Perante as divisões trazidas pela teologia da libertação, redescobrir o valor fundamental
da unidade entre Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja: Bento XVI
aos bispos brasileiros dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul
(5/12/2009) O Papa Bento XVI recebeu hoje no Vaticano os bispos da região sul 4 da
conferencia nacional dos bispos do Brasil que nestes dias efectuam a sua visita ad
limina. São os bispos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul Nestes dois estados brasileiros
há 28 dioceses. No discurso que lhes dirigiu o Santo Padre falou sobretudo da universidade
e da escola, fazendo votos de que, numa convicta sinergia com as famílias e com a
comunidade eclesial, ela possa promover aquela unidade entre fé, cultura e vida que
constitui a finalidade fundamental da educação cristã. Bento XVI salientou que
as escolas estatais podem ser ajudadas na sua tarefa educativa pela presença de professores
crentes e de alunos formados cristãmente, assim como pela colaboração das famílias
e pela própria comunidade cristã. Efectivamente, uma sadia laicidade da escola não
implica a negação da transcendência, nem uma mera neutralidade face àqueles requisitos
e valores morais que se encontram na base de uma autêntica formação da pessoa, incluindo
a educação religiosa. E a este propósito salientou: “A escola católica não
pode ser pensada nem vive separada das outras instituições educativas. Está ao serviço
da sociedade: desempenha uma função pública e um serviço de pública utilidade, não
reservado apenas aos católicos, mas aberto a todos os que queiram usufruir de uma
proposta educativa qualificada. O problema da sua paridade jurídica e económica com
a escola estatal só poderá ser correctamente impostado se partirmos do reconhecimento
do papel primário das famílias e subsidiário das outras instituições educativas.” Falando depois das universidades o Papa recordou que a Igreja foi sempre
solidária com a universidade e com a sua vocação de conduzir o homem aos mais altos
níveis do conhecimento da verdade e do domínio do mundo em todos os seus aspectos. E
depois de ter recordado os 25 anos da instrução Libertatis nuntius da Congregação
para a Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando
o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos de teses e
metodologias provenientes do marxismo, Bento XVI salientou: “As suas sequelas
mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso , ofensa, anarquia fazem-se
sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave
perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos
e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação,
que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que
a mesma oferece de mão estendida; a todos recordo que «a regra suprema da fé [da Igreja]
provém efetivamente da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição,
a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não
podem subsistir de maneira independente» (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 55).
Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em
nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim
à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz.” Precedentemente
o Santo Padre fora saudado pelo Presidente do Regional sul 4 o arcebispo de Florianópolis
D. Maurilo Krieger. Que falou do que os bispos trouxeram a Roma e do que esperam levar: “Num
mundo marcado pelo relativismo e individualismo, nossos desafios se multiplicam. Por
isso, trazemos o desejo de, com o sucessor de Pedro, rezar por nossas famílias, comunidades
de vida e de amor; por nossos jovens que, como Vossa Santidade nos lembrou em sua
Visita ao Brasil, são "o presente jovem da Igreja e da humanidade" (Encontro com os
Jovens no Pacaembu, 10.05.2007); por nossas crianças, que são o maior patrimônio de
nossas dioceses; e por nossos doentes, sobre os quais pousa o olhar carinhoso de Cristo. O
que esperamos levar? Nossas Igrejas Particulares nos acompanham nesta visita, com
suas orações, e esperam receber vossa bênção de pai. Esperamos levar-lhes vossa palavra
amiga e orientadora, sabendo, de antemão, que, nesses encontros com os regionais do
Brasil, cada mensagem que Vossa Santidade transmite é dirigida a todos os brasileiros.
Esperamos levar um coração renovado, para realizar com alegria, cada dia, a grande
tarefa da Igreja, "de custodiar e alimentar a fé do Povo de Deus" (Bento XVI, Abertura
da Conferência de Aparecida, 13.05.09). Esperamos, sobretudo, levar a presença de
Cristo, que se torna realidade neste nosso encontro. Para isso, contamos com a intercessão
da Mãe de Jesus, invocada em nosso país com o título de Nossa Senhora Aparecida”.