BISPOS DE BURKINA FASSO E NÍGER EM VISITA "AD LIMINA": AS ALEGRIAS E DESAFIOS DA IGREJA
LOCAL
Cidade do Vaticano, 16 mar (RV) - Os bispos de Burkina Fasso e Níger iniciaram
nesta segunda-feira, no Vaticano, a sua quinquenal visita "ad Limina". Trazem ao Papa
as alegrias e os sofrimentos de dois países entre os mais pobres do mundo, atingidos
pelo drama da seca. A comunidade cristã é minoritária e busca conviver harmoniosamente
com a maioria muçulmana. Sobre a situação da Igreja em Burkina Fasso a Rádio Vaticano
ouviu o Arcebispo de Koupéla e Presidente da Conferência Episcopal de Burkina Fasso-Niger,
Dom Séraphin François Rouamba. Eis o que disse:
Dom Séraphin François Rouamba:-
"Registramos um crescimento constante do número de fiéis batizados. Somente em minha
diocese a cada ano temos cerca de cinco mil novos batismos de crianças e quatro mil
e oitocentos de adultos, e esse ritmo de crescimento se verifica há vários anos. A
Igreja em Burkina Fasso está bem, mas hoje enfrenta grandes desafios. Em primeiro
lugar, existe a necessidade de promover as Comunidades cristãs de base, porque é nessas
pequenas comunidades que os cristãos se sentem uma família e podem partilhar juntos
a sua fé, o seu amor e as suas esperanças. Além disso, existe o problema da inculturação:
temos a convicção de que se não evangelizarmos a nossa cultura, jamais poderemos evangelizar
profundamente os nossos fiéis, seria uma evangelização superficial. Há também a questão
dos catequistas, que têm uma grande responsabilidade na evangelização. Em muitos lugares
os catequistas são a única expressão da Igreja, por causa da ausência de sacerdotes,
mas urge uma atualização na preparação deles. Ademais, isso vale para todos os leigos
cujo papel sempre foi muito importante em nossa Igreja como testemunhas do Evangelho
– onde quer que se encontrem – e fermento desse novo mundo que nasce com Jesus Cristo.
Se a Igreja quiser continuar crescendo ela tem que ser missionária: devemos anunciar
a nossa fé em todos os lugares, inclusive fora do país. A Igreja-Família de Burkina
– que recebeu muito – deve saber que agora precisa dar muito."
P. Como são
as relações com a maioria muçulmana e com os seguidores das religiões tradicionais?
Dom
Séraphin François Rouamba:- "Posso dizer que os cristãos, os muçulmanos e os seguidores
das religiões tradicionais convivem bem. Basta pensar que, por vezes, os muçulmanos
participam das nossas missas. É claro que temos um certo receio quando vemos aparecer
alguns movimentos, mas no momento existe um bom entendimento inter-religioso. Por
exemplo, comerciantes muçulmanos já vieram encontrar-me para pedir para contribuir
na construção de uma paróquia. O motivo é simples: onde se constrói uma paróquia se
sabe que terá uma escola ou uma creche e, como os católicos não fazem distinção de
religião, toda a população é beneficiada."
P. Quais são os reflexos que
o Sínodo para a África teve na vida de suas dioceses em Burkina Fasso?
Dom
Séraphin François Rouamba:- "No início estávamos de certo modo céticos porque
ainda não havíamos aplicado as indicações do precedente Sínodo para a África. Mas
depois nos damos conta de que era oportuno, porque quando vemos a África hoje, os
problemas da justiça e da paz são realmente muito atuais. Creio que o Papa tenha tido
uma boa idéia ao sugerir esse tema para a nossa Igreja. É preciso dizer que o papel
da Igreja é fundamental nesse âmbito: houve iniciativas eclesiais de reconciliação
diante de terríveis fraturas às quais ninguém acreditava que se pudesse sanar, e depois
vimos que as comunidades conseguiram superar as suas divisões. Portanto, o Sínodo
reforçou as convicções dos cristãos e deu apoio às nossas iniciativas. Creio que seja
muito útil que a Igreja esteja presente em todos os lugares onde se precisa de reconciliação."
(RL)