2009-12-08 16:53:26

Descobrir a profundidade das pessoas, respeitá-las, vê-las como Deus as vê: esta a mensagem que a Imaculada revela à Cidade. Vibrante alocução do Papa, na Praça de Espanha, junto da imagem da Imaculada Conceição.


“Maria Imaculada ajuda-nos a redescobrir e a defender a profundidade das pessoas, porque nela existe perfeita transparência da alma no corpo”. “Com o seu estilo discreto, ela dá a todos paz e esperança nos momentos felizes e tristes da existência”. “A cidade tem necessidade de Maria, que com a sua presença nos fala de Deus, nos recorda a vitória da Graça sobre o pecado, e nos leva a esperar também nas situações humanamente mais difíceis”.
Reflexões de Bento XVI, na alocução que pronunciou nesta terça-feira à tarde, na Praça de Espanha, em Roma, onde se deslocou para, segunda a tradição, depor uma coroa de flores na imagem de Nossa Senhora, confiando-lhe a Cidade e o mundo inteiro.

“Que diz Maria à cidade? O que é que recorda com a sua presença?” – interrogou-se o Papa, que logo respondeu:

“Ela recorda que onde abundou o pecado, superabundou a graça – como escreve o apóstolo Paulo. Ela é a Mãe Imaculada, que repete também aos homens do nosso tempo: Não tenhais medo, Jesus venceu o mal; venceu-o pela raiz, libertando-nos do seu domínio”.

Bento XVI sublinhou que muito temos necessidade desta boa nova. Até porque, “dia após dia, através dos jornais, da televisão, da rádio, o mal é-nos contado, repetido, amplificado, habituando-nos a ver as coisas mais horríveis, fazendo-nos tornar insensíveis e, de alguma maneira, intoxicando-nos, porque não se consegue diluir plenamente o negativo, que assim se vai acumulando. Endurece-se o coração, obscurecem-se os pensamentos”.

“É por isso que a cidade tem necessidade de Maria, que com a sua presença nos fala de Deus, nos recorda a vitória da Graça sobre o pecado, e nos leva a esperar, mesmo nas situações humanamente mais difíceis”.

Numa discreta alusão a casos muito falados em Itália, nomeadamente em Roma, nas últimas semanas, observou o Papa : “Na cidade vivem – ou sobrevivem – pessoas invisíveis, que por vezes saltam para as primeiras páginas ou para os telejornais, passando a ser exploradas ao máximo, enquanto a notícia e a imagem conseguem prender a atenção. É um mecanismo perverso, ao qual infelizmente muito a custo se resiste”.

“A cidade primeiro esconde e depois expõe ao público. Sem piedade, ou com uma falsa piedade. Ora, existe no coração de cada homem o desejo de ser acolhido como pessoa e considerado uma realidade sagrada, porque cada história humana é uma história sagrada e exige o máximo respeito”.

Bento XVI fez notar que “a cidade somos todos nós!” Cada um contribui para a vida e para o clima moral da cidade, para o bem e para o mal.

“É pelo coração de cada um de nós que passa o confim entre o bem e o mal. Nenhum de nós deve sentir-se no direito de julgar os outros; o que cada um deve sentir é o dever de melhorar-se a si mesmo! Os mass-media tendem a fazer-nos sentir sempre “espectadores”, como se o mal apenas dissesse respeito aos outros, e certas coisas nunca nos pudessem acontecer a nós. Na realidade, somos todos “actores”, e – tanto no bem como no mal – o nosso comportamento tem um influxo sobre os outros”.

O problema da poluição na cidade – observou o Papa – vai para além do que é perceptível pelos sentidos. Existe outro inquinamento, mais perigo ainda: o do espírito, que torna os nossos rostos menos sorridentes, mais carrancudos, que nos leva a não nos cumprimentarmos, a não nos olharmos olhos nos olhos…

“A cidade é feita de rostos, mas infelizmente as dinâmicas colectivas podem levar-nos a perder a percepção da sua profundidade. Vemos tudo à superfície. As pessoas passam a ser corpos, corpos que perdem a alma, se tornam coisas, objectos sem rosto, intercambiáveis, objecto de consumo.
Maria Imaculada ajuda-nos a redescobrir e a defender a profundidade das pessoas, porque nela existe perfeita transparência da alma no corpo. É a pureza em pessoa. (…) Maria ensina-nos a abrir-nos à acção de Deus, para olhar para os outros como Ele os olha: a partir do coração. E a encará-los com misericórdia, com amor, com uma ternura infinita, especialmente os mais sós, desprezados, explorados. Onde abundou o pecado, superabundou a graça”.

E o Papa concluiu esta tocante alocução, neste dia 8 de Dezembro, solenidade da Imaculada, prestando publicamente “homenagem a todos os que, em silêncio, não com palavras mas por obras, se esforçam por praticar esta lei evangélica do amor, que faz avançar o mundo”. São muitos, também aqui em Roma – assegurou – e raramente fazem notícia.

“Homens e mulheres de todas as idades, que perceberam que não interessa condenar, lamentar-se, recriminar, mas que é preciso responder ao mal com o bem. É isso que transforma as coisas; ou melhor, transforma as pessoas e, por consequência, melhora a sociedade”.








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