A Igreja Católica no Médio Oriente: Comunhão e testemunho. Apresentado o texto dos
“Lineamenta”
(19/1/2010) O texto dos «Lineamenta» referente à Assembleia Especial do Sínodo dos
Bispos para o Médio Oriente foi apresentado aos jornalistas nesta Terça-feira. Os
«Lineamenta» constituem o primeiro passo de uma consulta mundial, que dará a possibilidade
a todas as Igrejas particulares de preparar o Sínodo através da reflexão e do envio
de sugestões. Os pareceres serão seleccionados e sintetizados no «Instrumentum laboris»,
documento de trabalho que será discutido na assembleia sinodal, aqui no Vaticano,
de 10 a 14 de Outubro próximo . O tema será “A Igreja Católica no Médio Oriente: Comunhão
e testemunho. ‘A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só
alma’ Apresentando o texto, o arcebispo Nikola Eterovic, secretário geral do Sínodo
dos Bispos, começou por sublinhar o objectivo pastoral da assembleia, que visa: “confirmar
e reforçar os cristãos na sua identidade, mediante a Palavra de Deus e os Sacramentos”
e “reavivar a comunhão eclesial entre as Igrejas particulares, para que possam oferecer
um testemunho de autêntica vida cristã, jubilosa e atraente”. Tendo em conta
as respostas que deverão chegar até ao fim de Março, será preparado o Documento-base
desta assembleia sinodal – o chamado “Instrumentum laboris” – que o Santo Padre, na
sua visita apostólica a Chipre, em Junho, entregará aos representantes das Igrejas
Orientais Católicas. O texto dos “Lineamenta”, agora distribuído, consta de três
capítulos, com uma introdução e uma conclusão, e inclui uma série de questões, 32
ao todo.
O primeiro capítulo – “A Igreja Católica no Médio Oriente” – evoca
brevemente a história das Igrejas do Oriente, que remontam à primeiro Igreja cristã
de Jerusalém e se difundiram na região mantendo a unidade essencial na pluralidade
das expressões. Igrejas caracterizadas pela apostolicidade e por uma forte índole
missionária. Para além da Igreja de rito latino, existem Igrejas Orientais Católicas
de cinco diferentes Tradições: Alexandrina (Igreja Copta e Igreja Etiópica), Antioquena
(Igreja Siro-Malankaresa, Igreja Maronita e Igreja Síria); Arménia (Igreja Arménia);
Caldeia ou Siro-oriental (Igreja Caldeia e Igreja Siro-Malabaresa); Bizantina ou Constantinopolitana
(nomeadamente a Igreja Greco-Melquita). Muitas foram as dificuldades enfrentadas
por estas Igrejas ao longo dos dois mil anos de existência. Os “Lineamenta” recordam
alguns dos desafios actuais: - conflitos políticos na região (Israel – Palestina,
Iraque, Líbano); - graves limitações, para as pessoas e comunidades, ao exercício
da liberdade de religião e de consciência. O Documento propõe a formação dos cristãos
para que possam viver com ainda maior fidelidade a própria fé na vida privada e pública.
Os fiéis são também chamados a continuar a dar o seu precioso contributo à edificação
de uma sociedade democrática, que respeite os direitos e deveres de todos os cidadãos.
O
segundo capítulo – “A comunhão eclesial” – de índole mais teológica, começa por sublinhar
a natureza da comunhão da Igreja, assente no mistério da Santíssima Trindade, para
referir a questão da comunhão no interior da Igreja Católica – entre as várias Igrejas
Orientais Católicas, que deveriam tornar-se cada vez mais uma riqueza para todos os
cristãos do Médio Oriente. Indicados os dois maiores sinais da comunhão eclesial:
a celebração da Eucaristia e a comunhão com o Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro
Apóstolo e Chefe visível de toda a Igreja.
Finalmente, a terceira parte –
“O testemunho cristão” – é o capítulo mais longo. Nele se aborda o testemunho dos
católicos já no interior da própria Igreja, mas também fora. Faz-se notar que
precisa de ser incrementado o diálogo com as outras Igrejas e comunidades cristãs
(não católicas), nomeadamente através do Conselho das Igrejas do Médio Oriente e do
Conselho dos Patriarcas católicos. O diálogo com o hebraísmo é a peculiaridade
das Igrejas de Jerusalém (seis Igrejas Católicas e cinco Ortodoxas, mais duas comunidades
eclesiais protestantes). As relações com o judaísmo são condicionadas pela situação
política que opõe de um lado os Palestinianos e o mundo árabe e do outro o Estado
de Israel. Recorda-se, a este propósito, a necessidade de ter sempre presente a distinção
entre o plano religioso e o plano político, evitando absolutamente usar a Bíblia com
fins políticos ou a política com objectivos religiosos. Sublinhado o elo religioso
entre Judaísmo e Cristianismo, entre o Antigo e o Novo Testamento. Os cristãos estão
chamados a encorajar todos os meios pacíficos que possam conduzir à paz através da
justiça. O documento refere também, com relevo, as relações com os muçulmanos.
Embora as Constituições da maioria dos Estados do Médio Oriente garantam, na letra,
a igualdade dos cidadãos, na prática, em razão da não suficiente distinção entre religião
e política, os cristãos vêem-se muitas vezes em situação de não cidadania. Neste
difícil contexto, os cristãos estão chamados a dar um contributo específico e insubstituível
à sociedade em que vivem: testemunhando Cristo e os valores do Evangelho em todos
os sectores da vida pessoal, familiar e pública.
Na Conclusão, os Lineamenta
apresentam as razões – tanto de ordem política como da fé – que fazem com que seja
essencial que os cristãos permaneçam no Médio Oriente, continuando a oferecer aí o
seu contributo específico para a construção de uma sociedade justa, pacífica e próspera.