Nova Iorque, 23 mar (RV) - A situação do povo Guarani no Mato Grosso do Sul,
no Centro-Oeste brasileiro, é uma das piores de todos os povos indígenas nas Américas,
afirma o relatório recém produzido pela Survival International enviado à ONU.
A
Survival International é uma organização mundial de apoio aos povos indígenas cujo
objetivo é ajudar-lhes a defender as suas vidas, proteger as suas terras e decidir
o seu próprio futuro e atualmente conta com 82 escritórios espalhados em todo o mundo,
como em Madrid, Londres, Paris, Milão e Berlim.
A publicação do relatório coincidiu
com o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, que foi celebrado
no dia 21.
Os Guaranis sofrem com elevados índices de suicídio, desnutrição
e alcoolismo, além de serem alvos regulares de pistoleiros contratados por fazendeiros
das regiões onde vivem, aponta o estudo da Survival.
A recusa em reconhecer
os direitos dos Guarani a suas terras é apontada no relatório como a principal causa
dessa situação tensa na qual se encontram os índios.
O relatório adverte que
a crescente demanda por etanol como alternativa à gasolina fará com que os Guarani
percam mais terras, agravando ainda mais a situação.
Apesar de viverem em um
dos estados mais ricos de um país cuja economia é uma das que mais cresce no mundo
atualmente, muitos Guarani vivem em extrema pobreza. Alguns vivem sob tendas na beira
de estradas muito movimentadas, outros vivem em ‘reservas’ superpopuladas, onde são
dependentes de ajuda do governo.
Stephen Corry, Diretor da Survival, afirmou
que esse relatório expõe a situação “estarrecedora” na qual se encontram os Guarani.
“É responsabilidade legal e moral do governo brasileiro assegurar que os abusos de
direitos humanos e a discriminação racial sofridos pelos Guarani cessem. Caso o governo
não aja com rapidez e eficiência, mais índios Guarani morrerão”.
Alguns dados
do Relatório
1. Violência: os Guarani sofrem violentos ataques e muitos líderes
já foram assassinados. 42 índios da etnia foram mortos no Mato Grosso do Sul em 2008
em função de conflitos internos e externos.
2. Suicídio: o índice de suicídio
entre os Guarani é um dos mais altos no mundo. Mais de 625 Guarani cometeram suicídio
desde 1981 (quase 1.5% da população Guarani) e, em 2005, o índice de suicídio entre
os índios dessa etnia foi 19 vezes mais alto do que o índice nacional. Crianças Guarani
de apenas nove anos de idade já terminaram com suas próprias vidas.
3. Desnutrição
e saúde debilitada: muitos Guarani sofrem de desnutrição, tendo a taxa de mortalidade
infantil desse povo indígena atingido mais que o dobro da média nacional. Sua expectativa
de vida é bastante reduzida: mais de 20 anos abaixo da média nacional.
4. Detenção
injusta: os Guarani são freqüentemente detidos injustamente, com pouco ou nenhum acesso
a aconselhamento legal e intérpretes. Eles cumprem ‘penas desproporcionalmente duras
por ofensas leves’.
5. Exploração de trabalho manual: muitos Guarani são forçados
a trabalhar no corte de cana-de-açúcar para usinas produtoras de etanol, que atualmente
ocupam suas terras. Os índios recebem remuneração baixíssima e são submetidos a condições
de trabalho sub-humanas. (CM-CNBB)