Bispo da Guarda insurge-se contra desequilíbrios na distribuição da riqueza
(23/2/2010) O bispo da Guarda considera que a corrupção, o crescimento da desigualdade
entre pobres e ricos, a ruptura da segurança social e o desequilíbrio das contas públicas
em Portugal resultam da falta de coragem para vencer as seduções da riqueza, do poder
e da facilidade. Na catequese do primeiro Domingo da Quaresma, intitulada “A oração
num mundo secularizado e materialista”, D. Manuel Felício recordou que as tentações
de Jesus no deserto continuam “a colocar-se às pessoas do nosso tempo, a começar por
aquelas que exercem maiores responsabilidades na condução da vida social”. O prelado
recordou que continua a haver “pessoas colocadas em empresas públicas de Portugal
a ganhar num só ano quantias que muitos portugueses, talvez a maior parte, não conseguem
ganhar em toda a sua vida de trabalho”. “Casos deste género bradam aos céus e reclamam
outra justiça diferente daquela que as instituições estão a aplicar”, ajuizou o presidente
da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé e Ecumenismo. Por outro lado, “é difícil
de entender que, estando o sistema de segurança social no nosso país em risco de ruptura,
estejam a tardar os sinais claros de contenção nas reformas exageradamente elevadas
que estão a ser pagas a alguns portugueses”, acrescentou D. Manuel Felício. “Também
não percebemos a falta de coragem para impor tectos salariais a quem mais ganha neste
país e que não se lhes peçam os sacrifícios que lhes deviam ser pedidos para caminharmos
em direcção ao equilíbrio das nossas contas públicas externas, um dos problemas que
mais está a afectar a imagem do nosso país para o exterior e com evidentes repercussões
negativas na vida dos cidadãos portugueses”, assinalou o prelado. A falta de resistência
às tentações e a insensibilidade às necessidades dos mais pobres derivam da “expulsão
de Deus” das relações sociais e da vida pública, fenómeno que “está a abrir caminho
à progressiva imposição da lei do mais forte”. Se a Igreja aceitasse que Deus fosse
relegado “para o reduto intimista das consciências”, estaria “a roubar às pessoas
e à rede das suas relações o factor mais determinante da verdadeira vida com qualidade”. Para
D. Manuel Felício, a vida social em Portugal está a precisar de “corajosas correcções”.