Rio de Janeiro, 27 fev (RV) - Nos últimos anos temos visto na Igreja o incremento
do ministério do Diácono Permanente. Não resta dúvida de que os padres conciliares
foram inspirados para esta restauração. A retomada desse ministério, como uma vocação
própria, é uma grande riqueza para nós.
Tive a oportunidade de poder vivenciar
várias experiências ligadas ao diaconato permanente, seja em minha paróquia, seja
iniciando a escola diaconal em minha primeira diocese ou então continuando uma caminhada
das mais antigas do Brasil, na arquidiocese anterior a que servi. Percebi a importância
e o valor do diaconato permanente, tanto no campo social como na presença evangelizadora
da Igreja nos diversos âmbitos e também nas comunidades. Posso testemunhar por minhas
experiências a riqueza da vida, da missão e trabalho diaconal o bem que se faz à Igreja.
Nem
sempre as pessoas compreendem como esse passo que o Concílio Vaticano II nos deu foi
profético. Muitos selecionam do Concílio apenas aquilo que querem e não acolhem esse
grande dom que nos foi dado. Muitas comunidades no Brasil e no exterior já deram grandes
passos nessa direção, enriquecendo a Igreja local com os diversos carismas e dons.
Se
nos atualizamos com alguns números do Anuário Pontifício, ficamos impressionados com
a vida diaconal em algumas dioceses nos Estados Unidos: Nova York conta com 377 diáconos,
Los Angeles possui 261, e Boston com 257. Os pastores dessas megalópoles, com todos
os seus desafios pastorais e sociais tão grandiosos quanto os nossos, souberam acolher
a proposta conciliar e deram passos que hoje marcam o trabalho dessas Igrejas.
O
importante é que “é preciso superar uma inércia ministerial das Igrejas, acostumadas
a ver só um tipo de ministério ordenado na comunidade” (doc. 57 - pg. 22 – Estudos
da CNBB - 1988). A ação do Espírito Santo se adiantou às nossas necessidades e missão.
Aqui na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro começou uma das primeiras
iniciativas para a ordenação de diáconos permanentes ainda com o meu predecessor,
Cardeal Dom Eugênio, sendo ele também um dos pioneiros na defesa desse ministério.
Tive a graça de suceder em Belém e aqui no Rio de Janeiro a Arcebispos pioneiros que
trilharam esse caminho, e foram fieis ao Concílio, com a organização desse ministério
hierárquico. Acredito que seria muito importante uma história dessa vocação, seus
inícios, passos e com mais dados e fatos em nossa Igreja do Rio de Janeiro.
A
nossa Arquidiocese criou a sua Escola Diaconal, onde os candidatos passam quase 5
anos de intensa formação doutrinal, pastoral e sacramental, de acordo com as horas-aula
que são exigidas segundo os documentos que organizam a formação diaconal.
Com
toda esta história e com o trabalho sendo bem desenvolvido, peço a Deus que nos envie
muitas vocações para que possamos incrementar ainda mais, com o diaconato permanente,
a nossa missão evangelizadora e catequética nesta grande cidade. Tive a alegria de
ordenar, no dia 28 de novembro passado, o mais novo grupo de diáconos permanentes,
que vem somar forças com aqueles que já caminham e servem a esta Igreja com generosidade
e alegria. Agora necessitamos de olhar adiante e para o futuro.
Confio principalmente
aos párocos o discernimento vocacional para que, consultadas as comunidades e os conselhos
paroquiais, indiquem candidatos para serem encaminhados nessa direção. Em uma cidade
como a nossa não podemos nos acomodar e sim nos colocar à escuta do Senhor para que
saibamos acolher os trabalhadores que Ele envia para a messe. Os párocos devem
perceber em suas comunidades aqueles homens capazes de assumir essa caminhada vocacional,
e também estar abertos para as vocações que lhe chegam espontaneamente ou indicadas
por pessoas conhecidas que querem o bem da Igreja.
A própria comunidade paroquial
é fonte de vocações desses homens que estão dispostos a uma doação mais radical e
profunda pela causa do Evangelho. É um belo testemunho que temos ao nosso redor com
tantas pessoas de diversas situações culturais e sociais se colocarem a serviço do
povo de Deus com generosidade e alegria, autorizados pelas esposas e com a alegria
dos filhos.
Somos chamados a dar testemunho e nos empenharmos numa lógica de
comunhão ministerial, onde percebamos que a vida ministerial deve estar completa para
que possa transparecer todo o múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, cabeça
e fundamento de toda a vida vocacional na Igreja.
E que possamos, assim,
perceber toda a riqueza de vocações e de serviços que existem no corpo da Igreja,
onde todos estão a serviço de um único Senhor e de um único Evangelho. Todos, sendo
diferentes na sua caminhada vocacional, e sendo diferentes no modo de vida na qual
assumem os seus propósitos de bem servir à Igreja de Cristo, devem ter o firme propósito
de completar em si mesmos o único ministério do Cristo, e do qual emanam todas as
vocações.
Quero pedir, portanto, a todos os sacerdotes, e em especial aos
párocos de nossa Arquidiocese, que, em comunhão com as diretrizes desta nossa Igreja
particular do Rio de Janeiro, possam se empenhar para o frutuoso incremento das vocações
diaconais. Quero reafirmar que estarei sempre empenhado, seguindo a linha de ação
pastoral de meus predecessores, no desenvolvimento da vida diaconal em nossa Arquidiocese,
com tanto vigor quanto tenho pelas vocações sacerdotais e religiosas.
Recordo
que a seleção prévia dos candidatos nas paróquias já é um chamado, e se reveste de
grande importância. A formação e o discernimento aperfeiçoarão esse chamado.
O
caminho institucional é o que atualmente está em vigor: os nomes dos possíveis candidatos
são enviados à Comissão Arquidiocesana dos Diáconos Permanentes (Cadiperj), e, uma
vez aceitos, poderão ingressar no período do propedêutico, com duração de um ano,
e ao seu término poderão ser inscritos na Escola Diaconal Santo Efrém.
Peço
ao Senhor da Messe que nos envie boas e santas vocações diaconais para a nossa Igreja
de São Sebastião do Rio de Janeiro. O cânon 385 nos recorda que: “O Bispo diocesano
incentive ao máximo as vocações para os diversos ministérios”.
Assim respondo
com alegria ao pedido que a Mãe Igreja me pede: promover as vocações em todos os seus
ministérios, e, agora, aqui, especialmente, o ministério diaconal.
+ Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ