Rio de Janeiro, 19 fev (RV) - Quarta-feira passada iniciamos com toda a Igreja
o tempo da Quaresma, que no Brasil também é aprofundada com a Campanha da Fraternidade.
Algumas festas, porém, são celebradas neste tempo de conversão a caminho da Páscoa.
Uma delas é a Festa da Cátedra de São Pedro, comemorada no dia 22 de fevereiro, segunda-feira.
Qual
o sentido de celebrar tal festa? Sem dúvida, trata-se de uma comemoração importante,
pois revela que a Igreja, tal como querida por Jesus, é uma comunhão ordenada, tendo
Pedro à frente. Na Sagrada Escritura, por diversas vezes, a missão de Pedro dentro
da comunhão da Igreja aparece como única. O nome de Pedro encabeça a lista dos Apóstolos.
É Pedro quem fala com Jesus em nome dos demais Apóstolos. Jesus promete fundar sobre
o Apóstolo a sua Igreja, cuja estabilidade não seria jamais ameaçada, e entrega, particularmente
a Pedro, as chaves do Reino dos Céus (cf. Mt 16, 16-19). Jesus também roga pela fé
de Pedro, em particular, a fim de que o príncipe dos Apóstolos confirme os irmãos
na fé (cf. Lc 22, 31-32) Jesus, depois da Ressurre ição, ainda aparece confirmando
a singular missão pastoral de Pedro ao lhe confiar seus cordeiros e ovelhas (cf. Jo
21, 15-17). Pedro também aparece discursando ao povo em nome do colégio dos Apóstolos
(cf. At 2, 14ss.).
Ademais, a tradição dos primeiros tempos da Igreja confirma,
de diversos modos, o papel único de Pedro no seio da comunhão da Igreja. Vale aqui
recordar as belas palavras do grande Arcebispo de Constantinopla, São João Crisóstomo,
sobre o texto de Jo 21, 15-17: “O principal bem que resulta deste amor é o de procurar
a salvação do próximo. O Senhor, prescindindo dos demais Apóstolos, dirige a Pedro
estas promessas, porque Pedro era o primeiro dos Apóstolos, a voz dos discípulos e
a cabeça do colégio. Por isso, depois de apagada a negação, o Senhor o investiu como
prelado de seus irmãos. Não lhe lança em rosto a negação, mas diz: ‘Se me amas, preside
a seus irmãos e dá testemunho agora do amor que sempre demonstraste, sacrificando
por minhas ovelhas a vida que disseste que darias por mim’” (In Joannem, hom. 87).
A
Cátedra de Pedro é o símbolo da missão magisterial que o Apóstolo recebeu do próprio
Cristo. Os ensinamentos de Pedro procuram atualizar os ensinamentos de Jesus. A missão
de Pedro é a de fazer com que o mistério do Filho de Deus, – Caminho, Verdade e Vida
–, seja conhecido e amado pelos homens. Nesse sentido, estar em comunhão com o magistério
autorizado de Pedro é estar em comunhão com a doutrina de Cristo. O antigo ditado
latino expressa muito bem este sentimento: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia” – Onde está
Pedro, está a Igreja.
Em alguns momentos da história muitos se esqueceram do
mandato de Jesus de viver a unidade! Somos chamados a ser corajosas pessoas da comunhão,
da unidade entre nós e com Pedro e seu sucessor, caminhando como Igreja que anuncia
hoje a boa notícia ao mundo com a mesma coragem dos primeiros discípulos.
O
Apóstolo Pedro tem nos Papas seus legítimos sucessores. A cidade de Roma foi honrada
pela presença e pelo martírio de São Pedro, que assim a consagrou como Sede Apostólica.
Nós honramos a Sede de Pedro com o carinhoso e respeitoso título de Santa Sé. A Cátedra
de Pedro é hoje ocupada pelo Papa Bento XVI. Ao longo da história, Deus mesmo é quem
sustenta a Igreja na terra e o Papa que está à sua frente. A Cátedra de São Pedro
foi ocupada por inúmeros nomes ilustres e santos, que se distinguiram seja pelo zelo
pelas coisas de Deus, pela preservação e transmissão da sã doutrina, pela missão,
pela sabedoria ou pelo serviço da caridade. Sabemos também que a fragilidade humana
marcou a história do papado. Entretanto, nada de contrário a o sentido verdadeiro
da Palavra de Deus foi oficialmente ensinado por um Papa, por menos digno que ele
fosse, o que revela a ação de Deus assistindo à sua Igreja. Na verdade, Deus faz com
que o ouro do Evangelho chegue incólume aos fieis!
Nestes últimos tempos assistimos
como a ação do Espírito Santo faz com que tenhamos as pessoas necessárias para o nosso
tempo e para que a Igreja continue na fidelidade a Cristo e ao Evangelho no caminhar
da história. A lista e a diversidade dos últimos Papas nos demonstram isso.
O
atual Papa Bento XVI destaca-se, entre outras coisas, pela coragem que tem de propor
aos homens de nosso tempo a autêntica mensagem de Jesus, sem atenuações ou diminuições.
Sabemos que o mundo atual, a diversos títulos, afasta-se de Deus e do seu Cristo.
O consumismo, o hedonismo e o individualismo se apresentam hoje como deuses que reclamam
culto de adoração. O secularismo e a indiferença religiosa parecem tomar proporções
consideráveis. O desprezo pela verdade e o descaso, em muitos casos, pela dignidade
da vida humana, principalmente em sua fase inicial e terminal, são realidades que
estão aí. Apesar de tudo, Bento XVI não se intimida e propõe, com frescor sempre renovado,
os valores do Evangelho. O Papa tem a consciência de que a Mens agem de Cristo nada
tem a tirar de tudo aquilo que faz a vida boa e bela. Cristo não nos tira nada. Ao
contrário, Cristo nos dá tudo. Se quisermos correr o belo risco por aquilo que verdadeiramente
vale a pena na vida abracemos para valer a doutrina de Cristo, tal como a Igreja,
com seu magistério autorizado, no-la transmite. “Tomai meu jugo sobre vós e recebei
minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para
as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt 11, 29-30).
Na
festa da Cátedra de São Pedro façamos a Deus uma prece de louvor e agradecimento.
Deus caminha conosco. Jesus é nosso irmão. O Espírito da Verdade guia a Igreja, a
fim de que a obra de Cristo sempre produza frutos. Aliás, a promessa de Jesus foi
exatamente esta: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda
a verdade [...]” (Jo 16,13). Renovemos, pois, a nossa fé e a nossa gratidão. O ministério
de Pedro e de seus sucessores, os Papas, é um verdadeiro dom para a comunhão dos irmãos
em Cristo. Sabemos que existe na Igreja uma instância auto rizada, guiada pelo Espírito,
para ser sinal de nossa unidade e interpretar autenticamente a Mensagem de Jesus.
Esta não ficou entregue ao vento, mas foi confiada à Igreja, que tem em sua base a
“Pedra” escolhida por Jesus como sólido fundamento.
Neste Ano Sacerdotal, rezemos
por todos os sacerdotes e, de modo especial, pelo Papa Bento XVI, que hoje é Pedro
para nós!
+ Orani João Tempesta,
O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ