazei isto em memória de mim” é um mandamento
convite para nos identificarmos com ele, para repartirmos nossa vida com os outros.
Quando celebramos a Eucaristia, o “partir o pão eucarístico” é porque já o fizemos
com o nosso pão diário e com toda a nossa vida e pretendemos continuar nesse partilhar
nossa vida.
Também dentro do contexto eucarístico Lucas nos coloca a atitude
cristã do serviço, do ser o último. Jesus diz: “Entre vós o maior seja como o mais
novo, e o que manda, como quem está servindo”. “...estou no meio de vós como aquele
que serve.” Servir, dentro da visão cristã, significa ocupar mesmo o último lugar,
ser autoridade significa servir!
São Lucas, no relato da Paixão, destaca a
bondade e a misericórdia do Senhor. Já no horto Jesus impede que Pedro pague mal
com mal, e lhe diz para “guardar sua espada dentro da bainha”. A atitude dos cristãos
para com seus adversários deverá ser a do perdão. Para Jesus, o seu discípulo não
tem inimigo, aliás, o inimigo, aquele que deverá ser destruído, esmagado é o demônio.
Os demais, os que fazem mal são vistos como adversários que deverão ser trabalhados
para que se libertem do mal e se salvem.
Mais adiante, dentro do relato da
paixão, ao ser negado por aquele a quem confiaria as suas ovelhas – Pedro -, olha-o
com carinho e compreensão por sua fraqueza e a reação de Pedro é as lágrimas de profundo
arrependimento. Por isso, por essa experiência e por outras, Pedro escreveu em sua
primeira carta: “...ultrajado, não retribuía com idêntico ultraje; ele, maltratado
não proferia ameaças” (1Pd 2, 23). Antes de dar o último suspiro Jesus disse: “Pai,
perdoa-lhes este pecado, porque não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Em seu relato
São Lucas comenta a atitudes de pessoas como Herodes e as mulheres que estavam pelo
caminho do calvário. Herodes vê Jesus como um proporcionador de benefícios. Mas Jesus
não é um mercador, mas sim alguém que age em nome do Pai. Diante das mulheres que
choram pelo caminho ao ver suas dores, Jesus reconhece nelas e em seus filhos os frágeis
que penam por causa do interesse dos poderosos.
Finalmente Lucas apresenta
Jesus morrendo entre dois bandidos. Ele nasceu entre animais, em uma estrebaria e
suas primeiras visitas foram os pastores, gente impura para os judeus. Mais tarde
chegam os magos, pagãos! Também ao longo de sua vida Jesus se relaciona continuamente
com os desprezados da sociedade de seu tempo, os considerados impuros, como os publicanos,
as meretrizes, os pecadores. Agora, na hora da morte, seus companheiros são bandidos!
Seus discípulos se mantêm à distância, mas ao lado estão os dois ladrões. Mas longe
de ser demérito, isso é a legitimação da vida do Redentor. Ele não veio para salvar
os pecadores? Pois é! Ele volta para o Pai com as mãos cheias! Leva consigo Dimas,
o bandido que foi recuperado na última hora e que ele mesmo, Jesus, garantiu que estaria
com ele no céu, “ainda hoje”. Leva também, só que mais tarde, o oficial romano que
declarou: “De fato! Este homem era justo!” Leva tantos pecadores convertidos pelos
seus gestos de acolhida, de perdão, de vida!
Fazei isso em minha memória, tomai
e comei, partilhar a vida! Celebremos a Paixão de Jesus, sua Páscoa, acolhendo o pecador,
partilhando nossa fé na vitória da Vida, na certeza da vitória do perdão! O que recebemos
de graça, de graça deveremos dar. Recebemos o perdão de Deus mediante a redenção de
Jesus Cristo! (CAS)