Descobrir a profundidade das pessoas, respeitá-las, vê-las como Deus as vê: esta a
mensagem que a Imaculada revela à Cidade. Vibrante alocução do Papa, na Praça de Espanha,
junto da imagem da Imaculada Conceição.
“Maria Imaculada ajuda-nos a redescobrir e a defender a profundidade das pessoas,
porque nela existe perfeita transparência da alma no corpo”. “Com o seu estilo discreto,
ela dá a todos paz e esperança nos momentos felizes e tristes da existência”. “A cidade
tem necessidade de Maria, que com a sua presença nos fala de Deus, nos recorda a vitória
da Graça sobre o pecado, e nos leva a esperar também nas situações humanamente mais
difíceis”. Reflexões de Bento XVI, na alocução que pronunciou nesta terça-feira
à tarde, na Praça de Espanha, em Roma, onde se deslocou para, segunda a tradição,
depor uma coroa de flores na imagem de Nossa Senhora, confiando-lhe a Cidade e o mundo
inteiro.
“Que diz Maria à cidade? O que é que recorda com a sua presença?”
– interrogou-se o Papa, que logo respondeu:
“Ela recorda que onde abundou
o pecado, superabundou a graça – como escreve o apóstolo Paulo. Ela é a Mãe Imaculada,
que repete também aos homens do nosso tempo: Não tenhais medo, Jesus venceu o mal;
venceu-o pela raiz, libertando-nos do seu domínio”.
Bento XVI sublinhou que
muito temos necessidade desta boa nova. Até porque, “dia após dia, através dos jornais,
da televisão, da rádio, o mal é-nos contado, repetido, amplificado, habituando-nos
a ver as coisas mais horríveis, fazendo-nos tornar insensíveis e, de alguma maneira,
intoxicando-nos, porque não se consegue diluir plenamente o negativo, que assim se
vai acumulando. Endurece-se o coração, obscurecem-se os pensamentos”.
“É por
isso que a cidade tem necessidade de Maria, que com a sua presença nos fala de Deus,
nos recorda a vitória da Graça sobre o pecado, e nos leva a esperar, mesmo nas situações
humanamente mais difíceis”.
Numa discreta alusão a casos muito falados em
Itália, nomeadamente em Roma, nas últimas semanas, observou o Papa : “Na cidade vivem
– ou sobrevivem – pessoas invisíveis, que por vezes saltam para as primeiras páginas
ou para os telejornais, passando a ser exploradas ao máximo, enquanto a notícia e
a imagem conseguem prender a atenção. É um mecanismo perverso, ao qual infelizmente
muito a custo se resiste”.
“A cidade primeiro esconde e depois expõe ao público.
Sem piedade, ou com uma falsa piedade. Ora, existe no coração de cada homem o desejo
de ser acolhido como pessoa e considerado uma realidade sagrada, porque cada história
humana é uma história sagrada e exige o máximo respeito”.
Bento XVI fez notar
que “a cidade somos todos nós!” Cada um contribui para a vida e para o clima moral
da cidade, para o bem e para o mal.
“É pelo coração de cada um de nós que
passa o confim entre o bem e o mal. Nenhum de nós deve sentir-se no direito de julgar
os outros; o que cada um deve sentir é o dever de melhorar-se a si mesmo! Os mass-media
tendem a fazer-nos sentir sempre “espectadores”, como se o mal apenas dissesse respeito
aos outros, e certas coisas nunca nos pudessem acontecer a nós. Na realidade, somos
todos “actores”, e – tanto no bem como no mal – o nosso comportamento tem um influxo
sobre os outros”.
O problema da poluição na cidade – observou o Papa – vai
para além do que é perceptível pelos sentidos. Existe outro inquinamento, mais perigo
ainda: o do espírito, que torna os nossos rostos menos sorridentes, mais carrancudos,
que nos leva a não nos cumprimentarmos, a não nos olharmos olhos nos olhos…
“A
cidade é feita de rostos, mas infelizmente as dinâmicas colectivas podem levar-nos
a perder a percepção da sua profundidade. Vemos tudo à superfície. As pessoas passam
a ser corpos, corpos que perdem a alma, se tornam coisas, objectos sem rosto, intercambiáveis,
objecto de consumo. Maria Imaculada ajuda-nos a redescobrir e a defender a profundidade
das pessoas, porque nela existe perfeita transparência da alma no corpo. É a pureza
em pessoa. (…) Maria ensina-nos a abrir-nos à acção de Deus, para olhar para os outros
como Ele os olha: a partir do coração. E a encará-los com misericórdia, com amor,
com uma ternura infinita, especialmente os mais sós, desprezados, explorados. Onde
abundou o pecado, superabundou a graça”.
E o Papa concluiu esta tocante
alocução, neste dia 8 de Dezembro, solenidade da Imaculada, prestando publicamente
“homenagem a todos os que, em silêncio, não com palavras mas por obras, se esforçam
por praticar esta lei evangélica do amor, que faz avançar o mundo”. São muitos, também
aqui em Roma – assegurou – e raramente fazem notícia.
“Homens e mulheres de
todas as idades, que perceberam que não interessa condenar, lamentar-se, recriminar,
mas que é preciso responder ao mal com o bem. É isso que transforma as coisas; ou
melhor, transforma as pessoas e, por consequência, melhora a sociedade”.