REPRESENTANTE VATICANO FALA NA ONU SOBRE SITUAÇÃO DAS MULHERES NO MUNDO
Nova Iorque, 09 mar (RV) - Favorecer o melhoramento da condição feminina permanece
sendo um compromisso para o futuro. Foi a prioridade indicada pelo Observador Permanente
da Santa Sé na ONU, Dom Celestino Migliore, por ocasião da 54ª sessão da Comissão
sobre a situação das mulheres, realizada nesta segunda-feira em Nova Iorque, no Dia
Internacional da Mulher.
Ao falar na ONU sobre a condição feminina, Dom Migliore
descreveu um cenário feito de "algumas luzes, mas também de sombras inquietadoras.
O prelado recordou os progressos feitos nos últimos 15 anos no campo da educação e
da promoção das mulheres: "chaves fundamentais para erradicar a pobreza e favorecer
o desenvolvimento, uma maior participação na vida social e política".
O Arcebispo
destacou que as reformas feitas ajudaram a remover "formas de discriminação contra
as mulheres" e favoreceu a criação de "leis específicas contra a violência doméstica".
Em particular, o Observador da Santa Sé evidenciou "o papel indispensável desempenhado
pela sociedade civil ao ressaltar a dignidade das mulheres, os seus direitos e as
suas responsabilidades".
Mas não se pode esquecer as mulheres que continuam
sofrendo em muitas partes do mundo. Existem fenômenos terríveis como "o aborto, o
infanticídio e o abandono, as discriminações a nível de assistência de saúde e de
alimentação".
A propósito, o Arcebispo recordou alguns dados: as mulheres dos
15 anos em diante representam os dois terços dos analfabetos do mundo; três quartos
das pessoas atingidas pela AIDS são jovens e adolescentes mulheres entre os 15 e os
24 anos; as vítimas do tráfico de seres humanos são 70% mulheres e a metade é menor.
"No
mundo inteiro as mulheres são vítimas de violência física, psicológica e sexual, o
estupro é usado como arma de guerra, sem falar de sua exploração econômica" – prosseguiu
Dom Migliore.
Evidenciando as diversas razões dessa situação – "dinâmicas sociais
e culturais" e "atrasos, lentidão das políticas" – o prelado ressaltou a necessidade
de se olhar "também para os princípios, as prioridades e as políticas de ação das
organizações internacionais, especificamente, considerar o sistema de valores, linhas
orientadoras e metodologias que orientam a atuação das Nações Unidas nas questões
relativas às mulheres".
Em seguida, o representante vaticano introduziu um
importante conceito sobre a igualdade de gênero. O prelado evidenciou que "os fatos
demonstram que a manipulação desse conceito é sempre mais direcionada em nível ideológico
e retarda o verdadeiro desenvolvimento das mulheres".
Recordando que nos recentes
documentos oficiais existem interpretações do gênero que "dissolvem toda especificidade
e complementaridade entre homens e mulheres", Dom Migliore evidenciou como as teorias
"já estão ofuscando ou criando obstáculo a todo sério e tempestivo progresso no reconhecimento
da dignidade e dos direitos das mulheres".
Além disso, o prelado destacou que
quase todos os documentos de conferências internacionais evidenciam o laço entre "o
alcance dos direitos pessoais, sociais, econômicos e políticos e uma noção de saúde
e de direitos sexuais e reprodutivos que é violenta em relação aos concebidos e danosa
para as necessidades integrais das mulheres e dos homens na sociedade".
O Arcebispo
observou que, ao mesmo tempo, "raramente são mencionados os direitos políticos, econômicos
e sociais das mulheres como condição indispensável". Dom Migliore ressaltou que esse
aspecto é "particularmente doloroso" considerando a difusa mortalidade das mulheres
grávidas nas regiões onde os sistemas de saúde são inadequados.
Concluindo,
o representante vaticano evocou a "Plataforma para a ação" de Pequim, de 1995, que
havia solenemente aprovado os direitos das mulheres como "parte inalienável, integral
e indivisível dos direitos humanos universais".
Recordando o compromisso da
Santa Sé na promoção da condição feminina, o Observador Vaticano fez um apelo às instituições
católicas em prol de uma estratégia comum dirigida às jovens e adolescentes mulheres,
sobretudo as mais pobres, que leve adiante os importantes resultados do passado e
favoreça um forte compromisso para o futuro. (RL)