Cidade do Vaticano, 09 mar (RV) - Neste tempo quaresmal, Bento XVI nos indica
nas práticas penitenciais – oração, esmola e jejum – os instrumentos para dispor-nos
a celebrar melhor a Páscoa. Em particular, convida-nos a redescobrirmos o verdadeiro
jejum cristão que nos abre a Deus e ao amor ao próximo. A esse propósito, repercorramos
algumas meditações do Papa sobre o jejum quaresmal:
Uma "terapia" para curar
tudo aquilo que nos impede de conformar-nos à vontade de Deus: Bento XVI sintetiza
desse modo o significado do jejum no caminho quaresmal. "Como todos somos oprimidos
pelo pecado e suas consequências – escreve o Pontífice em sua Mensagem para a Quaresma
do ano passado – o jejum nos é oferecido como um meio para restabelecermos a amizade
com o Senhor."
Além disso, o Papa ressalta que "jejuar voluntariamente nos
ajuda a cultivar o estilo do Bom Samaritano". Escolhendo livremente "privar-nos de
algo para ajudar os outros" – reitera Bento XVI – mostramos concretamente que "o próximo
em dificuldade não nos é estranho":
"Encorajamo-nos reciprocamente a redescobrir
e viver com renovado fervor o jejum não somente como prática ascética, mas também
como preparação para a Eucaristia e como arma espiritual para lutar contra todo eventual
apego desordenado a nós mesmos. Este período intenso da vida litúrgica nos ajude a
distanciar-nos de tudo aquilo que distrai o espírito e a intensificar aquilo que alimenta
a alma, abrindo-a ao amor a Deus e ao próximo." (Discurso à Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, 13 de março de 2009)
O Papa
constata que em nossos dias a prática do jejum "parece ter perdido um pouco do seu
valor espiritual" e ter adquirido, sobretudo, "o valor de uma medida terapêutica como
cuidado pelo próprio corpo". Ao invés, é preciso voltar à antiga prática penitencial,
"que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor a Deus
e ao próximo":
"O jejum ao qual a Igreja nos convida neste tempo forte, não
nasce certamente de motivações de ordem física, estética, mas nasce da exigência que
o homem tem de uma purificação interior que o desintoxique da poluição do pecado e
do mal, o eduque àquelas renúncias salutares que libertam o fiel da escravidão do
próprio eu, o torne mais atento e disponível à escuta de Deus e a serviço dos irmãos."
(Missa da Quarta-feira de Cinzas de 21 de fevereiro de 2007)
O verdadeiro
jejum é finalizado a nutrir-se do "verdadeiro alimento" que é fazer a vontade do Pai
– é ainda a reflexão do Santo Padre. Eis então que "o jejum do corpo se transforma
em "fome e sede" de Deus". Em nosso tempo tão marcado pelas imagens e palavras, o
Pontífice nos convida a darmos espaço à Palavra de Deus. Portanto, não basta somente
o jejum do corpo:
"Parece-me que o tempo da Quaresma poderia também ser um
tempo de jejum das palavras e das imagens, porque precisamos de um pouco de silêncio.
Precisamos de um espaço sem o bombardeio permanente das imagens (...) de criar-nos
espaços de silêncio e também sem imagens, para reabrir o nosso coração à imagem e
Palavra verdadeiras." (Encontro com os párocos romanos, 7 de fevereiro de 2008)
(RL)