BENTO XVI PRESIDE CONSISTÓRIO PARA CANONIZAÇÃO DE SEIS BEATOS
Cidade do Vaticano, 19 fev (RV) - Quatro futuros santos e santas coetâneos
de três continentes – todos nascidos em meados do Séc. XIX – e dois outros que viveram
entre os Sécs. XV e XVI. Concentram-se nesses dois arcos de tempo os episódios dos
seis bem-aventurados objeto do Consistório ordinário público presidido na manhã desta
sexta-feira no Vaticano pelo Santo Padre, que fixou para o dia 17 de outubro próximo
a data das canonizações.
Repercorrer as etapas da vida de uma Santa ou de um
Santo é como apresentar uma época histórica a partir do seu lado melhor, o das pessoas
que serviram à Igreja servindo e beneficiando a sociedade do seu tempo.
Foi
o que foi feito esta manhã, no Vaticano, quando Bento XVI abriu e presidiu – com a
Hora Média da Liturgia das Horas – a celebração do Consistório para a votação sobre
seis Causas de canonização.
Maria Helena Mackillop (1842-1909), que no dia
17 de outubro de 2010 se tornará a primeira Santa Australiana, nasceu no Séc. XIX
em Melbourne.
A Austrália da época era um conjunto de colônias marcadas por
uma vida pobre e primitiva. Pobre era também a família da jovem que, embora atraída
pela vida religiosa, teve que colocar esse desejo de lado para poder contribuir com
o sustento dos seus.
Aos 18 anos tornou-se professora numa pequena cidade do
sul do país. Com o pároco, Pe. Woods, criou as primeiras duas escolas católicas para
a educação gratuita, lutando contra a chaga do analfabetismo. Logo cedo encontrou
um grupo de jovens prontas a tornarem professoras voluntárias, e com elas deu início
ao primeiro núcleo das Irmãs de São José do Sagrado Coração de Jesus, simplesmente
chamadas de Josefinas.
Todas elas aprenderam da Madre Maria Helena – como logo
passou a ser chamada – a educar as crianças, como também a ajudar as suas famílias,
e a ser "família" para os detentos, dos quais ninguém se ocupava.
Outro Beato
a ser canonizado em outubro próximo é André Bassette (1845-1937), canadense de Montreal.
Órfão aos 12 anos e depois emigrado para os EUA, aprendeu a honrar São José de modo
particular.
Voltando à sua cidade, entrou como Irmão André na Congregação da
Santa Cruz, assumindo a tarefa de porteiro do Colégio de Notre Dame, função que desempenhará
durante 40 anos. Mas era também enfermeiro, barbeiro, horticultor e, sobretudo, um
homem de Deus.
Com a sua devoção a São José obteve, por intercessão do Santo,
extraordinárias curas, e a sua cela se tornou meta de um constante afluxo de pessoas
de todas as condições sociais. Etiquetado como pessoa de saúde frágil, Irmão André
morreu aos 91 anos, em 1937, e para o Canadá foi dia de luto nacional.
Outra
futura santa é a espanhola Joana Josefa Cipitria y Barriola (1845-1912). Semianalfabeta,
desde cedo manifestou duas vocações particulares: à Eucaristia e à Virgem. O fruto
dessa profunda interioridade se colhe na predileção pelos pobres, com os quais dividia
o alimento, roupa e boa parte de seu salário.
Nessa dinâmica de vida, a idéia
da consagração religiosa amadureceu rapidamente e mais tarde, em 1869, uma intuição
abriu-lhe o coração ao projeto hoje difundido em grande parte do mundo: a fundação
das Irmãs Filhas de Jesus. Mudou o seu nome para Cândida Maria e o Instituto nasceu
em Salamanca em 1871.
Na metade do Séc. XIX nasceu em Casoria, próximo a Nápoles
– sul da Itália – Julia Salzano (1846-1929). Crescida num orfanato, tornou-se professora
do 1º grau, unindo a sua capacidade pedagógica a uma intensa preparação espiritual.
Ao tempo em que ensinava, organizava ateliês de costura para o adorno das igrejas
pobres e tal era a sua dedicação que suscitou apreços tanto eclesiais quanto civis.
A sua consagração religiosa deu-se em 1905 e pouco antes havia tomado pé a fundação
das Irmãs Catequistas do Sagrado Coração de Jesus. A futura Santa era uma catequista
inspirada e amorosa para com todas as categorias de pessoas, com uma grande predileção
pelo culto do Sagrado Coração de Jesus.
Outra futura Santa é a italiana Camila
Battista Varano (1458-1524), filha de um príncipe Julio César de Verano, senhor de
Camerino. Cresceu no palácio, em meio às diversões que a nobreza lhe assegurava. E,
no entanto, naquele clima de volubilidade se acendeu nela a centelha de sua profundidade
espiritual. Entre os 8 e os 10 anos, conta ela mesma numa autobiografia, havia feito
um voto, após ter ouvido uma pregação do franciscano Domenico de Leonessa, de derramar
uma lágrima toda sexta-feira em recordação à Paixão de Cristo.
Escolheu a clausura,
opção à qual o pai se opôs fortemente, mas a sua vontade foi mais forte do que tudo.
Vestiu o hábito franciscano no mosteiro de Santa Clara de Urbino, tomando o nome de
Irmã Battista.
Em 1433 nasceu na Polônia Estanislau Kazimierczyk. Seu pai era
assessor municipal e a mãe era dona de casa. Estudou na paróquia administrada pelos
Cônegos Regulares de Latrão. Foi o encontro que marcou a sua vida.
Em torno
dos 23 anos entrou na Ordem e aprofundou com grande diligência o estudo da Bíblia.
Era um homem prático, responsável, mas quando se tornou mestre de noviços, e mais
tarde dos jovens religiosos, foi colocado em evidência o seu caráter por excelência:
o de ser um grande mestre do espírito, muito estimado pelos confrades.
Com
a palavra e a coerência da sua vida religiosa, combateu as derivas insinuadas pelos
primeiros ventos do humanismo, corrente de pensamento fechado à transcendência. Morreu
aos 56 anos (em 1489) e no dia de suas exéquias, como atestam os documentos, se realizaram
muitos milagres, que se contam numerosos à distância de um ano de sua morte. (RL)