Belo Horizonte, 12 mar (RV) - A opinião pública é um gigante. Mesmo estando
muitas vezes adormecido é de uma força inestimável. Os meios de comunicação têm uma
força que é poder e, ao contracenar e lutar com a opinião pública, é preciso refletir
sobre os ganhos ou prejuízos para a indispensável consciência social e política que
deve presidir a vivência de toda cidadania. Na verdade, a opinião pública é que é
o poder verdadeiro. O poder da mídia é compreensível enquanto serviço educativo prestado
à opinião pública, porém, esta é que tem a prerrogativa de discernir, decidir, escolher.
Não raramente o poder dos meios de comunicação se arvoram em força de dominação
da opinião pública para direcionar, de acordo com interesses que não só contrariam
como definem dinâmicas, escolhas e exercícios na contramão do bem, da justiça e da
paz. É preciso impedir toda tentativa de barganha para amordaçar a opinião pública
e, também, evitar os entendimentos equivocados a respeito de pessoas, instituições
ou situações políticas. O serviço informativo e formativo da mídia, em se considerando
os parâmetros da ética na comunicação, não pode cometer o engano, por exemplo, de
desdourar o sentido da ação e da participação política, gerando descrédito e desconsideração
por parte de cidadãos, comprometendo essa sua indispensável atuação política. É
direito da opinião pública ter a mídia a seu serviço, como tarefa informativa e educativa.
Há um coração comum que une as duas forças: a que é inerente à opinião pública e a
que está presente no serviço prestado pelos meios de comunicação. O coração da opinião
pública é a moralidade. Há um imperativo que exige a regência da vida segundo princípios
e valores. Existe um anseio, escondido no coração humano, por uma vida pautada nos
valores morais, nas suas exigências pela certeza do gozo vitorioso que se conquista
percorrendo este caminho. Contudo, é preocupante e merece convocação para se redobrar
atenção quando os meios de comunicação escolhem a perspectiva de comprometimento desta
moralidade. É determinante a construção de uma mundividência na opinião pública
e que a mídia, hoje mais do que nunca, tem o dever e o sentido de fidelidade profissional
a construir. Particularmente, esse serviço precisa ser bem prestado quando se refere
à política. Um ano eleitoral, especialmente como este de 2010, se torna cenário dessa
consideração. É preciso encontrar no serviço que a mídia presta à opinião pública
um permanente processo de purificação de interesses e do poder que deslumbram a inteligência
humana configurando-se num perigo nunca totalmente eliminado. A purificação indispensável
da razão e a formação ética inadiável são sustentáculos importantes para adequada
configuração da opinião pública. Assim, a mídia, como outras prestadoras de serviços
à opinião pública, não pode distanciar-se das suas responsabilidades na formação da
consciência. Há um desejo de moralização contracenando, em ritmo de luta e conflito,
com uma apreciada e cultivada permissividade que seduz a razão humana e os seus afetos.
É preocupante e requer reações da sociedade, por parte dos seus diferentes segmentos,
fazer frente ao império da baixaria custeada com altas somas. É curioso e lamentável
o nível de muitos programas no mundo midiático. Como entender e explicar a atratividade
da espetacularização do ridículo, como se pode constatar em programas, especialmente
televisivos, ou a pornografia na internet, milionariamente custeadas pela exploração
da morbidez da curiosidade ou da condição patológica na afetividade? Há um comprometimento
moral que frontalmente atinge e vicia a consciência política, gerando cidadanias medíocres
por não serem sustentadas pelas forças dos princípios e valores. A opinião pública,
pois, há de recuperar e cuidar, com esmero, de sua pérola: a busca da verdade. O serviço
da mídia não pode deixar de atender a esta demanda. A propaganda eleitoral não pode
ser simples jogo de cena ou amordaçamento da opinião pública. A coragem de mostrar
a verdade, propósito da Lei de Iniciativa Popular, Ficha Limpa, é a tarefa adiada
e temida por quem é ficha suja. A necessidade de discernir, conhecendo a verdade,
é do povo. E o direito de escolher pertence não aos partidos e aos pretensiosos, mas
à opinião pública.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo Metropolitano
de Belo Horizonte