2010-02-24 20:09:53

NO VATICANO, DIA DE PENITÊNCIA NOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DA QUARESMA


Cidade do Vaticano, 24 fev (RV) - Para os exercícios espirituais da Quaresma, que o Papa e a Cúria Romana estão vivendo esta semana no Vaticano, hoje é dia penitencial.

O teólogo salesiano Pe. Enrico Dal Covolo aborda nas meditações de hoje o tema da dúvida e da tentação e propõe, simbolicamente, a figura do pároco da zona rural protagonista do célebre romance de George Bernanos ("Diário de um Pároco de Aldeia", ndr).

Bento XVI dedicou amplas paginas de seu Magistério à luta contra a tentação e às respostas que a ela a fé sabe dar. Aproveitamos para recordar algumas das abordagens a esse propósito feitas pelo Santo Padre.

"Se não fosse a vigilante piedade de Deus, creio que na primeira tomada de consciência de si mesmo o homem recairia no pó." Era 1936 quando o mundo conheceu os tormentos interiores do pároco d'Ambricourt, o cura da zona rural nascido da profunda sensibilidade de Bernanos. Nas palavras desse personagem da ficção – hoje proposto à atenção do Papa e de seus colaboradores – percebe-se a repercussão da luta interior, do sentido do limite, da necessidade de uma força maior que todo cristão, especialmente se consagrado, percebe diante das provações que caracterizam a existência.

Sentimentos em plena sintonia com o tempo da Quaresma, descrito por Bento XVI no último Angelus, exatamente como um tempo de "agonismo" espiritual, a ser vivido imitando o estilo de Jesus no deserto:

"Cristo veio ao mundo para libertar-nos do pecado e do fascínio ambíguo de projetar a nossa vida prescindindo de Deus. Ele o fez não com proclamações públicas, mas lutando em primeira pessoa contra o Tentador, até a cruz. Esse exemplo vale para todos: o mundo melhora começando de si mesmo, mudando, com a graça de Deus, aquilo não está bem na própria vida." (21 de fevereiro de 2010)

De fato, é, sobretudo, na Quaresma que a fibra cristã compreende em que modo revigorar-se. As armas a serem punhadas, sempre insistiu o papa, são as armas da fé: oração, penitência, escuta da Palavra que salva. Sabendo – diria o cura de Bernanos – que até mesmo "o desejo da oração já é uma oração":

"A Quaresma seja, por fim, mediante a esmola, o fazer o bem aos outros, ocasião de sincera partilha dos dons recebidos com os irmãos e de atenção às necessidades dos mais pobres e abandonados." (1º de março de 2006)

Nesta luta diária contra a fragilidade, ao abrir o coração a quem sofre fechando-o aos egoísmos, o homem entrevê o caminho para a redenção à luz de Cristo que – explica Bento XVI – passa das tentações do deserto de Judas à transfiguração do monte Tabor, como narrará o Evangelho do próximo domingo:

"A luta com o tentador preludia o grande duelo final da Paixão, ao passo em que a luz de seu Corpo transfigurado antecipa a glória da Ressurreição. De um lado vemos Jesus plenamente homem, que partilha conosco até mesmo a tentação; por outro, o contemplamos Filho de Deus, que diviniza a nossa humanidade. Desse modo, podemos dizer que esses dois domingos servem de pilares sobre os quais se apóia todo o edifício da Quaresma até a Páscoa e, aliás, toda a estrutura da vida cristã, que consiste essencialmente no dinamismo pascal: da morte à vida." (17 de fevereiro de 2008).

E no horizonte da luta contra tudo aquilo que distancia de Deus deve ser inserida a consciência do perdão. Judas Iscariotes, observou o Papa na audiência geral de 2006, se autodestruiu porque se desesperou não acreditando na possibilidade da misericórdia.

O cura da zona rural (personagem do romance de Bernanos) escreve em seu diário: "pecado contra a esperança: o mais mortal de todos, e talvez o mais acolhido, mais cortejado".

Ao invés – afirma Bento XVI – não se pode duvidar do amor infinito de Deus por toda pessoa:

"É para nós um convite do qual jamais devemos nos esquecer: "Jamais perder a esperança na misericórdia divina". (...) Jesus respeita a nossa liberdade; Jesus espera a nossa disponibilidade ao arrependimento e à conversão: é rico de misericórdia e de perdão." (18 de outubro de 2006)

Uma consciência que se fortalecerá no coração provado do pároco de Bernanos. Dá-se no final do romance, quando o cura moribundo pede a absolvição ao amigo sacerdote que perdeu a fé, e diante da inquietação deste lhe diz com as palavras de Santa Teresinha: "O que importa? Tudo é graça!" (RL)







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