Cidade do Vaticano, 19 dez (RV) - Paz e meio ambiente. Sobre esta relação,
Bento XVI dedicou sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, a ser celebrado em
1º de janeiro de 2010.
O Santo Padre propõe uma visão cósmica da paz, que deve
ser concretizada num estado de harmonia entre Deus, a humanidade e a criação. Para
o papa, a degradação ambiental expressa não só uma ruptura do equilíbrio entre a humanidade
e a criação, mas também uma deterioração, mais profunda, da união entre a humanidade
e Deus. Assim, refletir sobre a crise ecológica significa, ao mesmo tempo, refletir
sobre uma "crise interior", crise que interpela diretamente o homem, a quem Deus confiou
o mandato de "conservar e cultivar" o mundo.
Bento XVI abstém-se de propor
soluções técnicas. O que faz é exortar a um reequilíbrio da relação entre o Criador,
a humanidade e a criação. Nesta ordem de ideias, ele indica alguns pontos essenciais.
Primeiramente, a necessidade de cultivar uma visão não redutiva da natureza
e do homem. "Considerar a criação como dom de Deus à humanidade – observa Bento XVI
–, ajuda-nos a compreender a vocação e o valor do homem."
Depois, a necessidade
de uma profunda renovação ética e cultural. "As situações de crise, sejam elas de
caráter econômico, alimentar, ambiental ou social – escreve o Papa –, são, em última
análise, crises morais", que põem em causa o comportamento de cada um de nós, os estilos
de vida e os modelos de consumo e de produção atualmente dominantes, muitas vezes
insustentáveis.
Todos somos responsáveis pelo cuidado da criação. É uma responsabilidade
sem fronteiras. Fundamental importância assume a educação para a ecologia, sobretudo
no âmbito da família.
Todavia, especial responsabilidade recai sobre os líderes
em nível nacional e internacional, aos quais o Santo Padre exorta a "atuar uma profunda
revisão do modelo de desenvolvimento, numa perspectiva de largos horizontes, refletindo
por outro lado sobre o sentido da economia e dos seus fins, para corrigir as disfunções
e distorções".
"A herança da criação pertence a toda a humanidade", recorda
o papa. Existe uma responsabilidade das gerações presentes, em relação às futuras:
aquilo que se pode chamar "uma solidariedade intergeracional".
A mensagem
se conclui com um apelo à esperança, para que não se perca de vista a capacidade da
inteligência humana e o sentido da sua dignidade, adotando uma posição realista, mas
não catastrófica da crise ecológica.
Para um comentário a esta mensagem, a
Rádio Vaticano contatou, em Copenhague, Tiago Tavares, que é membro de uma ONG ligada
à Conferência Episcopal Portuguesa. Ele acompanhou na capital dinamarquesa as negociações
sobre o clima: