A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO – REALIZAÇÃO DO PLANO DIVINO
Juiz de Fora, 02 dez (RV) - O começo do Ano Litúrgico, como igualmente, dentro
de mais uns trinta dias, do Ano Civil, convida-nos a uma reflexão sobre a existência
do homem sobre a terra e sobre o plano divino, tanto da nossa criação e presença no
mundo, como, sobretudo da sua Providência que coloca nas mãos de nossa liberdade,
o destino eterno.
Para nós, que vivemos no hemisfério sul, fica, talvez, um
pouco difícil entender a cronologia que situa estas datas nestes meses de dezembro
e janeiro, quando vivemos em pleno verão, de dias de calor escaldante e tempestades.
Não assim para povos do hemisfério norte, cuja cultura herdamos. No frio rigoroso
do inverno, desejava-se, ardentemente, o sol. Os dias escuros e as noites que adentravam
pelo dia lembravam o caos, "a terra vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo". (Gn.
1,2)
Celebrava-se então o início da vida, o retorno do sol, depois da noite
mais longa do ano, que iria refletir nos dias dos meses seguintes, na primavera, no
verão e na colheita dos frutos.
Assim o nosso Ano Litúrgico, na profundidade
da noite, quando a Mão de Deus nos arrancou do nada e tudo destruímos pelo pecado,
Ele fez luzir para nós a esperança, no Filho da Mulher, dando-nos a entrever a vitória
da humanidade sobre a serpente (Gn. 3,15)
E à luz desta esperança,
sempre de alguma forma presente entre todos os povos, caminhou a humanidade na construção
do mundo. Abraão acreditou na transcendência e na Palavra. Esta fé se firmou no meio
de um povo, sempre reanimada pelos patriarcas e profetas até atingir a plenitude dos
tempos.
Desceu, então, dos céus o Filho de Deus, o Desejado das colinas eternas
e, num mistério de amor inefável, assumiu a natureza humana no seio de Maria.
Ela
nô-lo anuncia, cantando as maravilhas de Deus, que "socorreu Israel, seu servo lembrado
de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais em favor de Abraão e de sua
descendência para sempre" (Lc. 1,54).
É o que celebramos na alegria deste
tempo do Natal, precedido pelos quatro domingos do Advento, de espera do Senhor.
Segue a Liturgia. Contraditado pelo orgulho dos homens, Ele cresceu, "estabelecido
como luz das nações a fim de que minha salvação chegue até as extremidades da terra"
(Is. 49, 6). Na primavera, quando germinam as plantas e a natureza está em festa,
no terceiro dia, surge, ressuscitado o Cristo, espancando com a sua Luz as trevas
da morte. É a Páscoa.
É o Homem Novo que enche com sua presença todo o universo,
santificando todas as coisas, o Primogênito de toda a criatura e em quem tudo é conciliado
para a glória de Deus.(Col. 1,15-20)
Na liturgia do tempo subsequente, que
chamamos de "tempo comum", comemoramos todos aqueles que conformaram sua vida com
a dele, especialmente Aquela que antecipou-nos a todos, sendo glorificada em corpo
e alma por Aquele que a criou e pela qual, em seu Filho, se tornou participante de
nossa humanidade.
O tempo do Advento deve nos preparar para que deixemos esta
história da salvação impregnar-se em nós. A vinda de Cristo no tempo já se deu. Mas
na história da salvação ela sempre é atual. Vivemos em nós e nos dias de hoje, a presença
de Deus em seu Cristo. Como na origem, o Espírito de Deus pairava sobre as águas,
O Espírito Santo está agindo em nós e na história até a plena glorificação do universo.
Aguardando este Dia, quando o Cristo virá na sua glória, repitamos, em humilde
súplica: "Vem, Senhor Jesus" (Ap. 22,20.)