2009-12-01 19:05:10

BENTO XVI: SEM SENTIR-SE PEQUENO NÃO É POSSÍVEL NENHUMA COMPREENSÃO SOBRE DEUS


Cidade do Vaticano, 1º dez (RV) - O verdadeiro teólogo é alguém que não cede à tentação de com a sua inteligência medir o mistério de Deus, mas é alguém que tem consciência da própria limitação, como muitos grandes santos reconhecidos também como grandes mestres. Foi esse, em síntese, o pensamento expresso por Bento XVI na homilia da missa celebrada esta manhã com os membros da Comissão Teológica Internacional, desde ontem, segunda-feira, reunidos no Vaticano em sua plenária anual.

Bento XVI vê nos antigos escribas que indicam aos Magos o caminho para Belém, para o Senhor Deus Menino, o protótipo do teólogo presunçoso que estuda a Sagrada Escritura como certos cientistas estudam a natureza, ou seja, com uma frieza acadêmica que pretende secionar o mistério e ignora a centelha do transcendente.

De fato – observou o papa – os antigos escribas são "grandes especialistas: podem dizer onde nasce o Messias", mas "não se sentem convidados" a visitá-lo. A notícia "não atinge as suas vidas, permanecem fora. Podem dar informações, mas a informação não se torna formação da própria vida":

"E assim também em nosso tempo, nos últimos duzentos anos, observamos a mesma coisa. Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, mestres da fé que nos ensinaram muitas coisas. Conheceram os detalhes da Sagrada Escritura, da história da salvação. Mas não conseguiram ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo: que este Jesus era realmente Filho de Deus (...) Poder-se-ia citar grandes nomes da história da teologia destes duzentos anos, dos quais aprendemos muito, mas os olhos de seu coração não se abriram ao mistério."

O Santo Padre mostra-se severo com esse modo de fazer teologia, com esse modo que – afirma o pontífice – "se coloca acima de Deus". Como é igualmente severo com os cientistas que adotam um método no qual "Deus não entra" e, portanto, "não existe" – disse. Mostra-se ainda mais severo com uma certa teologia que mortifica o divino. Com uma imagem eficaz, o papa explica os defeitos dessa teologia:

"Também na teologia se pesca nas águas da Sagrada Escritura com uma rede que permite somente uma certa medida para os peixes, e quando se vai além dessa medida não entra na rede e, portanto, não pode existir. E assim o grande mistério de Jesus, do Filho que se fez homem, se reduz a um Jesus histórico, realmente uma figura trágica, um fantasma sem carne e osso, que ficou no sepulcro, corrompido, realmente morto."

Todavia – observou o pontífice, a história da Igreja é rica de homens e mulheres capazes de reconhecer a sua pequenez diante da grandeza de Deus, capazes de humildade e, portanto, de alcançar a verdade. O papa citou alguns nomes desses homens e mulheres:

"De Bernadete Soubirous a Santa Teresa de Lisieux com uma nova leitura da Sagrada Escritura, não científica, mas entrando no coração da Sagrada Escritura, até os santos e bem-aventurados do nosso tempo: irmã Bakhita, madre Teresa, Damião de Veuster. Poderíamos citar tantos deles."

Eis – prosseguiu Bento XVI – uma categoria de "pequenos que são também doutos", modelos aos quais inspirar-se para que nos ajudem "a sermos verdadeiros teólogos que podem anunciar o seu mistério porque tocados na profundidade de seus corações". Como o foram a Virgem Maria, São João, ou centurião aos pés da Cruz. Também São Paulo, que em suas vicissitudes contempla de modo emblemático a parábola da passagem da falsa à verdadeira sabedoria:

"E assim também após a sua ressurreição o Senhor, na estrada de Damasco, toca o coração de Saulo, que é um dos doutos que não veem. Ele mesmo, na primeira carta a Timóteo, se chama ignorante naquele tempo, apesar da sua ciência. Mas o ressuscitado o toca. Torna-se cego e depois realmente passa a ver. E o grande douto torna-se pequeno e justamente assim vê a loucura de Deus que é sabedoria, sabedoria maior do que todas as sabedorias humanas."

Os trabalhos da Comissão Teológica Internacional, presidida pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal William Josef Levada, prosseguirão no Vaticano até a próxima sexta-feira, dia 4.

Nesta primeira sessão do novo quinquênio, a Comissão decidirá os temas a serem tratados nos próximos cinco anos e a organização concreta dos trabalhos. Entre os temas a serem considerados figura a questão da metodologia teológica. (RL)







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