A importância da dimensão feminina na Igreja e na sociedade, segundo o Papa Bento
XVI
(8/3/2010) Desde o início do seu pontificado, Bento XVI proferiu diversas intervenções
dedicadas às mulheres, destacando a importância da dimensão feminina na Igreja e na
sociedade. A 9 de Fevereiro de 2008, assinalando o 20.º aniversário da publicação
da carta apostólica “Mulieris Dignitatem”, de João Paulo II, o actual Papa condenava
“uma mentalidade machista que ignora a novidade do cristianismo, o qual reconhece
e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem”. “Existem
lugares e culturas em que a mulher é discriminada ou subestimada unicamente pelo facto
de ser mulher, onde se faz recurso até a argumentos religiosos e a pressões familiares,
sociais e culturais para sustentar a desigualdade dos sexos, onde se perpetram actos
de violência contra a mulher, tornando-a objecto de atrocidades e de exploração na
publicidade e na indústria do consumo e da diversão”, alertou. Neste contexto,
o Papa considerou urgente que os cristãos promovam uma cultura que reconheça à mulher,
“no direito e na realidade dos factos, a dignidade que lhe compete”. Em Angola,
a 22 de Março de 2009, o Papa falou aos movimentos católicos para a promoção da mulher,
alertando para “as condições desfavoráveis a que estiveram – e continuam a estar –
sujeitas muitas mulheres, examinando em que medida a conduta e as atitudes dos homens,
às vezes sem sensibilidade ou responsabilidade, possam ser a causa daquelas”. Bento
XVI lembrava que “a história regista quase exclusivamente as conquistas dos homens,
quando, na realidade, uma parte importantíssima da mesma se fica a dever a acções
determinantes, perseverantes e benéficas realizadas por mulheres”. Em Janeiro deste
ano, Bento XVI como subsecretária do Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP) Flaminia
Giovanelli, que integra a equipa deste Conselho há mais de 35 anos. Os responsáveis
do CPJP destacam que “a nomeação de Giovanelli confirma a grande confiança que a Igreja
e o Papa Bento XVI depositam nas mulheres”. Antes dela, a leiga Rosemary Goldie
desempenhou um cargo semelhante no Conselho Pontifício para os Leigos e a Ir. Enriaa
Rosanna é a actual subsecretária da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada
e as Sociedades de Vida Apostólica. Feminismo(s) Em Agosto de 2004, ainda
Cardeal, Joseph Ratzinger assinava uma “Carta aos Bispos da Igreja Católica, sobre
a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo”, na qual se critica o feminismo
radical e se lembra a importância das mulheres na vida da Igreja. O documento aborda
a antropologia cristã que propõe a igualdade de dignidade pessoal entre o homem e
a mulher, no respeito de sua diversidade, e a necessidade de superar e eliminar qualquer
discriminação. Enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o actual
Papa lembrava a oposição da Igreja à “ideologia de género”, cujo objectivo é superar
um suposto determinismo biológico. Nesse sentido, foi dada uma atenção particular
à tendência do feminismo radical, nos EUA, cuja porta-voz é Judith Butler. “A mulher,
para ser ela própria, porta-se como rival do homem. Aos abusos do poder, responde
com uma estratégia de busca do poder e esse processo conduz a uma rivalidade entre
os sexos", pode ler-se. No documento é criticada "a tendência para sublinhar fortemente
a condição de subordinação da mulher, com vista a suscitar uma atitude de contestação".
"A ocultação da diferença ou da dualidade de sexos tem consequências enormes a diversos
níveis", afirma-se nesta carta aos bispos. A missiva relembra que a ordenação sacerdotal
é exclusivamente reservada aos homens, mas assegura que isso "não impede às mulheres
de terem acesso ao coração da vida cristã". Entre as recomendações do documento
da Congregação para a Doutrina da Fé está uma promoção das mulheres na vida pública
e social, o reconhecimento social e económico do papel de mãe e o reconhecimento da
mulher dentro da Igreja. "As mulheres desempenham um papel de máxima importância
na vida eclesial, lembrando essas disposições a todos os baptizados e contribuindo
de maneira ímpar para manifestar o verdadeiro rosto da Igreja, esposa de Cristo e
mãe dos crentes", pode ler-se. O tema foi retomado numa audiência geral de Bento
XVI, a 14 de Fevereiro de 2007, dedicada às mulheres e à sua responsabilidade eclesial
desde as primeiras comunidades cristãs até hoje. “Além dos Doze, colunas da Igreja,
pais do novo Povo de Deus, são escolhidas no número dos discípulos também muitas mulheres.
Apenas brevemente posso mencionar aquelas que se encontram no caminho do próprio Jesus,
a começar pela profetisa Ana (cf. Lc 2, 36-38), até à Samaritana (cf. Jo 4, 1-39),
à mulher sírio-fenícia (cf. Mc 7, 24-30), à hemorroíssa (cf. Mt 9, 20-22) e à pecadora
perdoada (cf. Lc 7, 36-50). Não me refiro sequer às protagonistas de algumas parábolas
eficazes, por exemplo a uma dona de casa que amassa o pão (cf. Mt 13, 33), à mulher
que perde a dracma (cf. Lc 15, 8-10), à viúva que importuna o juiz (cf. Lc 18, 1-8)”,
afirmou. “Mais significativas para o nosso assunto são aquelas mulheres que desenvolveram
um papel activo no contexto da missão de Jesus. Em primeiro lugar, o pensamento dirige-se
naturalmente à Virgem Maria que, com a sua fé e a sua obra materna, colaborou de modo
único para a nossa Redenção, tanto que Isabel pôde proclamá-la "bendita és tu entre
as mulheres" (Lc 1, 42), acrescentando: "Feliz de ti que acreditaste" (Lc 1, 45). Para
Bento XVI, é claro que “a história do cristianismo teria tido um desenvolvimento muito
diferente, se não houvesse a generosa contribuição de muitas mulheres”. (Em
Ecclesia)