Chuvas torrenciais na Madeira; cenário apocalíptico de destruição e morte
(21/2/2010) Cenário dantesco na ilha portuguesa da Madeira devastada neste sábado
pela chuva e vento Ruas transformadas em rios de lama, casas inundadas, carros
e pessoas arrastadas, pontes derrubadas. Morreram 38 pessoas e há um número incalculado
de desaparecidos. Acrescem 101 feridos e mais de 200 desalojados. A água começou
a descer furiosamente montanha abaixo, arrastou rochas, troncos de árvores e lama,
que rapidamente inundaram caminhos, estradas e casas. Dezenas de carros estacionados
e outros que circulavam nas estradas, incluindo viaturas de bombeiros, foram arrastados
pela fúria das águas. Na Baixa da cidade, as três ribeiras que atravessam o Funchal
- São João, João Gomes e Santa Luzia - rapidamente galgaram as margens e as águas
furiosas e barrentas inundaram ruas, casas e lojas. A Baixa ficou irreconhecível. Por
toda a ilha, houve dezenas de estradas cortadas, quer devido ao entulho e à lama,
quer às derrocadas. Na Ribeira Brava, o segundo concelho mais afectado, uma ponte
ruiu e a localidade da Tabua ficou isolada. Devido às derrocadas, a única estrada
de acesso ao Curral das Freiras - localidade com cerca de quatro mil pessoas no centro
da ilha - esteve intransitável e, até ao início da noite, não havia comunicações.
No centro do Funchal ruíram duas pontes - uma delas bem no centro, junto ao Mercado
dos Lavradores - e o pânico entre a população foi generalizado. Houve vários cortes
de energia e, durante todo o dia, as comunicações móveis e fixas estiveram muito difíceis,
pelo que ninguém conseguia saber dos seus familiares e amigos. Em conferência de
imprensa, o presidente do governo regional Alberto João Jardim disse que a prioridade
era "tratar dos vivos" e garantiu alojamento, roupa e refeições para os desalojados,
em número que ninguém conseguia ontem quantificar. O "grande problema são as acessibilidades",
disse, explicando que a prioridade será limpar as estradas e pediu às Forças Armadas
pontes militares para serem usadas até se construírem novas pontes. O Bispo do
Funchal, D. António Carrilho, manifestou a sua “profunda comunhão e solidariedade”
para com todas as vítimas do “trágico temporal” que assola a Madeira. Em comunicado,
o prelado fala num “cenário de destruição e sofrimento”, na capital madeirense, frisando
que “neste momento difícil e de natural angústia, é importante manter a serenidade
possível e procurar dar atenção aos alertas e orientações, que vão sendo transmitidas
pelas entidades competentes”. D. António Carrilho quis também “reconhecer, aceitar
e agradecer o serviço generoso de quantos, por missão ou em regime de voluntariado,
não se poupam aos riscos e sacrifícios do serviço que lhes é pedido, nomeadamente
as Forças de Segurança, a Protecção Civil e os Bombeiros”. “Rezo e convido os católicos
a rezar, confiando as preocupações e o sofrimento de todos, nesta hora, à Senhora
do Monte, nossa Padroeira, e à Virgem de Fátima, cuja Imagem peregrina entre nós”,
conclui. À Madeira chegou uma mensagem de apoio do presidente da Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga. Este responsável diz comungar “as horas de dor
e de perplexidade experimentadas pelo povo da Madeira”, assegurando “a mais profunda
comunhão humana, cristã e eclesial”. O Arcebispo de Braga deixa votos de que “a
comunidade cristã saiba estar presente, em gestos de autentica proximidade, de modo
que a experiência de comunhão eclesial testemunhe um verdadeiro amor junto daqueles
que sofrem”. Dos Açores veio também a solidariedade do Bispo de Angra, “em nome
pessoal e de toda a Diocese”, para com todo o povo madeirense.