Alertas de Bispos portugueses para o Natal: Pobreza, consumismo e desemprego
entre as preocupações manifestadas nas mensagens para esta época
(12/12/2009) D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, denuncia na sua mensagem de Natal
“o escândalo da fome” que atinge vários países, incluindo Portugal. “A vida digna
para todos continua a ser uma miragem e torna-se imperioso reconhecer, sem camuflar,
a realidade e encontrar respostas adequadas. Ouçamos, por isso, o grito alucinante
de muitos vizinhos que continuam a viver sem o indispensável”, apela o presidente
da Conferência Episcopal Portuguesa. Além do texto, a mensagem encontra-se disponível
em vídeo, no YouTube. Para o Arcebispo de Braga, “o Advento e o Natal obrigam
a reconhecer a fraternidade e agir dum modo consequente” e condena a “tentação” de
“alhear-se ou esperar que a solução venha de outro lado”. “O dramatismo das situações
não pode esperar. Urge operar com o que se tem e acreditar que a dignidade pode regressar
para muitos com o pouco de cada um”. D. Jorge Ortiga lembra aos crentes “os vizinhos
que, na vergonha, não ousam pedir; aos que perderam o emprego e não conseguem enfrentar
as exigências familiares; aos pedintes e sem-abrigo que não conhecemos mas que necessitam
do calor de um afecto ou de algo para enganar o estômago”. Para muitos, acrescenta,
“ainda acontece o uso exagerado de bens, aos quais se apegam como imprescindíveis.
Só a renúncia consciente ao supérfluo permite a partilha e esta realiza milagres desde
que efectiva e organizada”. Suplemento de fraternidade D. António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima e vice-presidente da CEP, refere na sua mensagem que o Natal
“é uma festa carregada de uma beleza e de uma riqueza humanas inigualáveis”, que “faz
parte do património humano”. O documento apela a um “um suplemento especial de
fraternidade e partilha para nos fazer próximos e ajudar as pessoas e famílias em
dificuldade; a novos modos de vida marcados por novas formas de solidariedade”. “Sem
fraternidade, solidariedade e sobriedade não haverá futuro”, escreve o Bispo de Leiria-Fátima. Para
este responsável, no “firmamento dos últimos dias deste ano 2009 pairam, sobre o mundo
e o nosso país, nuvens negras, densas e ameaçadoras: os reflexos da crise económico-financeira,
o desemprego crescente, as novas situações de pobreza, o cancro tentacular da corrupção,
a quebra de confiança na justiça, a gripe A, as alterações climáticas que ameaçam
o nosso planeta”. “Neste contexto, a mensagem de fraternidade e de paz que Cristo
traz ao mundo chama-nos a viver um Natal diferente”, aponta. Viver a festa Em
Viseu, D. Ilídio Leandro falou do Natal como “um direito de todos e uma prenda de
Jesus para todos – é a prenda e a Festa para os que acreditam em Jesus, para os que
o acolhem no coração e o levam àqueles que o ignoram”. “O Natal de Jesus não pode
ser escondido nem privatizado nem pode ser apenas para alguns”, defendeu o prelado. O
Bispo de Viseu apresenta o Natal como “a Festa, sobretudo, de Jesus que nasceu para
todos e a Festa de todos os que o deixam nascer no coração, na vida, na família, na
escola, no trabalho, na sociedade”. “Nascendo Jesus em todas as pessoas, realidades
e instituições, nasce o Seu projecto de Solidariedade, de Paz, de Justiça, de Verdade,
de Vida, de Amor… Nasce Alegria e Esperança para todos”, precisa. Já o Bispo das
Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Torgal Ferreira, considera que o “clima
mundano, tão presente nesta época singular, é um desvio do Acontecimento fundamental,
ao qual correspondem, felizmente, o júbilo simples dos crentes e de tantos promotores
da grandeza humana”. Para este responsável, é essencial que o “mundo do trabalho”
saiba “exigir sempre o cumprimento da justiça, praticando a realidade do emprego,
da formação profissional, da devida retribuição, do prosseguimento por mérito, da
conveniência fraterna”. Na celebração desta festa, D. Januário apela à “humanidade
de procedimento”, à “defesa dos direitos e deveres” e ao “respeito pelo ambiente”,
como “expressões de uma sociedade democrática, a qual se manifesta por actos e nunca
pela infidelidade a seus ditames”. “O Natal é uma chamada optimista a razões de
viver. É apelo em favor de quem foi excluído do sentido da dignidade e do lugar que
lhe pertencia”, aponta.