CARDEAL BERTONE NA POLÔNIA: LECTIO MAGISTRALIS SOBRE O TEMA "DEMOCRACIA E IGREJA"
Varsóvia, 11 fev (RV) - "Democracia e Igreja": esse foi o título da lectio
magistralis que o cardeal secretário de Estado Tarcisio Bertone deu na manhã desta
quinta-feira na Pontifícia Faculdade Teológica da Universidade de Wroclaw, na Polônia,
por ocasião da entrega ao purpurado do Doutorado honoris causa. A cerimônia
foi precedida por uma celebração eucarística na catedral de São João Batista.
Um
tema certamente de grande atualidade. O Cardeal Bertone partiu da definição de direitos
humanos chamados "universais não porque aprovados e reconhecidos por maiorias parlamentares
e pela opinião pública", mas porque referidos à natureza do ser humano, inalterada
"na transformação das condições sociais e históricas".
O purpurado esclareceu
que outra coisa é falar de direitos individuais, "transformando desejos a serem satisfeitos
em direitos" sem fundamento universal.
Em seguida, o Cardeal Bertone perguntou-se
se o princípio da soberania popular – que funda as modernas democracias eletivas –
pode ser aplicado também à Igreja, considerando "que é diferente a natureza" de Estado
democrático e de Igreja.
O cardeal secretário de Estado observou ainda que
as origens e os fins de ambos são diferentes, embora "não faltem também na Igreja
elementos de forte afinidade "que a fazem respirar democraticamente", a partir da
"centralidade da pessoa humana": e não há duvida de que "um impulso decisivo" nesse
sentido tenha sido dado pelo Concílio Vaticano II – disse.
O purpurado defendeu
que a Igreja não pode tornar-se uma democracia, embora diversos movimentos hoje reclamem
a sua "democratização" "para se passar de uma Igreja considerada paternalista", "colocada
de cima para baixo", "a uma Igreja-comunidade".
Essas críticas e aspirações
correspondem à idéia de "uma Igreja que se constitui mediante discussões, acordos,
decisões e que, no debate, faz emergir aquilo que pode ser exigido do fiel". E "também
a liturgia não foge desse processo, na medida em que não deve corresponder a um esquema
prévio já estabelecido", mas surgir "por obra da comunidade pela qual é celebrada".
Uma
Igreja, fruto de autodeterminação democrática, apresenta, porém, perguntas precisas:
"A quem cabe o direito de tomar decisões? As decisões devem ser tomadas baseadas em
que?"
O secretário de Estado vaticano observou que "uma Igreja que repousa
somente em decisões da maioria se torna uma Igreja puramente humana, reduzida a nível
daquilo que é factual e plausível", "onde a opinião substitui a fé".
Então,
como "superar uma análoga crise"? O Cardeal Bertone indicou, em primeiro lugar, o
caminho da "comunhão" eclesial, fazendo e decidindo juntos, porque – ressaltou – convocados
por Cristo a construir a Igreja para anunciar a salvação do mundo, priorizando o testemunho,
e não a representatividade.
Eis, portanto, que a relação entre bispos e fiéis
não pode ser resolvida em termos "de controle de poder", mas "de experiência de comunhão".
"A comunhão, todavia – observou – se não quiser reduzir-se a uma expressão somente
sentimental e por isso facilmente evitável – concluiu – exige que os bispos vivam
em comunhão com os seus fiéis, colaborando em todos os setores da vida eclesial."
(RL)