BENTO XVI: SEGURANÇA DEMAIS EM SI MESMO DISTANCIA DE DEUS
Cidade do Vaticano, 06 jan (RV) - Bento XVI presidiu na manhã desta quarta-feira,
na Basílica Vaticana, a santa missa, na solenidade da Epifania do Senhor, celebrada
hoje no Vaticano, na Itália e em vários outros países do hemisfério norte. No Brasil,
a solenidade da Epifania do Senhor foi celebrada domingo passado, dia 3 do corrente.
"Hoje,
solenidade da Epifania, a grande luz que irradia da Gruta de Belém, através dos Reis
Magos provenientes do Oriente, inunda toda a humanidade." Com essas palavras, o Santo
Padre iniciou a homilia da celebração, refletindo, em seguida, sobre a primeira leitura,
extraída do Livro do profeta Isaías, e sobre a página do Evangelho de hoje, extraída
de Mateus, que destacam a promessa e o seu cumprimento.
Eis que se mostra a
nós a esplêndida visão do profeta Isaías – observou Bento XVI - o qual, após as humilhações
sofridas pelo povo de Israel por parte das potências deste mundo, vê o momento em
que a grande luz de Deus, aparentemente sem poder e incapaz de proteger o seu povo,
surgirá em toda a terra, de modo que os reis das nações se ajoelharão diante dele,
virão de todos os confins da terra e deporão a seus pés os seus tesouros mais preciosos.
E o coração do povo vibrará de alegria.
Comparando à página do Evangelho proposta
na liturgia desta solenidade, o pontífice observou que em relação a tal visão do profeta,
a que nos apresenta o evangelista Mateus parece pobre e modesta.
Dito isso,
o pontífice acrescentou:
"De fato, chegam a Belém não os poderosos e os reis
da terra, mas Magos, personagens desconhecidos, talvez vistos com suspeita, em todo
caso não dignos de particular atenção. Os habitantes de Jerusalém são informados do
ocorrido, mas não consideram necessário incomodar-se, e nem mesmo em Belém parece
ter alguém que se interesse pelo nascimento deste Menino, chamado pelos Magos de Rei
dos Judeus, ou por estes homens provenientes do Oriente que vão visitá-Lo."
O
papa observou que é compreensível que o coração e a alma dos fiéis de todos os séculos
sejam atraídos mais pela visão do profeta do que pela sóbria narração do evangelista,
como atestam também as representações dessa visita em nossos presépios, onde vemos
os camelos, os dromedários, os reis potentes deste mundo que se ajoelham diante do
Menino e depõem a seus pés os seus dons em cofres preciosos.
Na realidade,
o que Isaías viu com o seu olhar profético? – perguntou-se o papa. Num único momento,
ele percebe uma realidade destinada a marcar toda a história. Mas também o evento
que Mateus nos narra não é um breve episódio de pouca importância, que se conclui
com o retorno às pressas dos Magos a suas terras.
Pelo contrário – observou
o Santo Padre – é um início.
"Esses personagens provenientes do Oriente não
são os últimos, mas os primeiros da grande procissão daqueles que, através de todas
as épocas da história, sabem reconhecer a mensagem da estrela, sabem trilhar nos caminhos
indicados pela Sagrada Escritura e sabem encontrar, desse modo, Aquele que aparentemente
é fraco e frágil, mas que, ao invés, tem o poder de dar a maior e mais profunda alegria
ao coração do homem."
"Efetivamente, n'Ele se manifesta a realidade estupenda
que Deus nos conhece e se faz próximo a nós, que a sua grandeza e poder não se expressam
na lógica do mundo, mas na lógica de um menino inerme, cuja única força é a força
do amor que se confia a nós" – ressaltou o pontífice.
Bento XVI observou ainda
que no caminho da história sempre houve pessoas que foram iluminadas pela luz da estrela,
que encontram o caminho e chegam a ele. Todas essas pessoas vivem, cada uma a seu
modo, a mesma experiência dos Magos.
Eles levaram ouro, incenso e mirra. Não
são certamente presentes que respondem às necessidades primárias ou cotidianas. Naquele
momento a Sagrada Família certamente teria necessidade de algo de diferente do incenso
e da mirra, e nem mesmo o ouro podia ser-lhe útil naquele momento, ressaltou o papa.
Em
seguida, o pontífice explicou o significado profundo desses presentes: são um ato
de justiça.
De fato, segundo a mentalidade vigente naquele tempo no Oriente
– observou – representam o reconhecimento de uma pessoa como Deus e Rei:
Ou
seja, esses presentes são um ato de submissão. Querem dizer que daquele momento em
diante os portadores dos presentes pertencem ao soberano e reconhecem a sua autoridade.
Bento
XVI observou ainda que não somente os Magos se colocaram em caminho, mas que daquele
ato deles algo de novo teve início, foi traçado um novo caminho, desceu no mundo uma
nova luz que não se apagou.
"Aquela luz não mais pode ser ignorada no mundo:
os homens se dirigirão àquele Menino e serão iluminados pela alegria que somente Ele
sabe dar. A luz de Belém continua resplandecendo no mundo inteiro."
A esse
propósito, o pontífice citou Santo Agostinho, que recorda àqueles que acolheram essa
luz:
"Também nós, reconhecendo Cristo como nosso rei e sacerdote morto por
nós, o honramos como se tivéssemos oferecido ouro, incenso e mira; falta-nos somente
testemunhá-lo tomando um caminho diferente daquele pelo qual vimos" (Sermo
202. In Epiphania Domini, 3,4).
Em seguida, o papa observou que se lemos
a promessa do profeta Isaías e o seu cumprimento no Evangelho de Mateus no grande
contexto de toda a história, parece evidente que aquilo que é dito, e que no presépio
buscamos reproduzir, não é um sonho e nem mesmo um jogo inútil de sensações e de emoções,
desprovido de vigor e de realidade, mas é a Verdade que se irradia no mundo, embora
Herodes pareça sempre ser mais forte e aquele Menino pareça sempre poder ser colocado
entre aqueles que não têm importância, ou até mesmo espezinhado.
"Mas somente
naquele Menino se manifesta a força de Deus, que reúne os homens de todos os séculos,
para que sob a sua senhoria percorram o caminho do amor, que transfigura o mundo."
Em
seguida, Bento XVI observou ainda que muitos viram a estrela, mas somente poucos entenderam
a mensagem. "Podemos então perguntar-nos", ressaltou: por que alguns veem e encontram
e outros não? O que abre o coração e os olhos? O que falta àqueles que permanecem
indiferentes, àqueles que indicam o caminho, mas ficam parados?
"Podemos responder",
acrescentou: a por demais segurança em si mesmos, a pretensão de conhecer perfeitamente
a realidade, a presunção de ter já formulado um juízo definitivo sobre as coisas tornam
seus olhos fechados e insensíveis à novidade de Deus. Estão seguros da idéia que fizeram
do mundo e não mais se deixam envolver intimamente pela aventura de um Deus que os
quer encontrar. Colocam a sua confiança mais em si mesmos do que n'Ele e não consideram
possível que Deus seja tão grande a ponto de fazer-se pequeno, de aproximar-se de
nós."
Por fim, Bento XVI ponderou: "o que falta é a autêntica humildade, que
sabe submeter-se àquilo que é maior, falta também a coragem autêntica, que leva a
crer naquilo que é verdadeiramente grande, mesmo se se manifesta num Menino indefeso.
"Falta
a capacidade evangélica de ser crianças no coração, de maravilhar-se, e de sair de
si para tomar o caminho que a estrela indica, o caminho de Deus. O Senhor, porém,
tem o poder de tornar-nos capazes de ver e de salvar-nos."
O papa concluiu
com uma exortação: "Queiramos, então, pedir a Ele que nos dê um coração sábio e inocente,
que nos permita ver a estrela da sua misericórdia, trilhar no seu caminho, para poder
encontrá-lo e ser inundados pela grande luz e pela verdadeira alegria que ele trouxe
a este mundo." (RL)