Jos, 09 mar (RV) - Um dia depois de a Nigéria ser palco de um massacre de mais
de 500 pessoas - a maioria cristãos de aldeias próximas à cidade de Jos, no centro
do país -, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, disse estar profundamente preocupado
com a situação. Pedindo moderação, ele incitou os líderes religiosos a trabalharem
juntos nas causas da crise em busca de uma solução.
Um confronto de fundo
tribal e religioso deixou 528 mortos no último fim de semana. Armados com revólveres,
metralhadoras e machados, integrantes da tribo muçulmana fulani atacaram casas e estabelecimentos
de pessoas da tribo berom, de maioria cristã, domingo. Em apenas três horas, homens,
mulheres, crianças e até bebês, foram mortos e queimados, segundo testemunhas, que
descrevem cenas de horror.
Em Jos, capital da província de Plateau, vivem quase
600 mil pessoas, divididas entre etnias islâmicas e cristãs. A tensão religiosa na
região vem crescendo desde o fim dos anos 1990, quando os primeiros massacres foram
registrados. Desde então, 12 mil pessoas foram mortas.
A população nigeriana
é formada 50% por muçulmanos (localizados principalmente no norte) e 40% por cristãos
(predominantes no sul do país). Jos situa-se numa região conhecida como “cinturão
do meio”, repleta de minas e outros recursos naturais, quedas d'água, e vida selvagem:
é o principal pólo turístico da Nigéria. Dezenas de grupos étnicos, das duas religiões,
disputam essa riqueza.
Para o Arcebispo de Abuja, Dom John Onaiyekan, a tensão
na região tem raízes principalmente econômicas, mais do que religiosas: “Trata-se
do clássico conflito por terras entre pastores e agricultores, só que os fulani são
muçulmanos e pastores e os berom são cristãos e agricultores. As pessoas foram mortas
por reivindicações sociais, não por religião” - disse.
O Diretor da Sala de
Imprensa da Santa Sé e da Rádio Vaticano, Padre Federico Lombardi, manifestou também
dor e preocupação, acrescentando que a leitura dos acontecimentos indica que “não
se trata de confrontos de natureza religiosa, mas social”.
A polícia prendeu
95 suspeitos. O governo afirma que esta onda de violência seria uma vingança ao massacre
de 330 muçulmanos em janeiro, quando os fulani acusaram os berom de tentar exterminar
a população muçulmana na região.
O Fórum dos Cristãos do Estado de Plateau
publicou um comunicado no domingo no qual acusa o Exército nigeriano de passividade
diante dos ataques. “Por que os soldados não intervieram?” - perguntou a ONG.
Ontem,
o Presidente interino da Nigéria, Goodluck Jonathan, convocou uma reunião de emergência
com os chefes do serviço de segurança para estudar a prevenção de novos confrontos.
O governo de Plateau anunciou um funeral coletivo para as vítimas, enterradas
em valas comuns. (CM)