Haiti: Sismo fez entre 100 e 500 mil mortos. Fome, dengue e violência são os novos
riscos, com as Organizações humanitárias no terreno a sentirem-se impotentes para
ajudar as vítimas
(14/1/2010) Dirigentes do Haiti estimam que o violento terramoto que abalou a capital
possa ter causado entre cem mil e 500 mil mortes, número que é apenas um cálculo baseado
numa avaliação preliminar. A situação humanitária é de crise profunda. Autoridades
e organizações internacionais calculam que três milhões de pessoas tenham sido directamente
afectadas pelo terramoto de terça-feira à tarde, de magnitude sete na escala de Richter.
Nas horas seguintes, várias réplicas com intensidades entre os 5,5 e 5,9 continuaram
a destruição. E na noite de ontem ainda se repetiam pequenos abalos. O país mais
pobre do hemisfério ocidental não tem recursos próprios para responder a uma calamidade
desta envergadura e os operacionais das agências de assistência humanitária no terreno
nem sabem o que fazer. Há um “afluxo maciço” de vítimas às clínicas improvisadas,
muitas com ferimentos de elevada gravidade, salienta a organização “Médicos sem Fronteiras”
quando a ajuda de emergência internacional começa só agora a chegar a conta gotas
e se temem surtos de doenças epidémicas. As forças de paz no Haiti – que já desempenhavam
um papel de manutenção da ordem pública antes mesmo do terramoto – foram mobilizadas
para manter a capital sob apertada vigilância, temendo-se a eclosão de motins e violência,
depois dos primeiros relatos de pilhagens. Mas também aqui, os destroços de edifícios
e pontes tornam impossível chegar a todas as áreas. A ajuda humanitária para a
população haitiana, entretanto começa a chegar. A bordo de vários aviões que já aterraram
em Port-au-Prince, estão alimentos, mas também cães para procurar pessoas que estejam
soterradas nos escombros. Até agora, a ajuda humanitária aos haitianos tem-se
limitado ao trabalho de grupos privados que estão no terreno e que distribuíram tendas
e mantas aos sobreviventes, uma ajuda que é ainda muito pouca para as necessidades. Para
ajudar a amenizar esta catástrofe, a Cruz Vermelha, que vai enviar ainda esta quinta-feira
40 mil toneladas de medicamentos e kits médicos, já disse que vai necessitar de sete
milhões de euros para assistir as vítimas deste terramoto. A bordo do avião desta
organização seguirá também uma equipa da Cruz Vermelha, sendo que dois destes membros
têm como função colocar em contacto famílias que ficaram separadas, seguindo mais
tarde uma equipa especializada na identificação de corpos. O arcebispo de Port-au-Prince,
D. Joseph Serge Miot, morreu também na sequencia do sismo. O corpo do prelado foi
encontrado nas ruínas do gabinete da arquidiocese. “Port-au-Prince está completamente
devastada. A catedral, o arcebispado, todas as grandes igrejas e todos os seminários
reduziram-se a um monte de escombros”, afirmou o núncio apostólico em Haiti, D. Bernardito
Auza. Os missionários franceses que residem na cidade referiram que muitos dos
sobreviventes estão a refugiar-se em tendas no jardim do Seminário. Não há ainda
notícias sobre o vigário geral da capital haitiana, Mons. Benoît Seguiranno, desaparecido
após o tremor de terra.