São José do Rio Preto, 08 mar (RV) - Vivenciamos o “Ano Sacerdotal” numa oportunidade
especial para que cada presbítero renove seu propósito interior assumido no dia de
sua ordenação sacerdotal. Nas intenções do papa Bento XVI, o alvo a ser atingido é
aquele vivido pelo patrono dos padres, São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, na disponibilidade
e entrega total de si mesmo.
A vida sacerdotal teve um íter diversificado nos
vários momentos da história. Podemos destacar os inícios da Igreja, a Idade Média
e os tempos modernos. No primeiro caso, o ministério sacerdotal era mais em sintonia
com a comunidade. No segundo momento, dominava o clericalismo extremo. Na nova cultura,
há uma tendência muito secularista.
O que se observa hoje é um grande desgaste
na identidade sacerdotal, tendo como atitudes os sinais de fidelidade e de mediocridade.
Dentro das críticas da cultura hodierna, que observa um lado obscuro da vida clerical,
falamos de vocação e de profissão. São dois caminhos de realização humana e distintos
nos seus reais objetivos.
Quem se sente realmente vocacionado para a vida sacerdotal,
tê-la como profissão não se satisfaz. A vocação supera o simples caminho profissional.
Ela exige mais entrega de si mesma, de dedicação, empenho e sacrifício. O seu caráter
tem mais sentido de perenidade e dimensão definitiva. Vocação é serviço, é ser servo
de todos e é dom do Espírito.
Como dom de Deus, a vocação deve corrigir, em
todos os presbíteros, o simples acento funcionalista. O padre não pode ser funcionário
do sagrado, principalmente por saber que a vocação brota do coração, da sua própria
identidade, que ultrapassa, em muito, uma simples profissão ou funcionalismo do altar.
O
bom profissional busca suas habilidades participando daquilo que o capacita para agir.
Para isto há os cursos de “qualidade total” com requinte de perfeição. A qualidade
do sacerdote vem de sua experiência de vida com Deus. Sem isto, a ação do padre não
passa de uma profissão e perde sua força missionária.
A tônica da Igreja é
o Povo de Deus, de onde surgem as vocações para a vida sacerdotal. Podemos dizer que
a vocação nasce do povo e é colocada a serviço desse mesmo povo. Na nova cultura,
todo padre corre o risco de cair na superficialidade, na cultura da imagem, não dando
mais sentido aos símbolos.
A estética, a aparência e os exteriorismos, também
litúrgicos, reforçam a infecundidade do ministério sacerdotal. A mídia é importante,
atrai multidões, encanta as pessoas, mas exalta muito o aspecto individualista do
cristão. Nem sempre consegue integrar as pessoas na vida comunitária.
Ao falar
de encontro pessoal com Jesus Cristo, de conversão e de discípulos missionários, a
Igreja revela sua preocupação com a identidade dos cristãos. Não adianta dizer “Senhor,
Senhor”. É preciso agir com vocação alimentada no seguimento do Mestre, com convicção
e propósitos firmes.
A partir de tudo exposto, fazendo uma total revisão nas
nossas atitudes de vocacionados, podemos dizer que o Ano Sacerdotal poderá atingir
os objetivos almejados. Como sacerdotes, deixaremos de ser simples profissionais,
para ser imagem do Cristo Sacerdote na construção do Povo de Deus.
Dom Paulo
Mendes Peixoto Bispo de São José do Rio Preto.