PAPA NA SINAGOGA DE ROMA: JUDEUS E CRISTÃOS DEVEM PERCORRER CAMINHO DO DIÁLOGO, DA
FRATERNIDADE E AMIZADE
Roma, 17 jan (RV) - Bento XVI visitou, na tarde deste domingo, a Sinagoga de
Roma. Tal evento consolida o diálogo entre as duas comunidades católica e judaica,
não obstante os momentos de particulares dificuldades.
O papa foi recebido
pelo presidente da Comunidade Judaica de Roma, Riccardo Pacifici, pelo presidente
da Comunidade Judaica Italiana, Renzo Gattegna, e pelo rabino-chefe da Sinagoga de
Roma, Riccardo Di Segni.
O Santo Padre parou diante da lápide que recorda a
deportação de 1.021 judeus para o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em
16 de outubro de 1943. O pontífice se deteve também diante da lápide que lembra o
atentado de 9 de outubro de 1982, em que perdeu a vida Stefano Taché, menino judeu
de dois anos e ficaram feridos 37 judeus que saíam do Templo.
Em seu discurso,
o papa agradeceu ao rabino-chefe da Sinagoga de Roma pelo convite e pelas significativas
palavras a ele proferidas, e às outras personalidades do mundo judaico ali presentes.
A seguir Bento XVI acrescentou: "vindo até vocês pela primeira vez como cristão e
como papa, o meu venerável predecessor João Paulo II, há quase 24 anos, quis dar uma
contribuição decisiva em favor da consolidação das boas relações entre as nossas comunidades,
para superar toda incompreensão e preconceito. Esta minha visita se insere no caminho
traçado, para confirmá-lo e reforçá-lo. Com sentimentos de viva cordialidade me encontro
em meio a vocês para manifestar a estima e o afeto que o Bispo e a Igreja de Roma,
e toda a Igreja Católica, nutrem por esta Comunidade e pelas Comunidades Judaicas
espalhadas pelo mundo."
Bento XVI recordou que o Concílio Vaticano II representou
para os católicos um ponto decisivo de referência constante na atitude e nas relações
com o povo judeu, abrindo uma nova e significativa etapa.
"O evento conciliar
deu um impulso decisivo ao compromisso de percorrer um caminho irrevogável de diálogo,
de fraternidade e amizade, caminho que se aprofundou e se desenvolveu nestes quarenta
anos com passos e gestos importantes e significativos" – frisou ainda o papa.
"Também
eu, nestes anos de pontificado, quis demonstrar minha proximidade e meu afeto ao povo
da Aliança. Conservo bem vivo em meu coração todos os momentos da peregrinação que
tive a alegria de realizar na Terra Santa, em maio do ano passado, como também os
vários encontros com comunidades e organizações judaicas, em particular os das sinagogas
de Colônia e Nova Iorque" – sublinhou Bento XVI.
O Santo Padre disse ainda
que "a Igreja não deixou de condenar as faltas de seus filhos e filhas, pedindo perdão
por tudo aquilo que pôde favorecer de algum modo as chagas do anti-semitismo e do
anti-judaísmo".
O papa frisou que "como ensina Moisés na Shemá – e Jesus confirma
no Evangelho, todos os mandamentos se resumem no amor de Deus e na misericórdia para
com o próximo" – sublinhou o pontífice.
"Cristãos e judeus possuem uma grande
parte comum de patrimônio espiritual, rezam ao mesmo Senhor, possuem as mesmas raízes,
mas continuam reciprocamente desconhecidos um ao outro. Cabe a nós, como resposta
ao chamado de Deus, trabalhar para que permaneça sempre aberto o espaço para o diálogo,
o respeito recíproco, o crescimento na amizade, o testemunho comum diante dos desafios
de nosso tempo, que nos convidam a colaborar para o bem da humanidade neste mundo
criado por Deus, o Onipotente e Misericordioso" – ressaltou Bento XVI.
O Santo
Padre fez um apelo para que na cidade de Roma onde, há dois mil anos, convivem a Comunidade
Católica com seu bispo e a Comunidade Judaica com seu rabino-chefe, tal vivência possa
ser animada por um crescente amor fraterno, que se expressa também na cooperação sempre
mais forte a fim de oferecer uma contribuição válida na solução de problemas e dificuldades
a serem enfrentadas.
O papa concluiu seu discurso invocando do Senhor o dom
precioso da paz na Terra Santa, no Oriente Médio, enfim, no mundo inteiro e pediu
a Deus para que reforce cada vez mais a fraternidade e o diálogo entre católicos e
judeus. (MJ)