Cidade do Vaticano, 25 jan (RV) – As relações entre Igreja Católica e o mundo
judaico encontram-se “no centro de um processo evolutivo”: foi o que afirmou, em uma
entrevista à Rádio Vaticano, o rabino David Rosen, diretor do Comitê Judaico Americano,
comentando a recente visita de Bento XVI à Sinagoga de Roma. “Espero – acrescentou
– que esses eventos façam calar tantos medos e tantas suspeitas”. “Nós continuaremos
a trabalhar: com o tempo alguns conseguiremos convencer, outros não”, prosseguiu o
rabino recordando ainda que certos elementos de polêmica, como o perdão aos lefebvrianos,
não estão ligados a esse pontificado pois o então Papa João Paulo II já havia iniciado
o percurso de aproximação com os ultra-tradicionalistas.
E críticas – destacou
o rabino Rosen – foram feitas também por ocasião da primeira visita de Wojtyla à Sinagoga
de Roma, em 1986. Mas a evolução “nas relações judaico-católicas é hoje muito grande,
muito importante para que se possa permitir a uma só dessas suspeitas boicotar ou
colocá-la de qualquer modo em séria dificuldade”, concluiu.
Por sua vez, segundo
o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, a visita de Bento
XVI à Grande Sinagoga de Roma, ocorrida em 17 de janeiro passado, consolidou as bases
para um desenvolvimento das relações entre cristãos e judeus. Padre Lombardi definiu
o encontro como “memorável”, destacando sua importância na renovação de um “diálogo
baseado no respeito à criação e aos Dez Mandamentos”. No editorial da última edição
do Octava Dies, periódico informativo publicado pelo Centro Televisivo do Vaticano,
o padre jesuíta disse que a presença do pontífice na Sinagoga de Roma representa um
passo “irreversível” na direção “do diálogo, da fraternidade e da amizade entre a
Igreja e os judeus”.
De acordo com o diretor da Sala de Imprensa vaticana,
o Papa declarou na ocasião que “o mundo foi criado por Deus e por Ele confiado ao
homem”; e que os Dez Mandamentos “constituem uma luz que possibilita distinguir entre
o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o justo e o injusto, em concordância com o
que dita a consciência de toda pessoa humana”.
Ainda em relação aos Dez Mandamentos,
Padre Lombardi disse que “são palavras antiquíssimas e ao mesmo tempo atualíssimas”.
“Um homem criado por Deus é um homem que deve se responsabilizar diante de Deus pela
criação; um homem que é auxiliado a discernir a diferença entre o bem e o mal, pode
encontrar o caminho mesmo entre a confusão de um pluralismo que tende a eliminar todas
as referências”. “Os sábios do judaísmo sabem disso muito bem, e certamente apreciaram
tal convite tão claro a uma base comum sólida”, assegurou Padre Lombardi.
“Continuaremos
a tratar também de questões do passado e a enfrentar as dificuldades no caminho para
uma compreensão recíproca sempre melhor; mas o que temos em comum desde nossas origens
é imenso e estável como os céus”, concluiu. (SP)