2010-01-19 14:00:01

A Igreja Católica no Médio Oriente: Comunhão e testemunho. Apresentado o texto dos “Lineamenta”


(19/1/2010) O texto dos «Lineamenta» referente à Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente foi apresentado aos jornalistas nesta Terça-feira.
Os «Lineamenta» constituem o primeiro passo de uma consulta mundial, que dará a possibilidade a todas as Igrejas particulares de preparar o Sínodo através da reflexão e do envio de sugestões. Os pareceres serão seleccionados e sintetizados no «Instrumentum laboris», documento de trabalho que será discutido na assembleia sinodal, aqui no Vaticano, de 10 a 14 de Outubro próximo . O tema será “A Igreja Católica no Médio Oriente: Comunhão e testemunho. ‘A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma’
Apresentando o texto, o arcebispo Nikola Eterovic, secretário geral do Sínodo dos Bispos, começou por sublinhar o objectivo pastoral da assembleia, que visa: “confirmar e reforçar os cristãos na sua identidade, mediante a Palavra de Deus e os Sacramentos” e “reavivar a comunhão eclesial entre as Igrejas particulares, para que possam oferecer um testemunho de autêntica vida cristã, jubilosa e atraente”.
Tendo em conta as respostas que deverão chegar até ao fim de Março, será preparado o Documento-base desta assembleia sinodal – o chamado “Instrumentum laboris” – que o Santo Padre, na sua visita apostólica a Chipre, em Junho, entregará aos representantes das Igrejas Orientais Católicas.
O texto dos “Lineamenta”, agora distribuído, consta de três capítulos, com uma introdução e uma conclusão, e inclui uma série de questões, 32 ao todo.

O primeiro capítulo – “A Igreja Católica no Médio Oriente” – evoca brevemente a história das Igrejas do Oriente, que remontam à primeiro Igreja cristã de Jerusalém e se difundiram na região mantendo a unidade essencial na pluralidade das expressões. Igrejas caracterizadas pela apostolicidade e por uma forte índole missionária. Para além da Igreja de rito latino, existem Igrejas Orientais Católicas de cinco diferentes Tradições: Alexandrina (Igreja Copta e Igreja Etiópica), Antioquena (Igreja Siro-Malankaresa, Igreja Maronita e Igreja Síria); Arménia (Igreja Arménia); Caldeia ou Siro-oriental (Igreja Caldeia e Igreja Siro-Malabaresa); Bizantina ou Constantinopolitana (nomeadamente a Igreja Greco-Melquita).
Muitas foram as dificuldades enfrentadas por estas Igrejas ao longo dos dois mil anos de existência. Os “Lineamenta” recordam alguns dos desafios actuais:
- conflitos políticos na região (Israel – Palestina, Iraque, Líbano);
- graves limitações, para as pessoas e comunidades, ao exercício da liberdade de religião e de consciência.
O Documento propõe a formação dos cristãos para que possam viver com ainda maior fidelidade a própria fé na vida privada e pública. Os fiéis são também chamados a continuar a dar o seu precioso contributo à edificação de uma sociedade democrática, que respeite os direitos e deveres de todos os cidadãos.

O segundo capítulo – “A comunhão eclesial” – de índole mais teológica, começa por sublinhar a natureza da comunhão da Igreja, assente no mistério da Santíssima Trindade, para referir a questão da comunhão no interior da Igreja Católica – entre as várias Igrejas Orientais Católicas, que deveriam tornar-se cada vez mais uma riqueza para todos os cristãos do Médio Oriente. Indicados os dois maiores sinais da comunhão eclesial: a celebração da Eucaristia e a comunhão com o Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro Apóstolo e Chefe visível de toda a Igreja.

Finalmente, a terceira parte – “O testemunho cristão” – é o capítulo mais longo. Nele se aborda o testemunho dos católicos já no interior da própria Igreja, mas também fora.
Faz-se notar que precisa de ser incrementado o diálogo com as outras Igrejas e comunidades cristãs (não católicas), nomeadamente através do Conselho das Igrejas do Médio Oriente e do Conselho dos Patriarcas católicos.
O diálogo com o hebraísmo é a peculiaridade das Igrejas de Jerusalém (seis Igrejas Católicas e cinco Ortodoxas, mais duas comunidades eclesiais protestantes). As relações com o judaísmo são condicionadas pela situação política que opõe de um lado os Palestinianos e o mundo árabe e do outro o Estado de Israel. Recorda-se, a este propósito, a necessidade de ter sempre presente a distinção entre o plano religioso e o plano político, evitando absolutamente usar a Bíblia com fins políticos ou a política com objectivos religiosos. Sublinhado o elo religioso entre Judaísmo e Cristianismo, entre o Antigo e o Novo Testamento. Os cristãos estão chamados a encorajar todos os meios pacíficos que possam conduzir à paz através da justiça.
O documento refere também, com relevo, as relações com os muçulmanos. Embora as Constituições da maioria dos Estados do Médio Oriente garantam, na letra, a igualdade dos cidadãos, na prática, em razão da não suficiente distinção entre religião e política, os cristãos vêem-se muitas vezes em situação de não cidadania.
Neste difícil contexto, os cristãos estão chamados a dar um contributo específico e insubstituível à sociedade em que vivem: testemunhando Cristo e os valores do Evangelho em todos os sectores da vida pessoal, familiar e pública.

Na Conclusão, os Lineamenta apresentam as razões – tanto de ordem política como da fé – que fazem com que seja essencial que os cristãos permaneçam no Médio Oriente, continuando a oferecer aí o seu contributo específico para a construção de uma sociedade justa, pacífica e próspera.









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