PAPA SOBRE RECONCILIAÇÃO: CONFORTO DIVINO NUM MUNDO QUE PERDEU SENTIDO DO PECADO
Cidade do Vaticano, 11 mar (RV) - "Voltar ao confessionário como lugar da celebração
do Sacramento da Reconciliação, mas também como lugar onde se faz encontrar muitas
vezes para que o fiel possa obter misericórdia, conselho e conforto, sentir-se amado
e compreendido por Deus." Foi o cenário que o Santo Padre indicou aos sacerdotes na
audiência concedida na manhã desta quinta-feira, na Sala Clementina, no Vaticano,
aos participantes do Curso sobre o Foro interno promovido pela Penitenciaria Apostólica.
O
Papa convidou a mostrar "a beleza e a grandeza da bondade do Senhor" às pessoas de
hoje, tentadas por um relativismo que ofusca as consciências.
Nos dias atuais
se enfraquece a experiência de Deus, se perde o sentido do pecado: e essa é a realidade
que se respira hoje de modo difuso. Mas se as pessoas são ajudadas para o encontro
com Deus como um "diálogo de salvação" com um Pai bom que as ama, eis que a conversão
do coração leva a um estilo de vida diferente, leva à renúncia ao mal.
O Pontífice
ressaltou que o sacerdote e o Sacramento da Reconciliação são, por excelência, o mediador
e o instrumento desse encontro.
Bento XVI elaborou, a partir desses pontos,
a sua reflexão oferecida aos especialistas e sacerdotes que participaram do Curso
anual da Penitenciaria Apostólica sobre o Foro interno, recebidos em audiência:
"A
"crise" do Sacramento da Penitência, de que comumente se fala, interpela, em primeiro
lugar, os sacerdotes e a sua grande responsabilidade de educar o Povo de Deus às radicais
exigências do Evangelho. Em particular, exige que eles se dediquem generosamente à
escuta das confissões sacramentais; conduzam o rebanho com coragem para que não se
conformem à mentalidade deste mundo, mas saibam também fazer escolhas contracorrente,
evitando acomodações ou ajustamentos."
Ajustamentos que são típicos do atual
"contexto cultural marcado", constatou o Papa, "pela mentalidade hedonista e relativista,
que tende a eliminar Deus do horizonte da vida, não favorece a aquisição de um quadro
claro de valores de referência e não ajuda a discernir o bem do mal e a amadurecer
um justo sentido do pecado. De fato, não podemos esquecer que existe uma espécie de
círculo vicioso entre o ofuscamento da experiência de Deus e a perda do sentido do
pecado".
Bento XVI afirmou que a figura do sacerdote deve ser traçada em antítese
a essas derivas da consciência pessoal e coletiva. Nesse sentido, o Santo Padre indicou
São João Maria Vianney como modelo ao qual inspirar-se, de quem se pode aprender "uma
inexorável confiança no Sacramento da Penitência" e reforçar aquelas atitudes que
são a essência do sacerdócio: espírito de oração, pobreza evangélica, "relação pessoal
e íntima com Cristo", celebração da Missa. Como também – acrescentou o Papa – "uma
intensa dimensão penitencial pessoal":
"A consciência do próprio limite e a
necessidade de recorrer à Misericórdia Divina para pedir perdão, para converter o
coração e para ser sustentados no caminho de santidade, são fundamentais na vida do
sacerdote: somente quem por primeiro experimentou a sua grandeza pode ser convicto
anunciador e administrador da Misericórdia de Deus."
Por isso – reiterou Bento
XVI – "é importante que o sacerdote tenha uma permanente tensão ascética, alimentada
pela comunhão com Deus, e se dedique a uma constante atualização no estudo da teologia
moral e das ciências humanas":
"Nas condições de liberdade em que hoje é possível
exercer o ministério sacerdotal é necessário que os presbíteros vivam de "modo alto"
a sua resposta à vocação, porque somente quem se torna todos os dias presença viva
e clara do Senhor pode suscitar nos fiéis o sentido do pecado, encorajar e fazer nascer
o desejo do perdão de Deus." (RL)