PAPA: QUEM NÃO ACOLHE JESUS COM CORAÇÃO DE CRIANÇA NÃO COMPREENDE O MISTÉRIO DO NATAL
Cidade do Vaticano, 23 dez (RV) Jesus Menino é o Deus-Amor "inerme", que não
vem para conquistar o mundo "externamente", mas "para ser acolhido pelo homem na liberdade".
Está nisso o significado espiritual do Natal: Bento XVI dedicou à iminente festa da
Natividade a audiência geral desta manhã na Sala Paulo VI, no Vaticano. O papa centralizou
a catequese, em particular, na antiga tradição natalina do presépio de Greccio, que
São Francisco de Assis idealizou quase 800 anos atrás.
A cena assistida pelos
habitantes de uma pequena localidade do alto Lácio, na noite de Natal de 1223, mudou
para sempre a percepção da Natividade na sensibilidade dos cristãos que haveriam de
vir.
O presépio vivo montado por São Francisco na simplicidade de uma estrebaria
de Greccio deu pela primeira vez uma imagem "viva e tocante" do nascimento de Jesus.
Com São Francisco o Natal se abre a "uma nova dimensão" – afirmou com clareza Bento
XVI:
"De fato, a noite de Greccio deu ao cristianismo a intensidade e a beleza
da festa do Natal, e educou o Povo de Deus a acolher nela a mensagem mais autêntica,
o calor particular, e a amar e adorar a humanidade de Cristo (...) Com São Francisco
e o seu presépio foram evidenciados o amor inerme de Deus, a sua humildade e a sua
benignidade, que na Encarnação do Verbo se manifesta aos homens para ensinar um novo
modo de viver e de amar."
O pontífice ressaltou que o Santo de Assis sempre
alimentou o desejo de "experimentar de modo concreto, vivo e atual a humildade e a
grandeza do evento do nascimento". E essa percepção se faz ainda mais importante se
considerarmos que "a festa mais antiga do cristianismo" não é o Natal, mas a Páscoa
– recordou o papa.
Bento XVI explicou que o 25 de dezembro como data da Natividade
remonta aproximadamente ao ano 204 e se deve a Hipólito de Roma, enquanto a celebração
do Natal se afirma numa "forma definida" mais tarde, no Séc. IV, quando toma o lugar
da festa pagã do "Sol invictus", o sol invencível.
O Santo Padre observou que
se com a Páscoa se "havia concentrado a atenção no poder de Deus que vence a morte",
com o Natal "colocou-se desse modo em evidência que o nascimento de Cristo é a vitória
da verdadeira luz sobre as trevas do mal e do pecado. Todavia, a particular e intensa
atmosfera espiritual que circunda o Natal se desenvolveu na Idade Média graças a São
Francisco de Assis, que era profundamente apaixonado pelo homem Jesus, pelo Deus-conosco".
"Graças
a São Francisco o povo cristão pôde perceber que no Natal Deus verdadeiramente se
tornou o "Emanuel", o Deus-conosco, de quem nenhuma barreira e nenhuma distância nos
separa. Naquele Menino, Deus tornou-se tão próximo de cada um de nós, tão próximo,
que podemos chamá-lo de você e manter com ele uma relação confidencial de profundo
afeto, assim como fazemos com um recém-nascido."
E é naquele Menino que se
manifesta a condição "pobre e desconcertante" do Deus-Amor:
"Deus vem sem armas,
sem a força, porque não pretende conquistar, por assim dizer, externamente, mas pretende,
sobretudo, ser acolhido pelo homem na liberdade; Deus se faz menino inerme para vencer
a soberba, a violência, a sede de posse do homem."
O papa concluiu afirmando
que o próprio Jesus nos ensina no Evangelho o modo como "podemos encontrar Deus e
gozar de Sua presença", ou seja, o converter-se e tornar-se como crianças:
"Quem
não acolhe Jesus com coração de criança não pode entrar no reino dos céus: isso foi
o que Francisco quis recordar ao cristianismo de seu tempo e de todos os tempos, até
hoje. Peçamos ao Pai que conceda ao nosso coração aquela simplicidade que reconhece
no Menino o Senhor, justamente como fez Francisco em Greccio (...) São os votos que
faço com afeto a tocos vocês, às suas famílias e a todos que lhes são caros. Bom Natal
para todos vocês!"
Como de costume neste período, ressoaram na Sala Paulo VI
algumas melodias natalinas. E o pensamento do Natal iminente inspirou também as tradicionais
saudações do papa no final da audiência:
"Que o amor que Deus manifesta à humanidade
no nascimento de Cristo possa fazer crescer em vocês, caros jovens, o desejo de servir
generosamente os irmãos. Seja para vocês, caros irmãos enfermos, fonte de conforto
e de serenidade. Inspire vocês, caros recém-casados, a consolidarem a sua promessa
de amor e de recíproca fidelidade."
Por fim o Santo Padre fez, em várias línguas,
um resumo de sua catequese, com uma saudação aos diversos grupos presentes.
Eis
o que disse em português: "Queridos irmãos e irmãs, a tradição natalícia mais bela,
que é o presépio, foi criada por São Francisco de Assis, para recordar a todos como
Deus Se revela nos ternos braços dum Menino. A sua condição de criança indica-nos
como podemos encontrar Deus e gozar da sua presença. É à luz do Natal que melhor se
compreendem estas palavras do Senhor: «Se não vos converterdes e não vos tornardes
como as crianças, não entrareis no reino dos Céus». Amados peregrinos de língua portuguesa,
a todos desejo um Santo Natal, portador das consolações e graças do Deus Menino, a
quem vos encomendo ao dar-vos a minha Bênção".
Bento XVI concluiu
a audiência concedendo a todos a sua Bênção apostólica. (RL-BF)